Um morto num dia em que o R(t) e a incidência voltaram a subir
Portugal registou nas últimas 24 horas mais 519 casos e uma morte por covid-19, segundo os dados do boletim epidemiológico da Direção-Geral da Saúde (DGS) desta sexta-feira, 11 de junho.
Nesta altura estão hospitalizadas 306 pessoas, ou seja, menos 11 do que na quinta-feira. Há 72 doentes em cuidados intensivos, número igual ao da véspera.
Há neste momento mais 223 casos ativos, entre um total de 24 589, e mais 295 recuperados, entre 814 318 pessoas que já ultrapassaram a doença.
A região de Lisboa e Vale do Tejo continua a contabilizar mais do dobro dos novos casos relativamente ao resto do território, com o registo de 274 novas infeções, e um morto; seguida da região norte com 148, a região centro com 21, a do Alentejo 20 e do Algarve 22.
No arquipélago dos Açores há mais 37 pessoas infetadas e na região autónoma da Madeira não há registo de novos casos de covid-19.
O R(t) subiu a nível nacional para 1,07 (era de 1,05) e a incidência da doença também para 79,3 casos por 100 mil habitantes (era de 74,8)
As novas medidas tomadas pelo Governo no âmbito da nova fase de desconfinamento entraram em vigor na quinta-feira, tendo sido antecipadas em relação ao dia que estava previsto, que era segunda-feira, segundo uma resolução publicada em Diário da República.
Assinada pela ministra de Estado e da Presidência, Mariana Guimarães Vieira da Silva, a resolução do Conselho de Ministros n.º 74-A/2021 foi publicada em 09 de junho com a indicação que "produz efeitos no dia seguinte ao da sua publicação".
O Governo decidiu assim antecipar a entrada em vigor da nova fase de desconfinamento da pandemia de covid-19 em quatro dias.
No comunicado que o Conselho de Ministros divulgou na quarta-feira, dia em que esteve reunido para decidir as novas medidas e que as divulgou, pode ler-se que "dando continuidade à estratégia de levantamento de medidas de confinamento no âmbito do combate à pandemia da doença covid-19, entram em vigor às 00:00h do próximo dia 14 de junho as seguintes medidas (...)".
Assim, desde quinta-feira que em todos os concelhos de Portugal continental, exceto nos de Braga, Lisboa, Odemira e Vale de Cambra, que não avançaram para a nova fase, o comércio pode funcionar com o horário do respetivo licenciamento; os restaurantes, cafés e pastelarias (máximo de seis pessoas no interior ou 10 pessoas em esplanadas) podem funcionar até à meia-noite para admissão de clientes e 01:00 para encerramento; e os equipamentos culturais podem funcionar até à 01:00.
Os transportes públicos podem circular com lotação de dois terços ou com a totalidade da lotação no caso de terem exclusivamente lugares sentados; a lotação para casamentos e batizados continua a estar limitada a 50% do espaço; e a prática desportiva passa a poder ter público no caso das modalidades amadoras, com lugares marcados e lotação restrita a 33% do espaço.
No transporte em táxi e semelhante, os bancos dianteiros não podem ser utilizados pelos passageiros.
Passaram a ser obrigatórios testes de diagnóstico à covid-19 para se ter acesso a eventos desportivos, culturais e familiares, incluindo casamentos e batizados.
No entanto, a obrigatoriedade dos testes em eventos familiares passa a ser feita a partir de um número de convidados que será determinado pela Direção-Geral da Saúde (DGS).
Também as empresas com mais de 150 trabalhadores no mesmo posto de trabalho têm de testar os funcionários e o teletrabalho deixou de ser obrigatório na maioria dos concelhos.
Para os quatro concelhos que permanecem na 4.ª fase do plano desconfinamento é permitido que restaurantes, cafés e pastelarias possam funcionar, quer durante a semana, quer aos fins de semana, até às 22:30, com a limitação condicionada a um máximo de seis pessoas por mesa no interior e 10 pessoas por mesa nas esplanadas; comércio em geral pode estar aberto até às 21:00 nos dias de semana e até às 19:00 nos fins de semana e feriados; os espetáculos culturais têm como hora limite as 22:30; e o teletrabalho mantém-se obrigatório sempre que as atividades o permitam.
Os profissionais que trabalham nos centros de saúde defendem uma maior articulação com os hospitais e até com instituições privadas de saúde para aliviar os cuidados primários das tarefas covid-19, que continuam a dificultar o seguimento dos restantes utentes.
"Isto é um desígnio nacional, é uma tarefa prioritária nacional e, portanto, estar só e apenas entregue aos cuidados de saúde primários e aos centros de saúde vai fazer com que se resolva um problema criando outro: temos a vacinação a correr, mas não temos os centros de saúde a funcionar como todos gostaríamos", disse à Lusa o presidente da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar (APMGF).
