Máscara. Findo o uso obrigatório, eis o balanço: Portugal pior que UE em quase tudo

A não ser nas unidades de saúde e nos lares de idosos, a vida voltou a ser possível sem máscara. Deixou de ser obrigatória nos transportes e até nas farmácias. O DN faz um balanço global comparativo da situação portuguesa em termos de mortos e infetados

É o fim de um tempo, poderoso símbolo do regresso à normalidade pré-covid - mas agora com a doença ainda por aí, continuando a infetar e a matar, mas fazendo parte da vida, como todas as outras doenças. A ministra da Saúde, Marta Temido, anunciou ontem que o uso de máscara nos transportes públicos deixou de ser obrigatório. "Atendendo à manutenção da evolução favorável, com uma tendência controlada da utilização dos cuidados de saúde e também com a informação cientifica disponível, [o Conselho de Ministros] entendeu ser adequado pôr fim à obrigatoriedade de utilização de máscaras ou viseiras nos transportes públicos de passageiros e também em táxis e TVDE", afirmou.

A obrigatoriedade foi imposta em 13 de março de 2020, pelo decreto nº 10-A, quando ainda não tinha morrido ninguém de covid em Portugal (a primeira morte foi noticiada três dias depois).

Foi portanto há 892 dias (dois anos, cinco meses e nove dias). Ou seja, o uso de máscara em transportes públicos deixa de ser obrigatório depois de mais de metade da população portuguesa (5,4 milhões) ter sido infetada; e depois de quase 25 mil pessoas terem morrido (24 797, segundo os dados mais recentes). O uso da máscara só se mantém agora obrigatório nas unidades de saúde e nos lares de idosos. Também deixou de o ser nas farmácias e nos aviões. O decreto governamental aguarda agora promulgação presidencial.

A máscara começou a tornar-se uma imposição logo em março de 2020 e depois agravou-se em outubro do mesmo ano, quando o Parlamento avançou para a obrigatoriedade do uso nas ruas, "sempre que o distanciamento físico recomendado pelas autoridades de saúde se mostre impraticável". Só em abril passado, mais de dois anos depois da chegada da pandemia a Portugal, é que o Governo determinou o fim da máscara nas salas de aula.

O balanço possível, agora após este regresso à normalidade, revela - a partir de dados da Our World In Data - que, nos dois itens mais importantes para a avaliar as consequências da pandemia - infetados e mortes - Portugal ficou pior do que a média europeia. Na verdade, só há um valor em que Portugal mostra uma situação (ligeiramente) melhor do que a da média da UE: no número total de mortos (per capita) registados desde o início da pandemia (ver quadros em cima).

27,8 mortes por dia

De resto, nas outras comparações com a UE, Portugal está sempre abaixo da média da UE. Está (bastante) pior nos valores (per capita) que revelam a situação atual (novos infetados por dia e novos mortos por dia) e também pior no número total de infetados per capita desde o início da pandemia. Ao todo, Portugal registou uma média de 27,8 mortos por dia desde que o covid-19 chegou e de 6054 novos infetados em cada 24 horas.

As comparações também não correm bem quando de um lado estão os valores nacionais e do outro os valores médios do mundo inteiro. Aí a situação é sempre pior seja qual for o item escolhido, infetados ou mortos, por dia atualmente ou no cômputo geral. Mas aqui pode também estar em causa o facto de as médias mundiais serem distorcidas pela falta de fiabilidade de muitos números nacionais.

Ontem a ministra da Saúde anunciou também que a vacinação contra a covid-19 e a gripe sazonal deverá arrancar no dia 5 de setembro, antecipando um parecer da Agência Europeia de Medicamentos sobre vacinas combinadas dias antes. "Aquilo que se mantém como planeamento do Ministério da Saúde é o início da campanha de vacinação combinada entre covid-19 (reforço sazonal) e gripe sazonal na semana que se inicia a 5 de setembro", disse Marta Temido.

A ministra falava aos jornalistas em conferência de imprensa no final da reunião do Conselho de Ministros e questionada sobre a preparação do período de outono e inverno na Saúde sublinhou que, quanto à pandemia da covid-19, a vacinação continua a ser a medida mais eficaz.

Remetendo para 2 de setembro a apresentação da estratégia de reforço de vacinação contra a covid-19 e a gripe sazonal, Marta Temido antecipou que esse processo deverá arrancar na segunda-feira seguinte, dia 5.

joao.p.henriques@dn.pt

Mais Notícias

Outros Conteúdos GMG