Os jovens sentem-se mais tristes e a curva da felicidade está a achatar
A tradicional curva da felicidade - segundo a qual o bem-estar humano costuma seguir um padrão em forma de “U”, com picos de felicidade na juventude e na velhice, e um declínio durante a meia-idade - parece estar com os dias contados.
Uma investigação recente mostra que os jovens adultos entre os 18 e os 29 anos (uma mistura que engloba representantes das chamadas gerações Y e Z) sentem-se mais infelizes, inseguros e solitários, o que tem feito achatar o "U" da fórmula da felicidade ao longo da vida. Ao que parece, a juventude, antes vista como uma fase naturalmente feliz e otimista, está hoje cada vez mais angustiada, reforçando o alerta sobre os impactos das mudanças sociais, económicas e tecnológicas na saúde mental das novas gerações.
Os dados vêm do Global Flourishing Study, uma iniciativa conjunta de investigadores de Harvard e da Baylor University, baseada em mais de 200 mil entrevistas em 22 países e publicada no final de abril na revista Nature.
O estudo revela que a sensação de bem-estar já não apresenta a clássica recuperação com o avanço da idade - antes permanece baixa até por volta dos 50 anos, quando começa a subir gradualmente. Em países como Estados Unidos, Reino Unido, Austrália, Brasil e alguns outros na Europa, a curva da felicidade simplesmente parece ter colapsado.
Segundo os cientistas, a juventude atual enfrenta uma série de fatores que comprometem o seu bem-estar emocional: problemas de saúde mental, insegurança financeira, falta de sentido na vida, baixa qualidade nas relações sociais e a sensação de que o mundo está em crise.
A investigação aponta que mais da metade dos jovens adultos não encontraram propósito na vida no mês anterior ao inquérito, enquanto 56% estavam preocupados com o seu futuro financeiro e quase metade se sentiam solitários ou irrelevantes para os outros.
Além disso, a substituição do convívio físico na vida real pela interação digital nas redes sociais também é apontada como um dos vilões. “Os jovens passam menos tempo com amigos e mais tempo em relações superficiais nas redes”, disse o professor Tyler J. VanderWeele, autor principal do estudo e diretor do Programa de Florescimento Humano de Harvard, em declarações ao The New York Times. “É um cenário bastante sombrio”, afirmou.