Os microplásticos deram à costa no país vizinho e as regiões do norte já subiram o nível de alerta.
Os microplásticos deram à costa no país vizinho e as regiões do norte já subiram o nível de alerta.

Plásticos em Espanha podem afetar cadeia alimentar. Governo atento

25 toneladas de 'pellets' deram à costa da Galiza e Astúrias. Associação Zero pede responsabilidades a quem transporta o material.
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Espanha decidiu esta terça-feira subir o nível de alerta ambiental, nas zonas costeiras da Galiza e das Astúrias, devido à deteção de 25 mil quilos de microplásticos no mar. Com Portugal a poder vir a ser afetado por este problema, a situação está a ser monitorizada, ainda que, para já, não tenham sido detetados quaisquer microplásticos em águas portuguesas, confirmou a Lusa junto do Ministério do Ambiente.

Isto não significa, no entanto, que os microplásticos não possam atingir águas portuguesas. Segundo o investigador Bordalo e Sá, citado pela Lusa, “neste momento as correntes [marítimas] dominantes são para norte”. Se atingirem Portugal, estes pellets chegarão “lá para a primavera”, quando as correntes mudarem. Caso tal aconteça, o “primeiro passo será acionar a vigilância das praias, usando também a sociedade civil, e o segundo passo será implementar um plano de contingência desenhado à medida e supervisionado”, explicou o hidrobiólogo, investigador na Universidade do Porto.

A origem dos plásticos é, para já, desconhecida. Mas, segundo disse o Ministério do Ambiente espanhol, a contaminação pode ter acontecido em águas portuguesas, quando, há um mês, um navio com bandeira da Libéria deixou cair ao mar seis dos contentores que transportava. Segundo o Governo espanhol, um desses contentores levava seis mil sacos das pequenas bolas brancas usadas no fabrico de plásticos. Ao todo, serão 25 toneladas a poluir as águas da Galiza e das Astúrias.

De acordo com Bordalo e Sá, estes microplásticos são “esferas de cinco milímetros” que se partem com facilidade, fracionando-se até se transformarem em nanoplásticos e “aí está o problema”, porque “essas partículas nano vão sendo progressivamente colonizadas por seres vivos que se depositam à sua volta e, devido ao odor, muitos peixes vão pensar que é alimento e os bivalves vão filtrá-los indiscriminadamente”, entrando assim na cadeia alimentar.

Zero diz ser “impossível” recolher todos os plásticos

A associação ambientalista Zero considerou ontem ser “impossível” recolher todo o material que caiu ao mar e deu à costa.

“Mesmo com a recolha em curso, é impossível recolher tudo. É um material muito leve, muito pequeno e com grande mobilidade. Há milhares de toneladas destes pellets que são perdidos no meio ambiente por ano. Este é um caso agudo, mais um evento poluente que demonstra os riscos da produção de plástico”, explicou à Lusa Susana Fonseca, vice-presidente da associação ambientalista.

A responsável realçou que estes plásticos “entram muito facilmente na cadeia alimentar marinha e conseguem absorver outros poluentes”, e isso pode significar a contaminação de alimentos para humanos. 

“Pode não ser no imediato, no curto prazo. Claro que não estamos a falar dos perigos diretos de um derrame de combustível, por exemplo, mas haverá impacto a longo prazo. Não é fácil conseguir uma limpeza total deste material”, descreveu Susana Fonseca, considerando que quem faz o transporte destes materiais deve ser responsabilizado.

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