PJ viu detenção em direto. Rendeiro estava a dormir e não resistiu

Rendeiro passou por, pelo menos, quatro hotéis de luxo desde que chegou a Joanesburgo e teria "plano B" para Moçambique. A procuradora-geral da República, Lucília Gago, preparou juridicamente a eficácia da detenção através de um "mandado de detenção provisória" que completa o alerta da Interpol.
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A Polícia Judiciária (PJ) acompanhou em tempo real, pelas cinco da manhã de Lisboa deste sábado (sete hora local), a detenção de João Rendeiro no hotel onde estava instalado - o Forest Manor Boutique Guesthouse, na cidade sul-africana de Durban, em Umhlanga, na província de Kwazulo Natal.

Rendeiro foi detido por uma pequena equipa de agentes de investigação criminal da polícia nacional sul-africana que andava no seu encalço há várias semanas, sempre trocando informações com a PJ.

Estava a dormir e mostrou-se "estupefacto", nas palavras de uma fonte que acompanhou a situação. Desta equipa fazia também parte um oficial da Interpol, responsável pela localização de fugitivos à justiça.

Não ofereceu qualquer reação de resistência, foi encaminhado para uma carrinha celular e está neste momento em instalações policiais de Durban.

Nas últimas semanas o próprio diretor nacional, Luís Neves, tinha consolidado contactos frequentes com os seus homólogos sul-africanos, colaborações essas que tinham começado, como afirmou neste sábado em conferência de imprensa, numa reunião da Interpol na Turquia no início no mês, entre 20 e 24 de novembro, onde representou Portugal.

O DN sabe que Rendeiro passou por vários hotéis e alojamentos de luxo do país, pelo menos quatro, em vários pontos da África do Sul, deixando inclusivamente vários dos seus pertences para trás à medida que ia abandonando esses locais, para não levantar suspeitas.

Rendeiro saiu de Londres dia 14 de setembro e só chegou a Joanesburgo quatro dias depois, dia 18. A PJ sabe que nesse período João Rendeiro fez escala em países do Médio Oriente, designadamente o Qatar.

Chegado a Joanesburgo, terá tido o apoio de um amigo durante uns dias, tendo ficado nesta cidade algumas semanas. Seguiu depois para Nelspruit, no zona do Kruger Park, 330 km a leste de Joanesburgo, a apenas 100 km da fronteira com Moçambique.

As autoridades portuguesas suspeitam que Rendeiro terá feito aqui alguns contactos para avaliar a possibilidade de poder fugir para aquele país.

No entanto, conforme afirmou Luís Neves, a PJ tinha já antecipado a possibilidade de João Rendeiro poder ter essa ideia, e firmou contactos com as congéneres desses países no sentido de controlar esse movimento.

Daqui, o ex-banqueiro terá então viajado para Durban e instalou-se neste hotel há algumas semanas, tendo a PJ sido informada pela polícia sul-africana de todos os momentos da operação que levaram à detenção de Rendeiro nesta madrugada.

João Rendeiro será presente a tribunal na próxima segunda-feira fim de iniciar o processo de extradição. A África do Sul faz parte da Convenção Europeia de Extradição, um instrumento multilateral de cooperação judiciária, e esse facto será uma peça importante para facilitar o processo.

Mais importante ainda é o facto de a Procuradora-Geral da República, Lucília Gago, ter preparado os mecanismos legais para garantir esta detenção, através da emissão de um designado "pedido de detenção provisória com vista à detenção". Significa que depois da "notícia vermelha" da Interpol (uma espécie de alerta vermelho que indica prioridade máxima de localização e detenção), o referido mandado provisório é determinante.

Outro pormenor legal relevante para a extradição é o facto de João Rendeiro ter assistido aos julgamentos e não ter sido julgado à revelia, o que poderia agora causar alguns constrangimentos jurídicos, segundo fonte judicial.

Para já, segundo apurou o DN, não está prevista a deslocação das autoridades portuguesas à África do Sul, havendo, ainda assim, disponibilidade para tal caso for a vontade das autoridades daquele país.

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