Museu da Carris reabre renovado com uma réplica da entrada original do ascensor da Bica
O encerramento temporário do museu em dezembro devido à pandemia foi a desculpa para a Carris levar a cabo dois objetivos no seu espaço de exposição na Estação de Santo Amaro: retirar o espólio do Metropolitano de Lisboa que estava no local - e que neste momento já não fazia sentido devido ao facto de as duas empresas já não serem geridas pelo mesmo acionista (a Carris passou para a esfera da Câmara de Lisboa em 2017) - e renovar o espaço, acrescentando peças à exposição.
A reabertura do Museu da Carris esteve prevista, inicialmente, para 15 de fevereiro, mas só vai reabrir amanhã .Esta mudança de data deve-se a atrasos nas obras, orçadas em 30 mil euros, mas deve-se igualmente à evolução da pandemia em Portugal. Quanto às novidades, elas vão passar pela troca da localização entre o Serviço Educativo e a loja, que passa a estar junto às bilheteiras, mas também passa por novos pontos de exposição no Núcleo I do museu. "Vamos colocar os torniquetes, já recuperados, que estavam no Ascensor da Bica, e vamos expor o seu letreiro original. Com isto vamos recriar uma zona cenicamente montada, que relembra a entrada do ascensor, na qual vamos convidar o visitante a tirar algumas selfies. Vamos ter também, nessa zona, um ecrã tátil para o visitante poder fazer uma visita virtual ao próprio museu, que é algo em que apostámos no nosso site desde 2020 e que agora poderão fazer dentro do museu", explica Ema Favila Vieira, secretária-geral da Carris, ao DN, acrescentando que irão ainda atualizar a exposição das fardas da empresa.
"Nas salas temáticas vamos ter mais um espaço que é a representação de uma barbearia. Antigamente, era um dos serviços que tínhamos aqui na Estação de Santo Amaro", refere Miguel Sousa, responsável pelo Museu da Carris, adiantando que este espaço se vai juntar à representação dos espaços administrativos, do posto médico e da Banda da Carris.
Um dos grandes sucessos entre os visitantes é o facto de a ligação entre os dois núcleos do museu ser feita numa viagem de elétrico. "Há muita gente que anda pela primeira vez de elétrico aqui no museu. Ainda por cima, é recreado o ambiente dos primeiros elétricos, de 1901, creio eu, quando inaugurámos a primeira carreira", lembra Ema Favila Vieira. E aqui também haverá uma novidade, com a montagem cénica de uma paragem no final do primeiro núcleo, onde as pessoas se poderão sentar e esperar pelo elétrico.
O Núcleo II é composto pela exposição de antigos autocarros e elétricos que fazem parte da história da Carris. Aqui não haverá novidades, mas muito a aprender, como o facto de haver elétricos com alcunhas como "Palhinhas", "Boi", "Caixote" ou "Salão" e o facto de alguns autocarros terem a traseira na diagonal por causa das colinas de Lisboa. Todos eles estarão expostos no museu. "A visita é muito interativa. As pessoas podem entrar, às vezes veem os motores a funcionar, apitam, é uma experiência única", diz Joana Gomes, coordenadora do Serviço Educativo do Museu da Carris, ao DN. "Por exemplo, originalmente, o Boi é o 801, mas acabaram por chamar isso a toda a frota, da qual só fizeram dez carros, que são de 1939. O 801 era o que saía mais à rua e as pessoas em vez de números liam letras e então diziam "vem aí o Boi" e como eram só dez carros sempre que viam um 800 diziam que eram o Boi", conta a mesma responsável.
Cerca de 80% dos visitantes do museu são escolas, o que levou a uma aposta maior no Serviço Educativo com estas obras de renovação. "Dos restantes 20%, a maioria são turistas. Sendo que, nos últimos tempos, até porque criámos algumas atividades ao fim de semana, temos tido cada vez mais famílias a visitar-nos", refere Miguel Sousa.
Antes da pandemia, este espaço museológico recebia uma média de 20 a 25 mil visitantes por ano. "A expectativa é que, em breve, consigamos chegar aos números que tínhamos, o que me parece uma meta facilmente atingível. Mas o que queremos é, no espaço de um ano, ter mais 20% de visitantes em relação a esse número", acrescenta o responsável do museu.
O primeiro grande sinal da aposta redobrada no serviço educativo é a sua mudança de instalações para um espaço maior, movendo a loja do museu, passando-a assim para junto do Núcleo II.
"Como estamos a fazer uma remodelação, também na tipografia, descobrimos imenso material, nomeadamente zincogravuras. Por isso, vamos ter uma oficina nova só dedicada à ideia de impressão tipográfica, como se fosse carimbo/gravura, que é uma novidade no programa", refere Joana Gomes, a coordenadora do Serviço Educativo do Museu da Carris.
Mas a grande aposta vai ser no público sénior que, segundo Joana Gomes, é o preferido dos guias do museu, "provavelmente até mais do que as crianças". "Eles adoram visitar o museu porque têm uma relação muito grande com a história do museu e dão-nos sempre um grande contributo", diz a mesma responsável.
É precisamente esse fator da contribuição dos mais velhos que será uma das novidades da reabertura. "Vamos criar uma nova atividade com os seniores na lógica da utilização do nosso arquivo fotográfico, porque vamos ter muito mais peças expostas em termos de fotografias antigas. São eles o público que melhor se relaciona com essas peças. Nós chamamos-lhes as "memórias da cidade" e é uma ideia de tertúlia entre os seniores, na qual eles nos contam as histórias e nós vamos tentar encontrar imagens que, de acordo com essas histórias, reproduzam as memórias. O objetivo é tentar manipular essas fotografias com eles", adianta Joana Gomes. Os testemunhos recolhidos nestas tertúlias serão publicados periodicamente no site do museu.
Em relação ao público mais novo, o tradicional livro com a história da Carris, desdobrável e com pop-ups, será atualizado para uma versão gigante (maior do que um A3), mais fácil de manusear pelas crianças e que já contará com as novidades da exposição do museu.
A Carris faz 150 anos a 18 de setembro, mas as celebrações serão marcadas com várias iniciativas ao longo do ano. O momento alto é o tradicional Desfile de Clássicos, que se realiza na semana do aniversário da empresa e durante o qual vários elétricos e autocarros do Museu da Carris saem às ruas de Lisboa. O desfile é aberto ao público, sendo que há um limite de inscrições, consoante a capacidade de ocupação dos veículos.
"Vamos ter aqui no museu um conjunto de exposições temporárias. Uma terá por objeto a publicidade no transporte público, dentro dos nossos veículos, esta será em maio. Vamos ter outra de um fotógrafo chamado Américo Simas, que tem um repertório bastante completo com fotografias a preto e branco da Carris e que quer, através das suas fotografias, passar um bocadinho o lado mais emocional do que é ser transportado pela Carris e da relação com o lisboeta", explica Ema Favila Vieira, secretária-geral da empresa.
A Carris está ainda a articular com a Câmara Municipal de Lisboa a escolha do local para a realização de uma exposição fotográfica de rua com duas dezenas de múpis amovíveis, que servirá para ilustrar a história da empresa.