O nome de Álvaro Almdeia vai agora à CReSAP para aprovação.
O nome de Álvaro Almdeia vai agora à CReSAP para aprovação.Artur Machado

Os quatro desafios do novo diretor executivo do SNS: urgências, profissionais, articulação e autonomia

Álvaro Almeida foi o escolhido para assumir o cargo de diretor do SNS. E é a ele que o Governo entrega as alterações que quer fazer ao organismo criado há pouco mais de dois anos. Pela frente, tem de imediato o desafio de transformar a Direção Executiva num organismo menos “mais eficiente”. Mas para quem está no terreno os desafios são outros, devendo a prioridade ser a melhoria da resposta nas urgências, a valorização dos profissionais, a maior articulação entre unidades e a autonomia técnica na gestão e nas nomeações.
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Tem 60 anos feitos a 17 de novembro último. É economista de formação e professor associado na Faculdade de Economia da Universidade do Porto, mas já foi presidente da Administração Regional de Saúde do Norte, cargo que assumiu a 1 de janeiro de 2015 até à demissão, que apresentou assim que o primeiro Governo de António Costa tomou posse. De 2016 a 2020 foi presidente da Entidade Reguladora da Saúde (ERS). É-lhe reconhecido perfil académico e até político, pois foi deputado à Assembleia da República de 2019 a 2022, pelo PSD, mas também lhe é reconhecido perfil de quem “conhece bem o setor da Saúde", afirma ao DN o presidente da Associação Portuguesa dos Administradores Hospitalares (APAH), Xavier Barreto. “O professor Álvaro Almeida não está atualmente a trabalhar no SNS, mas tem uma ligação forte ao setor. Eu diria que é um histórico no setor da Saúde , com especial ligação a esta área, não podendo o seu perfil ser reduzido, como já ouvi, à condição de académico ou de mero político”. E para mitigar a falha de não “estar agora a trabalhar no SNS", Xavier Barreto espera que "construa uma equipa de colaboradores do próprio SNS, para que o ajudem a perceber quais são as principais dificuldades”. Para o bastonário dos médicos, Carlos Cortes, “foi o nome escolhido e ao qual temos de dar o beneficio da dúvida. Agora, é preciso olhar para o futuro, mas espero que seja uma pessoa capaz de dialogar com os profissionais”. Quanto os desafios que Álvaro Almeida vai enfrentar já de imediato, tanto para o gestor como para o representante dos médicos, esses, são aqueles que têm de melhorar a resposta quer nos cuidados de saúde como na valorização dos profissionais.

O nome de Álvaro Almdeia vai agora à CReSAP para aprovação.
Álvaro Almeida é o novo diretor executivo do SNS

1 – Urgências e Acesso. Tanto para o presidente da APAH como para o bastonário dos médicos a resposta ao doente agudo é o desafio dos desafios. “A resposta ao doente agudo é absolutamente prioritário”, diz Xavier Barreto. Porquê? Porque “se perguntarmos aos portugueses, enquanto cidadãos, o que é que os preocupa mais no SNS, vão dizer que é rede das urgências, o tempo de espera para os doentes urgentes e os serviços encerrados”. E segundo o gestor “esta é claramente uma área que tem de ser toda revista, quer a rede, como as equipas e as suas funções e ainda a articulação entre diferentes urgências”. O bastonário dos médicos elege a mesma prioridade. “O primeiro desafio tem de ser tornar o SNS mais responsivo”. Ou seja, melhorar o acesso dos doentes aos cuidados e resolver o problema dos serviços de urgência e também das listas de espera, quer para consultas e cirurgias.

2 – Profissionais. Este desafio decorre do primeiro, concordam ambos também, pois a falta de recursos humanos é o que está a ter consequências no acesso aos cuidados. “Os tempos de espera nas urgências, para consultas ou cirurgias decorre da escassez de profissionais, nomeadamente médicos”, refere Xavier Barreto. “É um enorme desafio que vai obrigar, igualmente, a rever o papel de algumas profissões da saúde, particularmente dos enfermeiros, distribuindo-lhes mais competências, para fazer falta à carência dos médicos”. Na opinião do gestor, é o desafio que deve obrigar também a uma revisão do percurso dos nossos doentes, juntando novas entidades à prestação de cuidados, como farmácias ou outras entidades que podem apoiar o SNS nestas respostas”. Para o bastonário Carlos Cortes, os profissionais são o segundo grande desafio, mas na perspetiva de “tornar o SNS mais atrativo, nomeadamente para os médicos, de forma a conseguir-se fixar-se mais profissionais e travar as suas saídas”. Este é o problema grave, porque “a falta de respostas tem a ver com a falta de recursos humanos”, conclui.


3 – Articulação. Ou melhor, a integração de cuidados entre hospitais e cuidados primários. Quer para o gestor quer para o médico este é “um dos aspetos que continua por concretizar”. Xavier Barreto diz mesmo que “os cuidados primários continuam muito pouco alinhados com a ideia de Unidades Locais de Saúde (ULS)”, explicando que “existe um desalinhamento grande entre os incentivos dados às equipas das Unidades de Saúde Familiar (USF) e os dados aos hospitais, em muitos casos”. Portanto, destaca, “é claramente um problema que não está bem resolvido na estrutura das ULS”. O bastonário dos médicos defende igualmente que o terceiro desafio tem de ser “a articulação entre os cuidados primários e hospitalares. As Unidades Locais de Saúde ainda não vieram resolver esse problema, que continua a existir da mesma forma”. Carlos Cortes explica que a s ULS “fizeram uma concentração da gestão e das direções, mas em termos de cuidados ao utente continua a haver uma grande separação e uma grande dificuldade de articulação da resposta entre os vários níveis”. E a resposta do SNS só poderá ser melhorada se este problema for ultrapassado.


4 – Autonomia e gestão. Manter a Direção Executiva como organismo da Saúde é um desafio como os outros para o gestor e para o médico. Mas mais do que isto, o desafio tem de ser o conseguir manter “a autonomia da gestão do SNS, a autonomia na gestão dos hospitais públicos, que precisam de um outro modelo de gestão”, refere Xavier Barreto. Mas também “autonomia na nomeação de pessoas qualificadas para a gestão das unidades de Saúde. Espero que o professor Álvaro Almeida o faça”. O bastonário dos médicos espera também autonomia assente em lideranças técnicas, continuando a defender que a capacidade técnica de quem conduz o SNS é igualmente um desafio. Carlos Cortes diz mesmo esperar que Álvaro Almeida seja “alguém com capacidade de diálogo, com vontade de conhecer o terreno e de se aproximar de quem está no dia-a-dia na linha da frente”.

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