Nobel para a descoberta dos mecanismos do relógio biológico

Três investigadores norte-americanos foram distinguidos pelo trabalho que levou à descoberta dos mecanismos moleculares que controlam o ritmo circadiano

"Respira!". Foram estas as primeiras palavras que a mulher disse a Michael Rosbash quando este recebeu o telefonema do Comité do Prémio Nobel a dar-lhe conta que tinha ganho o galardão da medicina juntamente com Jeferry C. Hall, Michael Rosbash e Michael W. Young. Os três investigadores norte-americanos foram premiados pela descoberta dos mecanismos moleculares do ritmo circadiano. Ou seja, os mecanismos que controlam o relógio biológico e que explicam como os seres humanos, plantas e animais adaptam o ritmo biológico de forma a estar sincronizado com o movimento da terra.

"O telefone tocou durante a noite e acordou-me. Fiquei sem respirar, literalmente", confessou Michael Rosbash em entrevista ao site oficial do Prémio Novel. O entrevistador brinca com a ironia de lhe ter interrompido o sono, fundamental para manter o relógio biológico sincronizado, para falar da investigação sobre os mecanismos do ritmo circadiano. "Isto aconteceu mesmo?", desabafava Michael W. Young, também em declarações ao mesmo site, dizendo que tinha a "cabeça a girar" desde que tinha sido informado que era um dos vencedores.

"Há muitos anos que sabemos que os organismos vivos estão dotados de um relógio interno, biológico, que os ajuda a antecipar e adaptar ao ritmo regular de cada dia. Mas como funciona este relógio?", lançava o Comité Nobel no comunicado que anunciava os três vencedores e que justificava a atribuição do galardão: "Com extraordinária precisão, os nossos relógios internos adaptam a nossa fisiologia às tremendamente diferentes fases do dia [24 horas]. Estes relógios regulam funções essenciais como o comportamento, o sono, a temperatura do corpo e seu metabolismo. O nosso bem-estar é afetado quando se verifica um desajustamento temporário entre o ambiente externo e este relógio interno".

Jeffrey C. Hall e Michael Rosbash, que lecionaram na Universidade Brandeis, em Boston, e Michael Young, na Universidade Rockfeller, em Nova Iorque, usaram moscas da fruta para isolarem o gene que controla o ritmo biológico normal e demonstrarem como este gene origina uma proteína que se acumula na célula durante a noite e se degrada durante o dia.

"O que investigadores descobriram foi que em todas as nossas células existe um relógio biológico. Ou seja, existem genes que têm um ritmo circadiano. Mas além disso, há um relógio biológico central, o nosso pacemaker, que existe no cérebro, no hipotálamo. Esse relógio central é como se fosse o maestro do nosso ritmo circadiano e uma das coisas que mais regula o nosso ritmo circadiano é a terra, é a noite e dia", explica Cláudia Cavadas, investigadora do Centro de Neurociências da Universidade de Coimbra que trabalha esta área mas relacionada com o envelhecimento, que destaca: "Descobriram ainda que podemos tirar uma célula e colocá-la em cultura e durante um determinado tempo, alguns dias, mesmo não tendo o pacemaker, não tendo luz, tem um ritmo circadiano. Isto é muito relevante, porque já se descobriu que desregulando este ritmo circadiano, trocando as noites pelos dias, pode haver patologias. Trocar os dias pelas noites tem um impacto nas células do intestino e do estômago porque é suposto as células do estômago renovarem-se à noite. Pode ocorrer, por exemplo, o aumento da propensão de alguns tipos de cancro do estômago e intestino".

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