Ministro acusa sindicatos da CP de usar a greve para "parar o país por interesse político”
O ministro das Infraestruturas, Miguel Pinto Luz, acusou esta quarta-feira os sindicatos que representam os trabalhadores da CP – Comboios de Portugal de terem parado o país com uma greve marcada por interesse político, em altura de eleições.
“[Os sindicatos] conseguiram parar o país por interesse político e tem a ver com o ‘timing’ em que estamos, em eleições”, defendeu Miguel Pinto Luz, em declarações à margem da cerimónia de entrega de Certificados Energéticos da Medway - Operador Ferroviário de Mercadorias, em Lisboa.
Para o governante, a greve na CP, que, segundo a Federação dos Sindicatos dos Transportes e Comunicações (FECTRANS), está a ter uma adesão de 100%, “só serve os interesses dos sindicatos” e não os da empresa e dos seus trabalhadores.
“Mas mais importante - e é a mensagem que quero deixar hoje aqui - não serve os portugueses, centenas de milhares de portugueses hoje prejudicados”, acrescentou Pinto Luz.
O ministro das Infraestruturas e Habitação vincou que o Governo “não cede a pressões” e que tentou negociar com os sindicatos, “indo ao limite” do que a lei permite a um executivo em gestão.
“Os sindicatos tiveram uma proposta há dois dias, estivemos até às 23:00, eu próprio a liderar as negociações, [os sindicatos] não quiseram”, avançou o ministro, acusando os representantes dos trabalhadores de quererem prejudicar os portugueses e parar o país “de uma forma injusta”.
Questionado sobre o eventual reforço de outros meios de transporte, Pinto Luz avançou que se está “a tentar ao máximo” encontrar medidas alternativas, mas “há limites”.
Na terça-feira, em conferência de imprensa, o ministro tinha apelado aos sindicatos da CP para que desconvocassem a greve, que considerou “vazia de objetivos”, revelando ter apresentado uma proposta de aumentos salariais no valor de 5,75 milhões de euros, à qual não obteve resposta.
A CP já tinha alertado hoje para a possibilidade de “fortes perturbações na circulação” a partir de quarta-feira, e até 14 de maio, devido a greves convocadas por vários sindicatos, e por não terem sido definidos serviços mínimos pelo Tribunal Arbitral do Conselho Económico Social.
“Independentemente da bondade ou da justiça dos aumentos exigidos, a situação de Governo de gestão, impede que se ultrapasse a barreira de 4,7% de aumento da massa salarial constante em despacho do Governo, bem como ultrapassar o valor definido no Plano de Atividades e Orçamento da CP para 2025”, explicou o ministro, na terça-feira.
Pinto Luz lembrou que a CP garante a mobilidade de 700 mil portugueses diariamente que recorrem aos seus serviços.
“Os portugueses estão fartos das greves na CP, querem é ir trabalhar”, acrescentou.
Sindicatos exigem ao Governo “mais ações do que discurso"
A Fectrans exigiu entretanto ao Governo mais ações do que discurso, para resolver a greve na CP – Comboios de Portugal, que continua com 100% de adesão, considerando que “dizer ‘é isto ou nada’ não é uma posição de negociação”.
“Do ministro exige-se mais ações do que discurso”, considerou o coordenador da Federação dos Sindicatos dos Transportes e Comunicações (Fectrans), José Manuel Oliveira, em declarações à Lusa.
Segundo a federação de sindicatos, a greve desta quarta-feira, sem serviços mínimos, continuava, às 13h00, a manter parada a circulação de comboios da CP em todo o país, sendo este o cenário esperado para todo o dia.
“O ministro em vez de andar a fazer discursos públicos, devia ter, de facto, maleabilidade para discutir e não chegar a uma reunião e dizer ‘é isto ou nada’, isto não é uma posição de negociação”, apontou José Manuel Oliveira.
O ministro das Infraestruturas e Habitação, Miguel Pinto Luz, acusou hoje os sindicatos que representam os trabalhadores da CP de terem parado o país com uma greve marcada por interesse político, em altura de eleições, vincando que o Governo “não cede a pressões” e que tentou negociar com os sindicatos, “indo ao limite” do que a lei permite a um executivo em gestão.
“O ministro tem de ter em conta que nós estamos a reivindicar um acordo que foi feito e, até nas palavras dele, sustentado nas posições do ministério. Esse acordo foi feito no dia 24 de abril, não se percebe porque é que dois dias depois, a CP diz que não o pode aplicar porque não tem aval do ministro”, explicou o coordenador da Fectrans, considerando que Pinto Luz ou “estava de má fé”, ou não sabia que pelo facto de o Governo estar em gestão, não podia sustentar o acordo alcançado entre a empresa e os sindicatos, que a administração considerou “histórico”.
Segundo o dirigente sindical, o ministro não fez qualquer proposta aos sindicatos na segunda-feira, mas sim comunicou ter sido encontrado um “alçapão na lei” que permitia autorizar a CP a implementar uma parte do acordo, correspondendo a 5,7 milhões de euros.
“Se os juristas conseguem encontrar ‘alçapões’ para isso, também podem encontrar ‘alçapões’ para garantir que, independentemente daquilo que vier a acontecer no próximo quadro eleitoral, os trabalhadores, no mínimo, têm garantias que aquilo que já foi acordado, que as expectativas que foram criadas, que o trabalho que foi feito pela administração e pelos sindicatos, não tenha de voltar à estaca zero”, salientou José Manuel Oliveira.
A federação de sindicatos reiterou, assim, a sua disponibilidade para “conversar o tempo que for necessário”, para que o “conflito que está instalado possa interromper-se o mais rapidamente possível”.
“Mais do que discursos, nós efetivamente queremos da parte do Governo abertura para as soluções e não chegar a reuniões e dizer ‘a solução que encontrámos é esta e isto não é discutível, não há discussão possível’, isto não é solucionar nada”, vincou o sindicalista.
A paralisação, que se prolonga até 14 de maio, foi convocada contra a imposição de aumentos salariais “que não repõem o poder de compra”, pela “negociação coletiva de aumentos salariais dignos” e pela “implementação do acordo de reestruturação das tabelas salariais, nos termos em que foi negociado e acordado”, segundo os sindicatos.
A greve terá um especial impacto nos dias de hoje e quinta-feira, devido ao maior número de sindicatos (14) que aderiram à paralisação nestes dias.
Por decisão do Tribunal Arbitral, as greves não têm serviços mínimos.