Nova variante sul-africana com apenas 100 casos no mundo não motiva preocupação

Organizações de saúde e cientistas olham com precaução para estudo realizado na África do Sul sobre nova variante com muitas mutações. Justificam que tem tido fraca transmissibilidade, um dos critérios indicadores de perigo
Publicado a
Atualizado a

A nova variante do SARS-CoV-2 identificada pela primeira vez em maio, na África do Sul, a C.1.2, regista "apenas"100 casos em todo o mundo. Razão pela qual a Organização Mundial de Saúde não a vê como uma preocupação. E, apesar de Portugal ser um dos sete países onde entrou - identificado um caso na Madeira a 3 de julho -, o Instituto Nacional Ricardo Jorge tem a mesma posição. O seu último relatório sobre a diversidade genética do vírus no país indica que 100 % das infeções têm a variante Delta.

A nova variante ainda não tem nome, desde logo porque não está identificada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como "variante de preocupação", nem sequer como "variante de interesse". Para ser classificada como "variante de preocupação", explica o epidemiologista Manuel Carmo Gomes, é necessário que aconteça uma de três situações : "A proporção de novos casos dessa variante começar a aumentar significativamente; surgir em pessoas já vacinadas ou em quem já teve covid-19 com maior frequência do que seria de esperar; e/ou estar associada a hospitalizações mais do que seria de esperar". Nada disso aconteceu em quase quatro meses. O especialista dá o exemplo da Delta, que num mês passou "de quase desconhecida a dominante", em países como o Reino Unido e Portugal.

O Instituto Nacional Ricardo Jorge (INSA) esclarece: "Em relação ao potencial de transmissibilidade da variante C.1.2, não existe qualquer evidência que permita aferir que estamos perante uma variante potencialmente mais infecciosa e/ou resistente às vacinas dos que as de interesse identificadas até agora. Pelo contrário, dificilmente isso se verificará, tendo em conta que há já vários meses e, até ao momento, apenas foram identificados em todo o mundo cerca de 100 casos. Não existem também quaisquer estudos que evidenciem que a variante C.1.2 ofereça maior resistência às vacinas, nem que origine problemas de falhas vacinais ou casos de doença mais grave",

Toda a explicação vem a propósito de um estudo sobre a evolução do SARS-CoV-2 publicado há uma semana pelo Instituto Nacional de Doenças Transmissíveis da África do Sul. É um preprinter, o que significa que ainda não foi aprovado pela comunidade científica.

"Ainda é muito cedo para fazer considerações sobre essa variante. O estudo em causa indica que algumas das mutações da SARS-CoV-2 que causam preocupação estão presentes nessa variante, mas não significa que venha a ter sucesso. Há ainda poucos casos, apenas temos que estar atentos e ver como a situação evolui. Mas apareceu em maio e já haveria tempo para ter aumentado a sua frequência", sublinha Manuel Carmo Gomes.
Um outro indicador é a forma como as variantes se transmitem, se os casos estão concentrados ou espalhados geograficamente. Na variante C.1.2, o primeiro doente foi identificado a 11 de maio na África do Sul, tendo surgido infeções em todas as suas províncias e em mais seis países: Nova Zelândia, Suíça, Reino Unido, China, Maurícias e Portugal.

Entre os 100 casos, um foi detetado na Madeira a 3 de julho. "Desde essa altura, não se verificou confirmação laboratorial de qualquer caso da variante C.1.2 nas mais de três mil amostras entretanto analisadas, pelo que não se conhecem cadeias de transmissão associadas, nem é de esperar que venha a existir uma evolução de crescimento da sua frequência", informa o INSA.

Isto quando a variante Delta cobre a totalidade dos doentes covid-19, segundo o relatório sobre a diversidade genética da SARS-CoV-2, divulgado esta terça-feira. "A variante Delta (B.1.617.2) apresenta uma frequência relativa de 100% na semana 33 (16 a 22 de agosto) em todas as regiões".

O INSA publicou, também, nesta terça-feira, uma investigação sobre a eficácia das vacinas RNA mensageiro (mRNA), a Pfizer e a Moderna, contra a covid-19. Conclui que estas vacinas "conferem uma proteção substancial contra internamentos e óbitos relacionados com o vírus SARS-CoV-2 após a vacinação completa". Acrescenta: "Não foi observada redução da efetividade das vacinas mRNA contra internamentos e óbitos até três meses depois da toma da segunda dose, em pessoas com 80 ou mais anos de idade".

No grupo etário entre os 65 e os 79 anos, a efetividade da vacina contra internamentos foi de 94% e de 82% para os indivíduos com 80 ou mais anos de idade. Já em relação aos óbitos associados à COVID-19, os investigadores estimaram uma efetividade vacinal de 96% e 81%, respetivamente.

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt