Meta dos 70% com a primeira dose da vacina a 8 de agosto pode estar "comprometida"
O vice-almirante Henrique Gouveia e Melo, coordenador da task-force do plano de vacinação, está a ser ouvido na Assembleia da República em comissão parlamentar, e afirmou que "as principais preocupações" continuam a estar relacionadas com "a disponibilidade das vacinas" a regularidade com que chegam ao território nacional.
"Estamos agora a vacinar ligeiramente acima das 100 mil vacinas por dia e se aumentarmos os horários, que é coisa que fazemos, podemos ir até às 140 mil vacinas por dia", afirmou aos deputados.
"A expectativa de terminar os 70% das primeiras doses a 8 de agosto tem sido comprometida por adiamentos de entregas e por redução de vacinas em duas marcas", admitiu Gouveia e Melo.
"Estou a fazer o melhor que posso para otimizar os stocks que temos e a gestão desses stocks de modo a cumprir essa meta, no entanto, julgo que é prudente dizer que essa meta pode atrasar-se até 15 dias relativamente ao esperado", caso se mantenha a redução das entregas previstas das doses de vacinas, esclareceu
O coordenador do plano de vacinação afirmou que caso a redução seja muito grave esta meta será posta em causa, porque "estamos dependentes das vacinas que chegam ao território nacional".
Ainda sobre a meta dos 70% da população com a primeira dose da vacina, Gouveia e Melo não deu uma data especifica, caso a meta de 8 de agosto seja, de facto, comprometida, devido à redução de doses esperadas. "Eu direi que será nas primeiras três semanas de agosto. Usaremos todos os stocks que temos para conseguir atingir essa meta até 8 de agosto, mas eventualmente poderá ser 15 ou dia 20 de agosto", explicou.
Aos deputados, o coordenador da task force disse ainda que não tem tido falta de recursos humanos no processo de vacinação.
Gouveia e Melo revelou também que a estimativa é começar a vacinar os jovens a partir dos 18 anos a 4 de julho. "Dentro de 15 dias temos todas as faixas etárias em processo de vacinação", afirmou.
"Tenho ouvido que a solução é vacinar mais. Dá a sensação que nós, de alguma forma, não estamos a vacinar ao máximo. Queria deixar claro que nós estamos a vacinar ao máximo que podemos", disse o vice-almirante Gouveia e Melo aos deputados, durante a audição na comissão parlamentar.
"Temos stocks bastante limitados e arriscamos bastante na esperança sempre que cheguem vacinas na semana seguinte", explicou. Referiu que, por vezes, as doses de vacinas prometidas "acabam por não ser cumpridas".
"Este processo é muito dinâmico. Temos que ter stock mínimo de vacinas para garantir que não comprometemos as segundas doses", caso haja uma quebra no fornecimento, esclareceu.
Depois de termos passado a faixa dos 60 anos, o vice-almirante Gouveia e Melo afirmou que pretende-se agora a reequilibrar as percentagens de vacinação no país, de modo a ter "as percentagens iguais em todo o território".
O combate agora tem um foco diferente, considerou. Antes era proteger as pessoas mais vulneráveis e agora passa por ter uma "vacinação uniforme no território nacional, porque o vírus não escolhe se vai atacar uma pessoa de 20 anos ou de 70 anos. O vírus é oportunista e procura suscetíveis", referiu o coordenador da task force.
O objetivo é equilibrar as regiões todas para terem a mesma percentagem de vacinação, "de modo a avançarem de forma uniforme nessa percentagem", salientou.
Questionado sobre o porquê de não estarem a ser usadas as farmácias para acelerar a vacinação, Gouveia e Melo justificou com a dificuldade de ter um espaço para o recobro de 30 minutos necessário após a vacinação.
"As farmácias não estão excluídas por nenhuma razão económica ou ideológica, mas por razões práticas. (...) É preciso fazer um recobro de 30 minutos após a vacinação e isso torna impraticável o processo na maior parte dos casos. Pode haver farmácias que tenham esse espaço, mas a maior parte não tem. E mesmo as que têm, estaríamos a falar de vacinar três a quatro pessoas por dia, o que não tem significado", afirmou.
Sobre a possibilidade de usar os hospitais, o coordenador do grupo de trabalho para o Plano de Vacinação disse que apenas seria uma hipótese se não se conseguisse aumentar a capacidade com os atuais meios.
"Se não conseguirmos aumentar a capacidade teremos de recorrer aos hospitais, mas isso significa stressar um sistema que já por si continua em stress para recuperar os atos que ficaram para trás por causa da pandemia. Estamos a vacinar de forma confortável com os recursos que temos ", disse Gouveia e Melo.
Sobre a diferença de ritmo de vacinação nos diversos dias da semana o coordenador da task force disse que os domingos são os dias com ritmo mais baixo e que a vacinação nestes dias já estava a ser intensificada.
"Vamos aumentar o ritmo ao domingo para chegar ao dos outros dias. Estamos a aumentar capacidades e a readaptar, em termos geográficos, pois há zonas que precisam de mais meios agora do que outras", disse Gouveia e Melo, lembrando que estão a sair para o mercado de trabalho 3000 novos enfermeiros (recém-formados) e que é preciso encontrar forma de contratar.
"Sendo o processo de vacinação um processo crítico para o país, não parece que vá haver poupança. Tenho tido sempre indicação de que os recursos me serão disponibilizados para cumprir o plano", sublinhou.
Sobre qual é o prazo para o final da missão da task-force, sobretudo tendo em conta a hipótese de ser necessária eventualmente uma terceira dose de vacina no futuro, Gouveia e Melo disse que será "em agosto, com os 70% de vacinação, ou em setembro, quando se prevê que perto de 90% da população esteja vacinada com pelo menos uma dose e cerca de 70% com a segunda, o processo vai perdendo velocidade e passa a ser mais tranquilo".
Contudo, lembrou, "se houver necessidade de uma terceira dose, e, mais tarde, de reforçar com uma quarta dose, o processo não tem fim. Aí, o processo de organização da task-force vai-se enraizando no Ministério da Saúde, (...) que tomará conta do processo, uma vez passada a emergência. Estamos a meio da emergência, mas já começamos a ver a luz ao fundo do túnel".
Com Lusa
Atualizado às 12:54