Portugal com o maior número de infeções diárias desde fevereiro
De acordo com o boletim epidemiológico da Direção-Geral da Saúde (DGS) desta terça-feira (29 de junho), há agora 492 pessoas hospitalizadas (menos 10 do que no dia anterior). Deste total, 119 doentes estão internados em unidades de cuidados intensivos (mais quatro do que na segunda-feira), perto da barreira dos 120 assinalada pelos especialistas.
Lisboa e Vale do Tejo volta a ter mais de metade (55,3%) dos novos casos diários, com 965, tendo também registado cinco das seis mortes divulgadas esta terça-feira. O outro óbito foi registado na região Norte, onde se contabilizam novos 361 casos da doença.
No Algarve há 180 novas infeções notificadas e na região Centro 152. Seguem-se os Açores (57), o Alentejo (30) e a Madeira (11).
De acordo com os dados divulgados pela DGS, três das mortes foram registadas na faixa etária superior a 80 anos (duas mulheres e um homem), enquanto duas (uma mulher e um homem) dizem respeito à faixa entre os 70 e os 79 anos e uma outra foi de uma mulher entre os 60 e os 69.
O número de recuperados nas últimas 24 horas foi de 1677, o que, feitas as contas, leva a que haja hoje um total de 32134 casos ativos (mais 63 do que na véspera).
O país contabiliza agora um total de 877195 casos confirmados e 17092 óbitos desde o início da pandemia.
A frequência da variante Delta do novo coronavírus aumentou de forma galopante num mês, passando de 4% em maio para 55,6% em junho, segundo o Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA).
De acordo com o mais recente relatório de situação sobre a diversidade genética do SARS-CoV-2 em Portugal, divulgado pelo INSA, a variante Delta, associada inicialmente à Índia, teve "uma subida galopante" na frequência relativa a nível nacional, mas a sua distribuição "é ainda muito heterogénea entre regiões".
Segundo o INSA, a distribuição da variante delta varia entre 3,2% (Açores) e 94,5% (Alentejo), mas, tendo em conta a tendência observada entre maio e junho, "é expectável que esta variante se torne dominante em todo território nacional durante as próximas semanas".
Do total de sequências da variante Delta analisadas até à data, 46 apresentam a mutação adicional K417N na proteína Spike, refere o instituto.
No entanto, sublinha, cerca de 50% destes casos restringem-se a apenas duas cadeias de transmissão de âmbito local, o que sugere que a sua circulação comunitária é ainda limitada, sendo a frequência relativa deste perfil (Delta+K417N) na amostragem nacional de junho de 2,3%.
De acordo com o relatório, entre as novas sequências analisadas, a variante Alpha (B.1.1.7), associada inicialmente ao Reino Unido, foi detetada por sequenciação com uma frequência relativa de 40,2% na amostragem nacional de junho, evidenciando uma forte redução de frequência a nível nacional (88,4% em maio).
Contudo, explica o INSA, "esta variante [Alpha] é ainda a mais prevalente na região Norte (62,7%) e nas regiões autónomas dos Açores (96,8%) e Madeira (69,8%)".
O relatório do Instituto Ricardo Jorge dá ainda conta de que a frequência relativa das variantes Beta (B.1.351) e Gamma (P.1) mantém-se baixa, sem tendência crescente nas últimas amostragens.
"Em particular, destaca-se que a variante Beta foi detetada a uma frequência de 0,1% e em apenas duas regiões (Lisboa e Vale do Tejo e Região Autónoma da Madeira)", refere.
O médico intensivista José Artur Paiva admitiu esta terça-feira que, com a variante delta, a imunidade de grupo só se deverá atingir perto dos 85% e disse que a redução da idade dos doentes internados prova a efetividade das vacinas.
Em declarações à agência Lusa, José Artur Paiva, que pertence à Comissão de Acompanhamento da Resposta Nacional em Medicina Intensiva para a COVID-19, sublinhou que o grande determinante do aumento de doentes em medicina intensiva é o aumento da transmissibilidade do vírus e que quanto mais transmissível for o vírus mais difícil é atingir a imunidade de grupo.
"Com esta variante [delta] o atingimento da imunidade grupo não se fará nos tais 70%, mas sim com valores muito perto dos 85% de imunização", disse, sublinhando a importância de conter o Rt (índice de transmissibilidade).
O especialista em medicina intensiva considera que o processo vacinal em curso "está a ser capaz de ter uma efetividade grande, que se mantém com esta variante [delta], nomeadamente de evitar formas de gravidade moderada ou intensa da doença".
José Artur Paiva recorda que a média de idade nos internamentos diminuiu "por ausência ou franca diminuição dos casos em pessoas mais idosas", frisando: "A média de idade dos doentes em medicina intensiva é de cerca de 50 anos, francamente mais baixa do que foi nas ondas anteriores".
"Como temos uma maior cobertura vacinal para pessoas com mais de 60 anos e com mais de 50 com outras doenças, e como sabemos que há efetividade das vacinas, mesmo em relação a esta variante que se está a tornar predominante, de facto, temos uma diminuição marcada dos casos graves. É essa a grande proteção que a vacina dá", afirmou, lembrando que a proteção é conferida com a vacinação completa.
No fundo, acrescentou, "temos uma diminuição marcada [dos internamentos em cuidados intensivos] nessas pessoas mais idosas e até não tão idosas, mas com comorbilidades, e a manutenção de casos com pessoas mais jovens, que sempre existiram".
José Artur Paiva lembra que com variantes mais transmissíveis, "como um determinado percentual dos casos será sempre grave, o número de hospitalizações e de internados em medicina intensiva fatalmente aumenta". Contudo, insistiu, "aumenta menos do que aumentaria se não tivéssemos um processo vacinal em curso relativamente avançado".
Sobre o tempo médio de internamento destes doentes, o especialista diz que "ainda é cedo" para tirar conclusões: "Vai ser muito heterogénea. (...) Há casos que respondem rapidamente a formas não invasivas de ventilação e, com poucos dias de estadia, saem. Mas também temos casos que precisam de suportes mais invasivos, até ECMO, e podem ficar muito tempo".
Recorda que o vírus que provoca a covid-19, como qualquer vírus, "vai sempre adaptar-se e criar maneira de fazer mutações para se tornar mais transmissível".
"Eles precisam das células do hospedeiro e o interesse do vírus não é tornar-se mais agressivo e matar o hospedeiro, mas tornar-se mais transmissível", acrescentou o especialista, que pertence à direção do colégio da especialidade de Medicina Intensiva da Ordem dos Médicos.
Além do controlo do fator de transmissibilidade e do avanço do processo de vacinação, concluindo-a nas pessoas mais idosas, vulneráveis e com comorbilidades, e avançando depois para os mais jovens, o responsável aponta a necessidade de manter os comportamentos que evitam a transmissão, como o uso de máscara, o distanciamento físico, a desinfeção das mãos e o evitar de agrupamentos de pessoas. "Isto não quer dizer confinar novamente. Quer dizer saber viver, mas com estes cuidados".