A Quinta de Lemos, onde se situa o restaurante Mesa de Lemos, fica entre Tondela e Viseu.
A Quinta de Lemos, onde se situa o restaurante Mesa de Lemos, fica entre Tondela e Viseu.DR

O desafio de fazer alta cozinha longe das grandes cidades

Diogo Rocha está à frente do Mesa de Lemos, na região do Dão. Francis Paniego é o responsável pelos restaurantes do Hotel Echaurren, no norte de Espanha. Têm em comum o gosto pela comida tradicional e a conquista de estrelas Michelin. O que significa que estarem longe de centros urbanos não interfere no sucesso.
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Há cerca de 600 quilómetros a separar Diogo Rocha e Francis Paniego, mas há muito mais a uni-los. Ambos são chefs que decidiram levar a alta cozinha para fora dos grandes centros urbanos. O português está à frente do Mesa de Lemos, na região de Viseu; o espanhol é responsável pelos restaurantes El Portal de Echaurren e Echaurren Tradición, ambos localizados no Hotel Echaurren, na povoação serrana de Ezcaray, em La Rioja, norte de Espanha. Esta noite, juntam-se, na região do Dão, para um jantar que promove a gastronomia ibérica e a alta cozinha fora dos centros urbanos.

O chef português Diogo Rocha.
O chef espanhol Francis Paniego.

“É muito mais aquilo que nos liga do que aquilo que nos separa”, repara o chef Diogo Rocha acerca das gastronomias portuguesa e espanhola, notando que “às vezes convivemos mal com isto de ser ibérico” e que muito mais deveria ser feito para promover a gastronomia que se pratica na península.

O encontro, oportunidade para trocarem experiências e aprenderem, surge de um convite de Diogo Rocha, que se identifica com o colega. “Trabalha, como eu, fora das grandes cidades, respeita o produto... e é boa pessoa”. Perante a reação de quem o ouve, ri-se e acrescenta: “É verdade! Há alguns anos decidi que só iria fazer jantares com pessoas de que gosto”, conta. “Para nós é a oportunidade de descobrir outra cozinha, um território novo”, refere Francis Paniego, que chegado à Quinta de Lemos andou a “respirar o ar”, a ver as vinhas, a saborear uma costela arouquesa e que, ao almoço de ontem, se preparava para ir degustar umas iscas, uma cabidela e um leitão ao Mugasa, na região de Aveiro.

O restaurante Mesa de Lemos.
O interior do espaço.
Uma das propostas gastronómicas de Diogo Rocha.

É isso que o inspira a ele e a Diogo Rocha. Sentir os cheiros e os sabores, ver as cores da natureza. “É uma cozinha inspirada no nosso território, nos produtos da época e da região”, descreve Francis, o primeiro a levar uma estrela Michelin par La Rioja, tal como o português foi o primeiro a conseguir essa distinção para o distrito de Viseu. A isso, no seu caso, acresce o gosto pela “casquería”, ou seja por trabalhar as entranhas dos animais, sobretudo de borrego, típico da região, e a tradição que vem de cinco gerações à frente do hotel Echaurren, onde se situam os seus restaurantes, na pequena localidade de Ezcaray, com apena 2000 habitantes.

O restaurante do chef espanhol.
Um dos pratos de Francis Paniego.

“As cidades podem ter a vantagem de ter muito público, mas, no meu caso, o público, vem porque quer. Não há visitas casuais, são visitas decididas. Isso é muito bonito”, diz Francis. “São pessoas que organizam as suas vidas e que vêm. Não são pessoas que vêm a passar à porta e decidem entrar”, concorda Diogo Rocha falando do Mesa de Lemos, mais ou menos a meio caminho entre Tondela e Viseu. “Estamos a menos de uma hora do mar. Isto é uma falsa interioridade”, nota, acrescentando que “ainda é muito difícil aos portugueses viajar pelo país”. “Em Lisboa ainda se julga que acima de Alverca já é norte”, repara.

Obviamente, como realça o chef português, a sustentabilidade financeira é aquilo que lhes permite dar asas a estes projetos, tão importantes para as regiões em que estão instalados, quer para fixar população, quer para o seu desenvlvimento. E parece não haver razões de queixa. O negócio à volta do hotel Echaurren está na da família de Francis há mais de 125 anos; o Mesa de Lemos existe há 10. “Quantos restaurantes abrem nas cidades e duram menos?”, questiona Diogo Lemos.

Sabor é aquilo que ambos prometem levar à mesa daqueles que servem, além de sentido estético na apresentação dos pratos. Logo à noite, haverá cordeiro, bacalhau, beterraba, espargos, entre propostas que dão a provar as tradições e os produtos que inspiram cada um dos chefs.

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