Alterações climáticas. Marcelo apela aos jovens para lutar e Guterres pede desculpa

O Presidente da República e o secretário-geral da ONU estiveram na sessão de encerramento do Fórum da Juventude e Inovação da Conferência dos Oceanos, que decorreu até este domingo na praia de Carcavelos e juntou cerca de 150 jovens.
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O Presidente da República avisou este domingo os jovens para não confiarem nos decisores e lutarem por si contra as alterações climáticas e pelos oceanos, embora admitindo que há exceções e deixando elogios ao secretário-geral das Nações Unidas.

Marcelo Rebelo de Sousa discursava na sessão de encerramento do Fórum da Juventude e Inovação da Conferência dos Oceanos da ONU 2022 (UNOC - United Nations Ocean Conference), que decorre na praia do Carcavelos, e na qual participa também António Guterres.

"Têm de lutar por vocês, não confiem nos decisores, há exceções, há alguns serão sempre os vossos maiores aliados, mas não a maioria", disse, apontando o secretário-geral das Nações Unidas como uma das vozes "muito vocal e muito forte" neste campo.

O Presidente da República deixou, por isso, um conselho aos cerca de 150 jovens de 30 países que participaram neste Fórum: "A única forma de ser mais forte é lutar por isso e não acreditar que alguém lute por vocês".

No final da sua curta intervenção, Marcelo Rebelo de Sousa deixou ainda um convite, frisando que costuma nadar em praias como a de Carcavelos duas ou três vezes por semana. "Enquanto o secretário-geral da ONU dá entrevistas, convido-os a ir ao banho comigo", desafiou.

O Presidente da República começou por saudar precisamente António Guterres, seu amigo desde a juventude, de quem disse que "é sempre extraordinário". "Obrigada pelo seu empenhamento, pela sua ideia, pelo seu sonho. É o maior", elogiou.

Marcelo Rebelo de Sousa considerou "muito promissor" anteceder a Conferência dos Oceanos deste Fórum da Inovação, alertando que serão os jovens a ter um papel essencial nesta luta. "Ou ganham vocês ou perdemos todos, porque são mais e melhor futuro do que nós", avisou.

O chefe de Estado português saudou a presença de jovens de tantos países, muitos deles com "desigualdades e discriminações". "Lutar pelas alterações climáticas e pelos e oceanos é lutar contra desigualdades", defendeu, considerando que este combate permite "construir pontes económicas, sociais e políticas" entre várias gerações.

O secretário-geral das Nações Unidas pediu este domingo desculpa às novas gerações pela falta de atenção dada pelas gerações mais velhas e decisores políticos aos oceanos, sublinhando que ainda se está a caminhar lentamente para reverter o problema.

"Eu quero pedir desculpa, em nome da minha geração, à vossa geração, relativamente ao estado do oceano, ao estado da biodiversidade e ao estado das alterações climáticas", afirmou António Guterres, falando para uma plateia de jovens.

O português admitiu que a sua geração foi responsável politicamente pela degradação das condições dos oceanos, por ter sido lenta, ou mesmo "sem vontade de reconhecer que as condições se estavam a deteriorar no mar".

"Mesmo hoje, estamos a caminhar lentamente no sentido de reverter a tendência e reabilitar os oceanos, salvar a biodiversidade e parar as alterações climáticas", acrescentou.

O secretário-geral da ONU criticou alguns líderes económicos que "só querem saber do valor para os acionistas", dando como exemplo a indústria de combustíveis fósseis.

Para o responsável é preciso que a sua geração assuma a sua responsabilidade nos erros do passado. "Vocês [jovens] vão herdar um planeta em perigo e vai ser preciso que façam tudo o que é preciso para reverter as decisões políticas, económicas e também os comportamentos [...] Desejo-vos o maior sucesso, o sucesso que, infelizmente, a minha geração não conseguiu alcançar", vincou.

Também presente nesta sessão de encerramento, a ministra da Energia do Quénia, Monica Juma - país que coorganiza Conferência dos Oceanos com Portugal - salientou que, no Quénia, são sobretudo as novas gerações que lutam pelo desenvolvimento sustentável.

"Através dos vossos olhos, conseguimos olhar para o ambiente de forma diferente, não podemos continuar a viver como se os efeitos sobre o ambiente não existissem", salientou.

Monica Juma desafiou os participantes neste Fórum a transmitir a "pelo menos cinco pessoas o que aprenderam", e apelou a que mantenham a persistência, perante "um mundo de negação das alterações climáticas".

O ministro da Economia e do Mar, António Costa Silva, e o presidente da Câmara de Cascais, Carlos Carreiras, foram outros dos presentes nesta iniciativa, que acontece na véspera do arranque oficial da Conferência dos Oceanos.

A Conferência dos Oceanos das Nações Unidas (UNOC, sigla em inglês) vai realizar-se este ano em Lisboa (no Altice Arena), copresidida por Portugal e pelo Quénia, entre segunda e sexta-feira, e contará com a presença de chefes de Estado e de governo de todos os continentes.

São esperados mais de 7.000 participantes de mais 140 países, 38 agências especializadas e organizações internacionais, mais de mil organizações não governamentais, 410 empresas e 154 universidades.

Momentos antes destes discursos, os jovens foram surpreendidos na praia pelo ator Jason Momoa, conhecido por produções como Guerra dos Tronos ou Aquaman, que será entronizado, na segunda-feira, como embaixador das Nações Unidas para a Vida Marinha.

Enquanto esperavam, os jovens com idades compreendidas entre os 18 e os 35 anos, que participaram na maratona tecnológica de 24h Innovathon, desenvolvida pelo CEiiA-Centro de Engenharia e Desenvolvimento, gritavam palavras de ordem, como por exemplo, "parem a mineração em alto mar".

Jason Momoa, que não conseguiu chegar à praia de barco, como estava previsto, devido às condições do mar, acabou por ter se de dirigir a pé pela praia até ao local onde se encontravam os jovens, acompanhados pelo enviado especial das Nações Unidas para os Oceanos, Peter Thomson.

Num breve discurso, o ator natural de Honolulu, no estado do Havai, Estados Unidos, realçou que "é preciso corrigir os erros do passado", pelas gerações vindouras, "e parar o tempo de irresponsabilidade".

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