Mortalidade alta impede regresso total a uma "vida normal"
Mais "um passo para o regresso a uma vida normal" mas "este não é o momento para se dizer que a pandemia acabou".
Foi assim que, ontem, a ministra da Presidência, Mariana Vieira da Silva, explicou as novas medidas governamentais de alívio das restrições pandémicas, após mais uma reunião do Conselho de Ministros.
Qualificando o momento como "muito importante", precisamente pelo que representa de caminho de regresso à normalidade, a ministra não deixou, porém, de aconselhar prudência: "Continuamos perante o risco relativo ao aparecimento de novas variantes do vírus e há alguma incerteza sobre a longevidade da proteção de imunidade conferida pelas vacinas."
Segundo Mariana Vieira da Silva, o alívio das medidas de controlo da covid-19 só é agora possível pelo "cumprimento dos portugueses das normas restritivas aplicadas, mas também pela evolução da ciência com as vacinas que existem ao dispor". "Verificou-se um sentido cívico dos portugueses, que se vacinaram em largo número ao longo destes meses", disse.
Citaçãocitacao"Temos hoje 63 mortes por um milhão de habitantes a cada 14 dias e a meta definida pelos peritos e que o governo seguirá é de poder apenas passar para o nível sem restrições quando atingirmos as 20 mortes a 14 dias, indicador do qual ainda estamos algo distantes."
E isto antes de deixar elogios aos profissionais de saúde, falando em "todos aqueles que, ao longo de dois anos, em condições tão difíceis, garantiram o funcionamento do Serviço Nacional de Saúde". "Este é um momento muito significativo de regresso a uma vida mais normal, com menos restrições. Desde o primeiro dia, este governo sempre disse que só tomaria as medidas que fossem estritamente necessárias, nunca indo além das necessárias", acrescentou. Face ao atual quadro epidemiológico do país, com uma redução clara do indicador de transmissão da doença, assim como da sua incidência na população, a ministra de Estado e da Presidência concluiu que "há condições para se dar um passo significativo no regresso à normalidade".
As novas medidas irão entrar em vigor o mais rapidamente possível, assim que o Presidente da República as promulgar (e o governo prometia enviá-las ontem mesmo). Na hierarquia dos estados de exceção previstos na Lei de Bases da Proteção Civil, Portugal passa agora à situação mais "leve", baixando de situação de calamidade para situação de alerta.
O que levou o governo a determinar o levantamento de várias restrições foi a melhoria de vários indicadores da pandemia.
Segundo os dados apresentados pelo executivo, o índice de transmissibilidade [R(t)[ - que estima o número de casos secundários de infeção resultantes de cada pessoa portadora do vírus - está agora nos 0,76 e a incidência acumulada a sete dias baixou para os 1302,7 casos de infeção por 100 mil habitantes. Em queda está também o número de internamentos em enfermaria e em unidades de cuidados intensivos, que, de acordo com o boletim de hoje da Direção-Geral da Saúde, baixou para os 2022 internados, dos quais 132 em unidades de medicina intensiva.
Há, porém, um indicador que, por ora, trava o levantamento total das restrições. Esse indicador é o número de mortes diárias. Será preciso que Portugal atinja os 20 óbitos a 14 dias por um milhão de habitantes, o limiar definido pelo Centro Europeu de Controlo e Prevenção de Doenças (ECDC).
"Temos hoje 63 mortes por um milhão de habitantes a cada 14 dias e a meta definida pelos peritos e que o governo seguirá é de poder apenas passar para o nível sem restrições quando atingirmos as 20 mortes a 14 dias, indicador do qual ainda estamos algo distantes", afirmou a ministra da Presidência. Dito de outra forma: o número de óbitos provocados pela covid-19 "é ainda muito elevado", tendo-se registado 46 mortes na quarta-feira, e 42 ontem (ver números ao lado) sendo este o "indicador que ainda se encontra mais distante dos objetivos definidos" pela ECDC.
As novas medidas governamentais suscitaram poucas reações partidárias. A Iniciativa Liberal (IL) criticou o executivo por, apesar do alívio das medidas devido à covid-19, ter mantido obrigatório o uso das máscaras em espaços fechados, nomeadamente nas escolas, considerando que esta é "uma falha grave" do executivo.
Em comunicado, a IL começou por saudar que "finalmente se tenham eliminado" algumas das restrições e "avançado no sentido da reposição de uma normalidade social e de respeito pelos direitos individuais dos portugueses". Mas, ao mesmo tempo, condenou "veementemente" o governo por não ter "alterado a obrigação de uso de máscara em espaços fechados, nomeadamente nas escolas".
"As crianças e os jovens continuarão a ver o seu desenvolvimento muito prejudicado na aquisição de linguagem, na comunicação, na expressão e na socialização. É urgente proceder à recuperação da aprendizagem e dos prejuízos que a pandemia causou no desenvolvimento das crianças e jovens, pelo que esta é uma falha grave do governo", lê-se no comunicado.
Já o Chega disse esperar que agora o governo aprove um um "pacote de apoio económico" a setores como a restauração, hotelaria ou diversão noturna.