Portugal e Espanha têm "condições únicas" para vingar na mobilidade sustentável

Quem o garante é Juan Francisco Carrasco, conselheiro da Embaixada de Espanha em Lisboa, onde foi esta tarde apresentado o evento Global Mobility Call. A cimeira acontece em Madrid entre 14 e 16 de junho.
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Atingir a neutralidade carbónica é um desígnio comum a todos os Estados-membros da União Europeia. Portugal foi dos primeiros a chegar-se à frente e a assumir o compromisso de lá chegar até 2050. Contudo, especialistas e associações do setor defendem ser necessário que o país reforce a aposta em incentivos à troca de automóveis a combustão, mas também na infraestrutura de carregamentos elétricos que suporte essa transição. "Não vamos poder ter 100% de carros elétricos [nas estradas] até porque não há infraestrutura para isso", avisa a especialista em energia Sofia Tenreiro. A também investidora foi uma das participantes no debate "Mobilidade sustentável, a grande aceleradora verde", que se seguiu à apresentação pública do certame Global Mobility Call, que decorrerá em Madrid entre 14 e 16 de junho.

Neste evento organizado pela IFEMA Madrid, o objetivo será promover a discussão em torno do "futuro desafiante" que aí vem. Esse futuro será pintado de cidades mais verdes, menos congestionadas e progressivamente mais inteligentes, acredita o conselheiro da Embaixada de Espanha em Lisboa, Juan Francisco Carrasco. "Temos recursos, temos muito dinheiro, e planos para os aproveitar da melhor forma possível", garantiu perante uma plateia de empresários portugueses ligados ao setor. Para o responsável, esta pode ser uma "grande oportunidade para a Península Ibérica" vingar na mobilidade sustentável, aproveitando os fundos comunitários disponíveis e aplicando, da melhor forma possível, os planos de recuperação e resiliência nacionais.

As "condições únicas" de Portugal e Espanha vão além da proximidade geográfica e histórica, incluindo uma "indústria automóvel de primeiro nível", energias renováveis e "reservas de lítio" que, acredita, não devem ser desperdiçadas nesta transição. "Impulsionar esta nova economia vai ser muito relevante no relançamento económico", afirmou.

Todas estas razões justificam, no entender de Eduardo López-Puertas, o aparecimento da primeira edição do Global Mobility Call. O diretor-geral da IFEMA Madrid e responsável pela organização do certame acredita que a mobilidade sustentável "tem o potencial de transformar milhões de pessoas, empresas, setores e países" para melhor. Para isso, porém, será fundamental "explorar novas tecnologias inspiradoras, novos modelos de negócio e novas cadeias de valor". Tudo isto estará presente no evento espanhol, que contará com cerca de 150 expositores e 250 startups ligadas à sustentabilidade, onde serão debatidas tendências, obstáculos e, sobretudo, soluções para atingir a neutralidade carbónica. "Existe pouca coesão em torno do conceito de mobilidade sustentável", afirma Eduardo López-Puertas, que deseja inverter esta realidade.

Um futuro híbrido

Carlos Barbosa, presidente do Automóvel Club de Portugal (ACP), assume-se como favorável à adesão à mobilidade sustentável, mas recusa um parque automóvel totalmente elétrico como a solução mágica que todos procuram. "A solução passa por novos combustíveis. Acho que o futuro serão os carros híbridos", defende. "As estradas nacionais não têm carregadores elétricos. Temos uma parte privada que faz ou tenta fazer, e uma parte pública que não faz rigorosamente nada", afirma, referindo-se ao exemplo da Brisa, que tem vindo a instalar estes dispositivos nas autoestradas que explora.

O CEO da Brisa, António Pires de Lima, garante que a empresa está a cumprir a sua quota-parte de responsabilidade na descarbonização da mobilidade, mas reconhece que é preciso maior investimento público nas estradas nacionais. "O grande desafio está em associarmos estes modos de cooperação entre empresas e entre o público e o privado", aponta. Por outro lado, no que respeita à vontade dos consumidores, o diretor-geral da LeasePlan, António Oliveira Martins, adianta que "existe no mercado uma curiosidade para a transição energética" que já se faz sentir na procura de veículos elétricos e híbridos plug-in. "Na nossa frota temos cerca de 4% de carros totalmente elétricos e mais ou menos 11% de híbridos plug-in", diz, acrescentando que as encomendas para 2022 duplicaram estes números - 8% de elétricos e 30% de híbridos. "É um efeito bola de neve. É quase como a propagação do vírus", brinca. A verdade, diz, é que o Estado precisa de reforçar os apoios públicos à troca de veículos a combustão por outros mais sustentáveis, até porque o parque automóvel em Portugal está demasiado envelhecido. "Quando temos uma média de parque com 13 anos significa que temos muitos carros com 20 anos e esses são os verdadeiros poluentes", acrescenta.

"Os maiores inimigos da mobilidade sustentável são os governantes e os autarcas porque fazem leis atrás de gabinetes", acusa Carlos Barbosa, que pede maior aposta nos transportes públicos de qualidade e em novas soluções de mobilidade suave nas cidades. Do lado da logística, refere Sofia Tenreiro, é preciso investir em novas soluções para a distribuição, como as "dark stores". Trata-se de pequenos armazéns instalados nas cidades para abastecer o retalho local com veículos sem emissões no last mile. "Temos de acelerar as infraestruturas", pede.

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