Nuno Jacinto referiu que a solução pode passar pela contratação de profissionais fora dos centros de saúde e "por uma maior articulação com os profissionais nos hospitais ou até de instituições privadas de saúde".
"Estamos ainda muito longe de conseguir fazer uma retoma total da nossa atividade porque continuamos deslocados para a vacinação e, nos locais onde vai havendo mais casos, quer positivos quer suspeitos, continuam a ser os colegas das unidades a fazerem vigilância através do ´trace covid' e dos contactos telefónicos de todos estes utentes", explicou.
O responsável reconheceu que a vacinação covid-19 "está claramente a drenar muitos recursos às unidades, não só médicos, mas também de enfermagem" e disse que o facto de haver muitos enfermeiros nesta vacinação implica "menos consultas de vigilância de enfermagem" e deixa mais tarefas para os próprios médicos e para os administrativos.
"É uma reação em cadeia. Por alguma razão as unidades precisam desta gente toda. Quando não estão, o funcionamento é muito complicado", afirmou Nuno Jacinto, lembrando que os profissionais têm alertado para este problema desde o início do processo de vacinação.
O responsável recordou também que a percentagem máxima (30%) de pessoal que se pode requisitar para os centros de vacinação não tem em conta as diferentes realidades de cada unidade de saúde.
"Na minha unidade, todos os dias temos dois enfermeiros que saem para os centros de vacinação, num total de oito. Estamos nos 25%, mas falamos de uma unidade que tem duas extensões rurais e que tem domicílios para fazer dentro da cidade. Chega uma altura em que não conseguimos ter profissionais de enfermagem suficientes para fazer tudo", reconheceu, sublinhando que, mesmo antes da pandemia, já era difícil dar resposta.
Já antes da pandemia "tínhamos muita dificuldade em dar resposta, por vários fatores, porque as listas [de utentes] são grandes, porque não há recursos suficientes, materiais e humanos, porque há dificuldade com sistemas informáticos", desabafou.
O presidente da APMGF defendeu igualmente que fazer toda a vacinação em horas extraordinárias "não é solução", pois os profissionais estão cansados e ainda têm toda a restante atividade para cumprir.
Alertou que "se os cuidados primários ruírem, tudo o resto vai cair em cadeia" e disse que "é uma ilusão pensar-se que o problema fica circunscrito".
Nuno Jacinto defendeu que é preciso uma solução "pensada numa forma mais estruturada, mais organizada a nível central" para se conseguir dar uma resposta diferente, até porque o processo ainda vai durar alguns meses.
Em declarações à Lusa, o presidente da Associação Nacional de Unidades de Saúde Familiar (AUSF-AN), Diogo Urjais, defendeu uma mudança de gestão e de visão para os cuidados de saúde primários, com "medidas efetivas e mais direcionadas".
Disse que "não se pode olhar para os recursos sempre da mesma maneira" e que é preciso uma mudança clara e "um rumo para o futuro".
"Muitas vezes não se trata apenas de falta de verbas", afirmou.
Defendeu que o Governo deve decidir "qual é o futuro que quer para o modelo das USF" e apontou mais uma vez a dificuldade de transição das unidades para o modelo B, mais exigente, com maior autonomia e mais incentivos financeiros.
Sobre a carta aberta que a USF-AN divulgou em outubro, na qual os profissionais apontavam a sobrecarga de solicitações por causa da covid-19 e lembravam que as equipas de saúde familiar continuavam a ter muitas tarefas burocráticas e as unidades muitas limitações, Diogo Urjais disse que "nada mudou".
Na carta aberta, a USF-AN destacava a falta de recursos humanos e sublinhava igualmente o facto de muitas infraestruturas estarem desajustadas da realidade e precisarem de obras.
"A pandemia não pode servir sempre de desculpa. Estamos há muito tempo assim", afirmou.
O presidente da APMGF, por seu lado, reconheceu que as unidades têm feito "um grande esforço para manter a resposta", tentando agendar consultas para os grupos vulneráveis e de risco de doença aguda, e alertou: "Continuamos muito focados nos hospitais".
"Falamos sempre nos internamentos e nos cuidados intensivos. Mas o que nós queremos é que os doentes não cheguem aí e, para que isso aconteça, alguma coisa tem de ser feita até lá", afirma o responsável, insistindo: "Ao tirar tempo a estas consultas [nos centros de saúde], vamos ter diabéticos mais descontrolados, hipertensos mais descontrolados, crianças que não conseguimos apanhar em todas as idades chave, grávidas que podem ter algum atraso nos seus exames e rastreios que são feitos mais tarde".