Portugal já falou com a Alemanha para possível apoio hospitalar

Embaixada da Alemanha em Lisboa confirma diálogo entre Lisboa e Berlim sobre possível apoio. Fonte do Ministério da Defesa diz que ajuda em estudo é relativa a doentes não-covid que precisem de cuidados intensivos
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Os governos português e alemão estão a avaliar a possibilidade de transferência para a Alemanha de alguns doentes não-covid que precisem de cuidados intensivos, a fim de libertar camas, disse à Lusa fonte da Defesa.

De acordo com a mesma fonte, o apoio que a Alemanha poderá vir a fornecer a Portugal no quadro da atual pandemia não deverá passar pelos recursos humanos, que é o aspeto essencial de que precisa o sistema de saúde português para fazer face à atual situação da pandemia.

A equipa de médicos militares que esteve ontem e hoje em Portugal para auscultar as eventuais necessidades do país que pudessem ser supridas pela cooperação alemã vinha sobretudo preparada para fornecer ajuda de meios e ou equipamentos.

Esse tipo de ajuda não está posto de parte, sendo que os domínios concretos de cooperação deverão a partir de agora ser coordenados entre os dois governos.

A Embaixada da Alemanha em Lisboa confirmou esta quarta-feira que está em curso "um diálogo" entre os Governos alemão e português sobre "um possível apoio alemão" aos esforços de Portugal para ultrapassar a atual crise sanitária da covid-19.

"A Embaixada da Alemanha em Lisboa confirma que existe um diálogo em curso entre os Governos alemão e português no que diz respeito a um possível apoio alemão aos esforços portugueses para ultrapassar a atual crise sanitária", indicou fonte oficial da representação diplomática alemã na capital portuguesa numa breve declaração por escrito, após ter sido questionada pela Lusa sobre uma eventual ajuda por parte da Alemanha a Portugal no atual contexto da crise pandémica.

A mesma nota acrescentou que "a decisão sobre as áreas concretas de cooperação será tomada em estreita coordenação entre os dois Governos".

Em Portugal, morreram 11 305 pessoas dos 668 951 casos de infeção pelo novo coronavírus confirmados, de acordo com o boletim mais recente da Direção-Geral da Saúde (DGS).

Numa entrevista dada na segunda-feira à RTP, a ministra da Saúde, Marta Temido, afirmou que o Governo estava a "acionar todos os mecanismos" à sua disposição a nível internacional, face à situação da pandemia, com o objetivo de garantir a melhor assistência aos doentes de covid-19.

Foi conhecido no dia seguinte que a Câmara de Torres Vedras tinha solicitado ao ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, a ativação de ajuda internacional para reforçar o hospital local com cinco médicos e 10 enfermeiros face à evolução da pandemia da doença covid-19 naquele concelho.

Esta quarta-feira de manhã, o secretário de Estado Adjunto e da Saúde, António Lacerda Sales, admitiu a necessidade de gente e de material, indicando que o recurso ao mecanismo de cooperação europeu para apoiar no combate à pandemia estava a ser equacionado pelo Governo português, mas que ainda não tinha sido "formalizado completamente".

"Esse mecanismo ainda não foi formalizado completamente mas está a ser equacionado, no sistema de cooperação europeu", disse António Lacerda Sales, quando questionado pela Lusa se Portugal já recorreu a ajuda europeia para fazer face à pandemia de covid-19.

O membro do Governo reconheceu que a área dos recursos humanos na saúde "é sempre uma área difícil" para Portugal, admitindo que possa haver recurso à cooperação internacional.

Um pequeno grupo de médicos militares alemães esteve esta quarta-feira no Hospital Amadora-Sintra para avaliar o possível auxílio às unidades hospitalares da área metropolitana de Lisboa em termos logísticos e de equipamento no combate à pandemia de covid-19.

Segundo fonte oficial do Hospital Amadora-Sintra, a visita teve contornos de "missão diplomática", consistindo numa reunião de pelo menos dois médicos militares alemães - que "vieram como representantes institucionais do governo e não na qualidade de médicos" - com um médico daquela unidade e a Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo (ARSLVT). Não estiveram presentes elementos do conselho de administração.

"Foi uma curta reunião para aferir rapidamente em que é que o Estado alemão poderia vir a auxiliar os hospitais da grande Lisboa em termos logísticos e de equipamento, nunca de recursos humanos. Não foi uma reunião de trabalho, foi quase de apresentação", adiantou a mesma fonte, acrescentando: "Foi uma abordagem genérica à cooperação que os dois estados possam vir a instituir nas próximas semanas para o combate à pandemia nesta região".

Os médicos militares germânicos nem terão chegado a visitar áreas de assistência a doentes covid no Hospital Amadora-Sintra, a unidade com mais pacientes internados devido à infeção pelo vírus SARS-CoV-2 na região de Lisboa e Vale do Tejo (363 à data de terça-feira). A visita àquela unidade foi avançada esta quarta-feira pela SIC, que revelou que os enviados alemães ainda irão passar por outros hospitais.

O Hospital Amadora-Sintra sofreu "um conjunto de constrangimentos na rede de fornecimento de oxigénio medicinal" na noite de terça-feira, que obrigou à transferência de 53 doentes para outras unidades. Já esta quarta-feira, a unidade hospitalar anunciou que iria abrir uma enfermaria com médicos e doentes no Hospital da Luz.

O recurso de Portugal ao mecanismo de cooperação europeu para apoiar no combate à pandemia está a ser equacionado pelo governo português. Em resposta enviada a uma questão da Lusa, o Ministério da Saúde vincou que "todas as hipóteses estão a ser consideradas no sentido de continuar a assegurar os cuidados de saúde aos portugueses" e que "os mecanismos de cooperação europeia são obviamente uma possibilidade".

O secretário de Estado Adjunto e da Saúde, António Lacerda Sales, reconheceu esta quarta-feira que "esse mecanismo ainda não foi formalizado completamente, mas está a ser equacionado, no sistema de cooperação europeu", após uma visita a uma estrutura de retaguarda de combate à covid-19, instalada no Hospital Militar de Coimbra.

"Enquanto formos tendo respostas e capacidade de responder às necessidades dos portugueses, vamos respondendo. Obviamente que equacionamos cenários e planeamos sempre a possibilidade de acionar mecanismos de cooperação europeu", disse o governante, admitindo que os recursos humanos na saúde "é sempre uma área difícil" para Portugal.

A pandemia da doença covid-19 já provocou pelo menos 2.159.155 mortos resultantes de mais de 100 milhões de casos de infeção em todo o mundo, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.

A doença é transmitida por um novo coronavírus (SARS-Cov-2) detetado no final de dezembro de 2019, em Wuhan, uma cidade do centro da China.

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