Atravessando planícies e vales, o sinuoso Rio Amarelo torna as terras férteis e oferece ricos materiais para a vida das habitantes ao longo da sua margem.
Atravessando planícies e vales, o sinuoso Rio Amarelo torna as terras férteis e oferece ricos materiais para a vida das habitantes ao longo da sua margem.D.R. / Macao Daily News

O Rio Amarelo: o berço da civilização chinesa

Tal como todos os grandes rios do mundo, o Rio Amarelo cria condições favoráveis para a sobrevivência da população nas suas margens. Sendo o sexto maior do mundo e o segundo maior da China, é visto pelos chineses como o “rio-mãe” e símbolo da civilização chinesa, ao longo de 5000 anos.
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Os rios são fontes vitais para a sobrevivência humana. Tal como o Rio Tejo e o Rio Douro para os portugueses, o Rio Amazonas para os brasileiros, e o Rio Zambeze para os angolanos e moçambicanos, o Rio Amarelo tem um significado importante para os chineses, sendo mesmo denominado “rio-mãe”, e considerado como o berço da civilização chinesa.

Foi graças aos recursos proporcionados por cursos fluviais que surgiram também a antiga Civilização Egípcia na bacia do Nilo, a Civilização Mesopotâmica nas bacias do Rio Tigre e Rio Eufrates, e a antiga civilização do vale do Indo.

Sendo o segundo maior rio da China e o sexto maior do mundo, o Rio Amarelo tem um comprimento total de 5464km e uma bacia hidrográfica que abrange uma área total de 795 000km2. O Rio Amarelo nasce nas Montanhas Bayan Har, Província de Qinghai, no noroeste da China, atravessa diversas províncias e regiões autónomas, tais como Qinghai, Sichuan, Gansu, Ningxia, Mongólia Interior, Shaanxi, Shanxi, Henan e Shandong, e acaba por desaguar no Mar de Bohai, na Província de Shandong, no leste da China.

Passando pelo Planalto Loess no noroeste da China, o rio carrega uma abundância de sedimentos, que torna as suas águas turvas e de cor amarela, razão pela qual é designado Rio Amarelo. Segundo dados recolhidos, o Rio Amarelo é o curso fluvial com o maior teor de areia e sedimentos do mundo, o que resulta em vastas áreas de planícies de solo muito fértil, com  condições favoráveis para a sobrevivência de populações na bacia, especialmente para o desenvolvimento das atividades pastoris e agrícolas, o que constituiu uma base material rica para o desenvolvimento da civilização chinesa.

A segunda maior queda de água da China, a Catarata de Hukou, localiza-se no grande desfiladeiro na fronteira entre as províncias de Shanxi e Shaanxi. As águas turbulentas do Rio Amarelo caem impetuosamente, formando uma espetacular paisagem de cataratas. FOTO: D.R. / Macao Daily News

Há cerca de 7000 a 6000 anos, surgiu a Civilização de Banpo ao longo do Rio Wei, um afluente do Rio Amarelo. Aqui viveram populações que construíram casas em semicavernas, desbravaram terras para o cultivo de diferentes culturas, como milho e legumes, e até dominaram técnicas sofisticadas como criação de gado, domesticação de porcos e cães e fabrico de cerâmicas. Nos artefactos de cerâmica produzidas durante aquela época, foram encontrados símbolos que provavelmente são as primeiras formas do caráter chinês.

Além disso, na região do curso médio e inferior do Rio Amarelo, em Shandong, surgiu a Cultura Longshan, que data aproximadamente de há 4000-5000 anos. Na época, fabricavam-se cerâmicas negras, com superfícies brilhantes e tão finas como a casca de ovo, sendo por isso conhecida como a “cultura da cerâmica negra”.

Ademais, apareceram as construções em material de taipa, sendo as muralhas e as ruínas do castelo prova do protótipo de cidade.

Posteriormente, as três principais dinastias da China, nomeadamente a Xia, a Shang e a Zhou, também se desenvolveram ao longo do Rio Amarelo. E até à Dinastia Song do Norte, o centro político, económico e cultural da China situava-se mesmo na bacia do Rio Amarelo.

O Rio Amarelo trouxe vitalidade à civilização chinesa, mas às vezes também pôs em perigo a vida dos habitantes ao longo das suas margens. Como é sabido, com a acumulação dos sedimentos no fundo do rio, o leito acima das terras adjacentes foi-se elevando e acabou por formar um “rio suspenso à face da terra”, algo extremamente perigoso.

O Rio Amarelo tem tido problemas, como a acumulação de sedimentos, ruturas e mudanças de cursos, que rebentaram as margens existentes e provocaram inundações quase 1600 vezes ao longo dos últimos 3000 anos.

Curiosamente, há um provérbio chinês que pode ser traduzido literalmente assim: “Há 30 anos ficou a leste do rio, mas 30 anos depois passou a ficar a oeste do mesmo.” É fácil entendê-lo se tiverem em conta a frequência do desvio do Rio Amarelo. O significado original é que as aldeias originalmente situadas na margem leste do Rio Amarelo passaram a ficar a oeste do mesmo 30 anos depois. Hoje em dia, a frase é usada para descrever as constantes mudanças do mundo e da experiência individual.

Há muitas lendas sobre as grandes inundações em todo o mundo, e a versão chinesa mais famosa é sobre um herói chamado Dayu, que liderava o povo na construção de projetos de irrigação para combater as inundações do Rio Amarelo. Preocupado com o povo afetado pelas cheias, Dayu dedicou-se durante 13 anos à gestão do rio, e não tinha tempo para cuidar da família - até passou três vezes pela porta de sua casa sem entrar.

Em 2019, os Correios da China emitiram um conjunto de selos com o tema alusivo à Mitologia Antiga Chinesa, no qual um dos selos retrata a cena de Dayu liderando o povo chinês na abertura de montanhas e na escavação de canais para desobstruir rios. FOTO: D.R. / Macao Daily News

Finalmente conseguiu livrar o povo do problema das inundações e o seu contributo tem sido enaltecido pelo povo de geração em geração. A lenda de Dayu é ainda muito popular na China, e o seu espírito de sacrifício, anulando os interesses pessoais por um bem maior, é sempre apreciado e valorizado pelos chineses.

O problema das inundações do Rio Amarelo é um desafio para cada dinastia da China, e os chineses sempre adotaram uma atitude ativa na sua gestão. Durante os Governos das dinastias Ming e Qing, foram estabelecidos governadores-gerais de cursos fluviais para tomar conta dos trabalhos de gestão dos rios.

Hoje em dia, a China presta cada vez mais atenção à sua proteção integrada, e continua a implementar medidas como o controlo de sedimentos, o uso intensivo de recursos hídricos e a proteção ecológica do Rio Amarelo. Todos os esforços são para um objetivo: manter a vitalidade deste antigo e grande rio e torná-lo benéfico para o povo a longo prazo.

Se tiverem interesse pela cultura chinesa, estejam à vontade para deixar os vossos comentários através do e-mail: contato.cultchina@gmail.com.

INICIATIVA DO MACAO DAILY NEWS

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