Portugal regista descida de casos e de óbitos e está num caminho diferente do da Europa

De uma semana para a outra, o país deixou a tendência de subida de casos, estabilizou e, nos últimos dias, já regista "uma ligeira redução em todos os indicadores em todas as regiões", explica o professor Carlos Antunes. , da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa. Isto quer dizer que "estamos num caminho diferente do de outros países da Europa".
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A subida abrupta de casos de covid-19, e posterior subida de internamentos, na semana a seguir ao Carnaval já está diluída. Esta semana - e recorde-se que a avaliação da doença agora é feita de sete em sete dias, com a divulgação de dados à sexta-feira, pela Direção-Geral da Saúde - o país registou uma média diária da ordem dos 11 400 casos, quando na semana passada atingiu uma média diária de 11 900, embora tenha tido um dia com um pico de 12 300.

Segundo o professor Carlos Antunes, da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, que integra a equipa que desde o início da pandemia faz a modelação da evolução da covid-19, "estes dados confirmam que não estamos a viver mais uma vaga ou pequena onda epidémica da doença. Em poucos dias o país teve uma subida abrupta, mas rapidamente estabilizou e já está a registar uma ligeira diminuição de casos, de internamentos, da incidência e do R(t)".

Carlos Antunes justifica que a subida abrupta na semana a seguir ao Carnaval, que coincidiu também com o levantamento de mais algumas restrições, levando a estimar-se que se pudesse estar a iniciar nova onda epidémica, foi provocada pelo aumento de casos em duas faixas etárias dos jovens, dos 10 aos 19 anos e dos 20 aos 29 anos. "Foi uma subida abrupta, mas muito específica em relação às faixas etárias e às regiões". Aliás, pode mesmo dizer-se que só as regiões de Lisboa e Vale do Tejo e do Norte foram responsáveis pela subida abrupta". Sobretudo, sublinha, Lisboa e Vale do Tejo, que passou de 3000 casos diários para 4900 numa semana. Nas outras regiões, não se sentiu uma subida significativa", explica. Mas alerta: "O único indicador que ainda continua acima da linha vermelha é o da letalidade, mas no qual também se começa a registar uma descida."

De acordo com os dados da equipa da Faculdade de Ciências, Portugal registou nesta semana, até ao dia 17, 25 óbitos por milhão de habitante, o que é menos do que na semana anterior em que esta percentagem rondava os 33 óbitos por milhão. Carlos Antunes diz que que "podemos atingir mesmo os 20 óbitos em quatro a cinco dias".

Destaquedestaque"Estamos a fazer um caminho em que, mesmo que tenhamos um aumento de casos, que, normalmente, é na população mais jovem, terá pouco impacto, não correspondendo à realidade que se observa no resto da Europa. E isto dá-nos alguma segurança".

Esta situação leva o professor a defender que Portugal está a fazer "um caminho seguro", podendo avançar para o fim das restrições que ainda faltam, como o fim da obrigatoriedade do uso de máscara em espaços fechados, no tempo previsto, início de abril. "Mesmo que, nesta altura, possa haver um aumento de casos, penso que não será suficiente para pressionar os serviços de saúde". Até porque, justifica, "ao fim de dois anos de pandemia, a população já mostrou que tem perceção do risco, quando há um aumento de casos modera a sua exposição. Isso viu-se agora também a seguir ao Carnaval. E é o que importa para se avançar".

O único risco que continuamos a ter e com o qual devemos manter-nos alerta é aquele a que está sujeita a população maior de 65 anos. "Continua a haver uma incidência elevada nestas faixas etárias, havendo uma grande percentagem de pessoas que tem estado menos exposta ao vírus, sendo a sua imunidade natural muito baixa".

Portanto, "apesar de o risco de doença grave e de internamento ser muito menor do que há um ano, este continua a existir e temos de manter cuidados reforçados", argumenta ao DN. Contudo, sublinha, "isto não impede que a sociedade em geral não possa continuar a tendência de reduzir as medidas de proteção e de desconfinar".

Para Carlos Antunes, e embora alguns especialistas já tenham vindo dizer que a onda que se advinha na Europa deve fazer o país repensar se se deve avançar para o fim total das restrições, o Governo deve avançar com esta decisão, "porque, neste momento, todos os indicadores apontam para que essa libertação seja possível", aconselhando, no entanto, às autoridades de saúde que façam a recomendação do uso de máscara em espaços fechados para os grupos acima dos 65 anos, "serão sempre os mais suscetíveis e vulneráveis".

Perante a situação atual, o professor de Ciências discorda que Portugal esteja a fazer o mesmo caminho de outros países da Europa Central ou do Norte e até mesmo que França ou Itália. "Há uma diferença significativa relativamente a esses países que tem a ver com a nossa taxa de cobertura vacinal. Nós temos uma cobertura de 91% e esses países de 70% a 77%, é muito inferior à nossa. Por outro lado, a vaga que tivemos em janeiro imunizou grande parte da população jovem, onde, normalmente, o vírus se propaga mais. E tudo isto nos dá garantias de que temos um nível de proteção mais elevado do que esses países".

Neste momento, o país mantém uma média diária de mais de 11 mil casos, uma taxa de internamentos da ordem dos 24% e uma taxa de letalidade a descer, o que quer dizer que "estamos a fazer um caminho em que, mesmo que tenhamos um aumento de casos, que, normalmente, é na população mais jovem, terá pouco impacto, não correspondendo à realidade do resto da Europa. E isso dá-nos alguma segurança", concluiu.


Portugal registou na semanas de 8 a 14 de março 78 464 casos de covid-19, menos 811 do que na semana anterior, revela o boletim semanal da DGS, publicado ontem. A incidência está nos 762 casos por 100 mil habitantes, menos 1% do que há uma semana. O R (t) em 1.02, ligeiramente acima (0.99), mas com tendência a descer. O total de internados foi de 1140, menos 85 do que na semana anterior, dos quais 66 em cuidados intensivos, também menos 12. O total de óbitos foi 123, menos 39 do que no período anterior.

O relatório de Linhas Vermelhas, também publicado ontem pela DGS e INSA, revela que a transmissibilidade da covid-19 se mantém elevada, mas com tendência estável, devendo manter-se vigilância e proteção individual nos grupos de risco, podendo vir a registar-se, nos próximos dias, um aumento do número de casos na população acima dos 65 anos.

A linhagem BA.2 da variante Omicron é claramente dominante em Portugal, estimando-se uma frequência relativa de 82% à data de 14 de março de 2022. A linhagem BA.1 da variante Omicron regista uma frequência relativa estimada de 18% à data de 14 de março de 2022, com tendência decrescente.

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