Fogo de Odemira atingiu 10 mil hectares e mantém duas frentes ativas

Mais de 1000 operacionais estão no terreno em Odemira combater o incêndio mais preocupante no país, sendo apoiados por 341 veículos e 14 meios aéreos. Fogo que lavrava na Lousã em fase de resolução
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O incêndio rural que deflagrou no sábado em Odemira já atingiu 10 mil hectares, mantendo ao início da noite desta terça-feira duas frentes ativas e obrigando as autoridades a cobrir um perímetro de 50 quilómetros, segundo a Proteção Civil.

Numa conferência de imprensa realizada pelas 19:30 no posto de comando instalado em São Teotónio -- freguesia onde o fogo deflagrou, na zona de Baiona -, o comandante regional de Emergência e Proteção Civil do Algarve, Vitor Vaz Pinto, explicou que a frente norte, em Odemira (distrito alentejano de Beja), não apresenta problemas graves.

Já a frente sul apresenta duas situações mais preocupantes, no cruzamento com os municípios algarvios de Aljezur e Monchique (distrito de Faro).

Com a mudança do quadrante do vento registada ao final da tarde, disse o comandante, "o setor a sul vai ser mais exigente, também porque a orografia não permite colocar os meios aéreos onde são necessários".

Ainda assim, e apesar de as autoridades reconhecerem haver variáveis que não podem ser controladas, é esperado um aumento da humidade, o que será favorável ao combate.

"Durante a tarde tivemos várias reativações que foram prontamente extintas pelas forças dispersas no terreno por mais de 50 quilómetros", referiu o comandante, afirmando não ter até àquela hora a indicação de casas afetadas.

Segundo informação desta tarde do município de Aljezur, pelo menos uma habitação ardeu, além de pequenos anexos e outros edificados, e em Odemira a proprietária de um turismo rural disse à Lusa que a estrutura principal do alojamento ficou destruída.

Vítor Vaz Pinto atualizou no 'briefing' o número de pessoas deslocadas pela GNR de forma preventiva para 1.459 -- muitas das quais foram levadas para os pontos de acolhimento definidos -- e referiu que 36 pessoas, na maioria agentes de proteção civil, receberam assistência do Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) no terreno.

Outras oito pessoas - cinco bombeiros e três civis - chegaram a receber atendimento hospitalar, sem configurar situações de gravidade.

No terreno estão mais de 1000 operacionais, apoiados por 341 veículos e 14 meios aéreos, segundo a página da Proteção Civil.

O incêndio destruiu também a estrutura principal do alojamento de turismo rural Teima, cuja proprietária disse à Lusa ter pedido ajuda mas que ninguém apareceu.

"Pedi ajuda à GNR e aos bombeiros para nos socorrerem porque percebi que íamos arder. Tivemos de sair do espaço por volta das 13:00 e à 17:30 estava desesperada sem noticias e fui por montes e vales e vi que a casa principal estava a arder e não havia um único bombeiro", explicou Luisa Botelho, em declarações à agência Lusa.

A proprietária do alojamento localizado em Vale Juncal adiantou que chegou a pedir aos operacionais que estavam com três carros de bombeiros na estrada para ajudarem, mas que lhe responderam não terem ordens para isso.

Luísa Botelho diz não entender porque não foi socorrida quando a 500 metros do local as corporações de bombeiros estiveram a proteger o hotel Enigma das chamas.

Na página do alojamento Teima no Facebook, os proprietários deixaram uma mensagem aos clientes a relatar o caso.

"É com um enorme desgosto que vos venho contar que a nossa Teima hoje foi consumida pelas chamas. Talvez uma das casas resista. Ainda não sabemos. Não houve um bombeiro a defender-nos. Estiveram no hotel Enigma (mesmo ao lado) que até esteve mais perto do que nós e salvaram-no. De nós ninguém se lembrou, apesar dos meus insistentes telefonemas com pedidos de socorro. A nossa tristeza e revolta é incomensurável. Vamos ter de fechar por uns meses", escreveram.

Reconhecido com o Prémio Travellers Choice 2021 da TripAdvisor e eleito como Melhor Turismo Rural de Portugal em 2017 e Melhor Turismo Rural do Alentejo em 2019, o Teima Alentejo SW está localizado numa propriedade com cerca de 80 mil metros quadrados em Vale Juncal.

O incêndio que lavrava desde o início da tarde desta terça-feira no concelho da Lousã, distrito de Coimbra, está em resolução, informou a Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC).

Segundo a página da ANEPC na internet, às 18:30 encontravam-se no terreno 285 operacionais, apoiados por 80 viaturas e seis meios aéreos.

Este fogo deflagrou perto das 15:00 desta terça-feira, em zona florestal da povoação de Framilo, na freguesia de Foz de Arouce e Casal de Ermio.

Segundo o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), cerca de 120 concelhos do interior Norte e Centro e da região do Algarve estão esta terça-feira em perigo máximo de incêndio.

Também devido às temperaturas elevadas, os distritos de Bragança, Castelo Branco e Guarda estão sob aviso vermelho, o mais grave, indica ainda o IPMA.

O aviso vermelho está ativo pelo menos até às 23:00 desta terça-feira em Castelo Branco e na Guarda, mas em Bragança estende-se até ao final do dia de quarta-feira.

A persistência de valores elevados da temperatura máxima, o IPMA colocou ainda sob aviso laranja (o segundo mais grave) até final do dia desta terça-feira os distritos de Vila Real, Viseu, Coimbra, Leiria, Santarém, Portalegre e Évora.

Estes avisos passam a amarelo a partir das 23:00 desta terça-feira e, pelo menos, até final do dia de quarta-feira em Vila Real, Viseu, Santarém, Portalegre e Évora.

Já em Viana do Castelo, Braga, Porto, Aveiro, Lisboa e Setúbal está ativo até final desta terça-feira​​​​​​​ o aviso amarelo (o terceiro mais grave) e em Beja este aviso prolonga-se até às 23:00 de quarta-feira.

Dos 18 distritos de Portugal continental, Faro é o único que não se encontrará nos próximos dias sob qualquer tipo de aviso, segundo o IPMA.

Na segunda-feira, o ministro da Administração Interna, José Luis Carneiro, afirmou que "para já" não vai ser declarada a situação de alerta devido aos incêndios rurais, tendo em conta a resposta do dispositivo ao combate e as condições meteorológicas.

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