Portugal integra aliança anticarvão e fecha Sines e Pego até 2030

Conferência do clima chega ao fim em Bona com trabalho feito, mas 2018 será ano de negociações duras, para a COP 24 poder ser um sucesso

Portugal assinou ontem em Bona, no âmbito da conferência do clima que hoje chega ao fim, uma declaração com outros 24 países, regiões e cidades que assume o compromisso de pôr fim, até 2030, às centrais de produção de energia elétrica a carvão. O ministro do Ambiente, João Matos Fernandes, admitiu que as duas centrais deste tipo no país, a de Sines e a do Pego, que são responsáveis por cerca de 20% das emissões de gases com efeito de estufa de Portugal, podem encerrar ainda antes dessa data.

Esse é, aliás, o objetivo dos ambientalistas da associação ZERO, que defendem que as duas centrais que ocupam, justamente, os dois primeiros lugares no top dos equipamentos mais poluidores no país "devem ser encerradas em 2025 ou mesmo antes".

"É muito positiva a decisão anunciada pelo ministro do Ambiente, mas pensamos que é desejável encerrar as duas centrais em 2025, ou antes", afirmou ao DN o presidente da Zero, que acompanha a conferência, a COP 23.

Para o dirigente ambientalista e professor da Universidade Nova de Lisboa, "é possível, tanto do ponto de vista técnico como económico", apontar 2025 como a data para fechar as duas centrais. "Dispomos de um prazo de sete anos para fazer investimentos nas energias renováveis, nomeadamente no solar, capazes de contrabalançar a perda das duas centrais termoelétricas", sublinha Francisco Ferreira.

A declaração dos 25 para pôr fim ao carvão foi assinada, entre outros países, pelo Canadá, Reino Unido, Angola ou México, além de Portugal, por regiões como os estados de Ontário ou Quebeque e ainda por cidades como Washington, a capital do país de Trump, o presidente que optou pela saída dos EUA do Acordo de Paris.

Apesar da baixa de peso que é a saída dos Estados Unidos, tudo indica que a COP 23, que hoje chega ao fim, vai deixar já alinhavados os principais dossiês do Acordo de Paris, para que possam ser finalizados e aprovados na próxima conferência do clima (a COP 24), que terá lugar na Polónia, dentro de um ano.

Por outro lado, e embora à margem da posição oficial do seu país, inúmeros estados, empresas e organizações dos EUA, que em conjunto representam cerca de 40% da economia do país, fizeram questão de estar presentes na conferência de Bona, mostrando que estão com o Acordo de Paris. A decisão da cidade que é a capital dos EUA, de ser uma das signatárias da declaração anticarvão ontem firmada, é o melhor exemplo da força que tem este movimento contrário à política climática de Donald Trump.

Conferência "de transição", como a classifica Francisco Ferreira, a COP 23 tinha por objetivo avançar o mais possível as negociações climáticas para que dentro de um ano o Acordo de Paris possa ser finalizado enquanto documento operacional: a ideia é garantir nas próximas décadas o corte global de emissões necessário para que o aumento da temperatura do planeta não exceda os 1,5 graus - no máximo dois - até ao final do século, em relação aos valores da era pré-industrial.

Em Bona esteve em discussão o chamado livro de regras do Acordo de Paris, que regulamentará, entre outros, a monitorização das emissões por parte dos países, o mercado voluntário de carbono e os mecanismos e as verbas para adaptação às alterações climáticas e compensações por danos causados por fenómenos extremos. O esboço do documento ainda tem negociações duras pela frente, sobretudo no que toca a verbas, mas já existe.

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