Inspetor da Judiciária foi agredido depois de se ter identificado.
Inspetor da Judiciária foi agredido depois de se ter identificado.

PJ detém em Loures presumível operacional do grupo criminoso PCC

Um luso-brasileiro sobre o qual recaem suspeitas de pertencer ao maior grupo criminoso do Brasil, o Primeiro Comando da Capital, o que a PJ oficialmente desmente, está agora sujeito a apresentações periódicas às autoridades. Detenção ocorreu na terça-feira depois de uma discussão no trânsito com inspetor da Judiciária.
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Começou como altercação de trânsito e acabou na detenção de duas pessoas, uma das quais é agora suspeita de pertencer ao Primeiro Comando da Capital (PCC), o maior grupo brasileiro de crime organizado com ligações ao tráfico internacional de cocaína e cuja presença em Portugal continua a não ser confirmada pelas autoridades nacionais. A inusitada ocorrência teve lugar na manhã da última terça-feira, dia 9, e foi relatada ao DN por fontes com conhecimento do relatório de detenção, que pediram para não ser identificadas.

À chegada a uma rotunda, nos arredores de Lisboa, uma carrinha de transporte de mercadorias atravessa-se à frente de um ligeiro de passageiros e dá origem a uma discussão sobre quem tem prioridade. Ao volante do ligeiro segue um inspetor-chefe da Polícia Judiciária (PJ) em viatura de serviço, que de imediato liga a sirene, sinalizando tratar-se de uma autoridade policial.

A reação é mal acolhida pelo condutor da carrinha e por um colega que o acompanha no assento do lado. Insultam o elemento da Judiciária e este responde nos mesmos termos, movendo a viatura para lhes barrar totalmente o caminho. Uma vez apeado, exibe-lhes o crachat de agente da PJ. Os dois passageiros saem da carrinha, agridem o inspetor na cara com violência e este corre ao carro a chamar reforços. Os visados acabam detidos por agressão.

Fonte oficial da PJ confirmou o episódio ao DN, localizando-o em Loures, perto do Instituto de Polícia Judiciária, conhecido como escola da PJ. “Os detidos, com idades na casa dos 20 anos, foram presentes a tribunal e estão sujeitos à medida de coação de apresentações periódicas”, sublinhou aquela fonte autorizada.

Um dos detidos tem nacionalidade brasileira e o outro é luso-brasileiro, de acordo com fontes bem colocadas. Nenhum deles teria carta de condução e ambos se descreveram como funcionários de uma empresa de transporte de mercadorias. Há suspeitas de que o luso-brasileiro seja operacional do PCC, dizem as mesmas fontes, o que terá sido reforçado no dia seguinte às detenções, através de contactos com as autoridades brasileiras. Acrescentam que o luso-brasileiro tem uma tatuagem visível de uma espingarda Kalashnikov, símbolo alegadamente comum entre membros do PCC.

Fonte oficial da PJ nega a relação de qualquer dos detidos com o PCC, afirmando que tal “não é verdade”. Mas sempre admite que “não há informação nesta altura que sustente essa ligação”. Mantém-se na PJ a política noticiada pelo DN a 13 de dezembro de não confirmar nem comentar a presença em Portugal de operacionais do PCC, mas a imprensa brasileira continua a dar conta da expansão do gangue em Portugal. O programa de casos de polícia Rede Brasil, da estação de televisão Bandeirantes, de São Paulo, noticiou este domingo que o PCC “cresce cada vez mais em Portugal”.

A Unidade Nacional de Combate à Corrupção da PJ e a Polícia Federal brasileira realizaram uma operação conjunta a 27 de novembro no Consulado-Geral de Portugal no Rio de Janeiro, no âmbito de um inquérito a um alegado esquema de corrupção para a obtenção ilícita da nacionalidade portuguesa. Nesse esquema terão estado envolvidos funcionários do Consulado e membros do PCC e do Comando Vermelho, outra máfia brasileira de grandes dimensões. Membros das duas organizações teriam conseguido a cidadania para se instalarem em Portugal e impulsionarem na Europa a venda de droga, sobretudo cocaína.

A CNN Portugal revelou em inícios de novembro, citando um relatório confidencial do Serviço de Informações de Segurança, que há mil elementos do PCC a viver em Portugal, sobretudo na Margem Sul do Tejo. Ao DN, fonte oficiosa da PJ alega que a contagem corresponderá ao número de contactos de telemóvel portugueses de membros do PCC, o que não significa a existência de mil pessoas.

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