Ao DN, Marcelo Rebelo de Sousa reforça a urgência de vencer “a batalha crucial” contra a pobreza. “Um drama coletivo.” O Presidente da República ressalva “as carências básicas de educação ou outras, da saúde à alimentação e à habitação”, as crises na economia e sociedade e o envelhecimento da população, contributos para “uma chaga” que se perpetua “de geração em geração”, considerando que as estruturas sociais do Estado e as ajudas sociais concedidas apenas proporcionam alívios, não invertendo “a realidade estrutural e a sua rigidez”. Declaração na íntegra: “Desde sempre, o sermos universais foi o nosso desígnio nacional. Plataforma entre oceanos, continentes, povos, culturas, civilizações. Mas só o seremos se vencermos duas batalhas cruciais: a da Pobreza e a da Educação. Sem conseguirmos vencer a chaga da Pobreza, que significa o contrário da coesão social e territorial e a exigência de níveis mais elevados e de igualdade perante a Educação, estaremos sempre a ficar aquém do que devemos ser e temos de ser. A Pobreza estrutural persiste e continuamos mal colocados na Europa, com o envelhecimento da população, as crises vividas na economia e na sociedade e a perpetuação de geração para geração, por carências básicas de educação ou outras, da saúde à alimentação e à habitação. E nem mesmo os períodos de crescimento - muito limitados - permitiram uma inversão dessa tendência. O que quer dizer que as nossas economia e sociedade são muito permeáveis às crises importadas e que a demografia - ou seja, o envelhecimento -, o crescimento económico e a atenuação das desigualdades não estão a contribuir para a resolução de um drama coletivo, feito de um universo muito vasto de dramas pessoais. Mesmo as estruturas sociais do Estado, os Poderes Regionais e Locais e as ajudas sociais concedidas apenas proporcionam alívios, esbatendo os números globais da pobreza, mas não invertem a realidade estrutural e a sua rigidez. É urgente chamar a atenção e sublinhar a gravidade do desafio, com estudos destes, tendo por objetivo importante evitar que demasiados Portugueses se esqueçam dessa realidade ou façam de conta de que não é um problema seu. É dos outros. Até, um dia, descobrirem que o barco é o mesmo e de nada serve pensar-se que só uma parte dele se afunda, estando os restantes a salvo, por pensarem e sentirem que são ilhas isoladas do todo a que pertencem. As sucessivas crises externas e de repercussão interna têm alimentado esse egoísmo, sobretudo nos últimos 25 a 30 anos. Pensar primeiro, e, depois, quase só na salvação pessoal. Isso, longe de ajudar, só dificulta e atrasa a consciência e a resposta coletiva a um problema-drama que apenas coletivamente pode ser enfrentado.”.Estudo diz que um em cada cinco portugueses vive em pobreza ou exclusão social