"Mapa da Califórnia de 1604 mostra Baía de Cabrilho e reforça que descobridor era português"

Durante séculos, a afirmação pelo cronista espanhol Antonio de Herrera y Tordesillas de que João Rodrigues Cabrilho era português não levantou dúvidas a ninguém e a comunidade portuguesa em San Diego sempre se orgulhou da estátua do compatriota descobridor da Califórnia. Mas uma investigadora canadiana tem uma tese diferente e fez surgir dúvidas sobre a nacionalidade do primeiro europeu a avistar a costa oeste dos atuais EUA. O investigador Paulo Afonso, baseado na Califórnia, tem dados novos a reforçar que Cabrilho nasceu português.
Publicado a
Atualizado a

João Rodrigues Cabrilho, o primeiro europeu na Califórnia, é tradicionalmente considerado português e até tem uma estátua em San Diego. A atribuição da nacionalidade do navegador baseia-se numa fonte espanhola, que é considerada de grande crédito, certo?
Sim, circa 1615 o cronista real espanhol, Antonio de Herrera y Tordesillas, escreveu que o descobridor da Califórnia foi "Juan Rodriguez Cabrillo", português e pessoa muito prática nas coisas do mar, acrescentando ainda que o capitão morreu de doença durante a expedição, sendo um bom homem e muito prático na navegação. Esta sempre foi a única referência direta ao Cabrilho português, mas, há uns meses, topei num detalhe importantíssimo num mapa da Califórnia de 1604, que mostra a Baía de Cabrilho (escrito com lh, em português) perto dos 40º Norte. O mapa é baseado em fontes espanholas, mas foi feito pelo cartógrafo florentino Matteo di Jacopo Neroni da Peccioli, que trabalhava para a corte dos Medici, tal como Galileu. Herrera deixou, pois, de estar sozinho, sendo esta Baía de Cabrilho outra prova fortíssima da sua nacionalidade portuguesa.

Houve recentemente uma investigação de uma historiadora canadiana que põe em causa Cabrilho ser português, dizendo sim tratar-se de Cabrillo, um espanhol. Qual a base da argumentação para contrariar a tese tradicional?
Em 2015-16 a historiadora Wendy Kramer descobriu documentos de grande alcance sobre a vida de Cabrilho. O trabalho dela é muito bom, mas proporcionalmente mau na parte da nacionalidade de Cabrilho. O grande erro de Kramer foi confundir ser natural de Palma del Rio (como Cabrilho afirmou), com ser nascido espanhol. Um exemplo paradigmático é o do testamento, de 1602, do piloto português Sebastião Rodrigues Soromenho, famoso por tentar mapear a costa da Califórnia em 1595, a sul do Cabo Mendocino. Soromenho afirmou que nasceu em Sesimbra, mas era natural de Lagos, onde casou e terá passado grande parte da sua vida. Esse era, muitas vezes, o significado de "ser natural de". Outro exemplo notório é o de Santa Teresa de Ávila, que morreu, em 1582, na vila de Alba de Tormes. Juntamente com a cidade de Ávila, reivindicaram, com razão, que ela era natural das duas localidades, tendo vivido muito tempo em ambas. Porém, no processo de beatificação foi preciso provar a Roma que Teresa nascera em Ávila. Por isso, por exemplo, Francisco Pizarro dizia-se "natural e nascido" em Trujillo. Outro exemplo ainda é a carta real de naturalização que Vespúcio recebeu em Espanha (em 1505), dizendo: "...daqui para a frente serás considerado natural destes meus reinos, como se aqui tivesses nascido..." Todos estes exemplos são bem conhecidos por qualquer historiador do assunto. Portanto, da parte dos defensores do Cabrilho espanhol, ou se trata de ignorância profunda, ou de má-fé, ao nem sequer discutirem a possibilidade da naturalização de Cabrilho. Em qualquer caso, fica-lhes muito mal.

A sua investigação sobre a nacionalidade de Cabrilho contraria a argumentação da investigadora canadiana e até já publicou no DN um artigo com dados novos a reforçar a tese do nascimento em Portugal. Pode explicar o que o faz crer que Cabrilho era de facto português?
Para além da aludida falácia do natural/nascido, encontrei o testamento, de 1547, de Bartolome Ferrer, o capitão-mor de Cabrilho. Paradigmaticamente, até aqui aceitava-se que Ferrer, sendo "natural levantisco" (como diz na relação da viagem de Cabrilho), nasceu no Levante espanhol. No testamento, porém, Ferrer disse que vinha de Albissola (perto de Savona). Ferrer era, sim, genovês e não espanhol, como importa corrigir. Depois obtive dados cronológicos de alta relevância, baseados no isótopo carbono-14, permitindo validar o início da década de 1530 como o tempo em que Cabrilho ofereceu um crucifixo à sua família Rodrigues em Lapela (de Cabril), de acordo com a sua tradição oral ancestral. Descobri ainda um documento de 1758 referindo o vizinho Monte Cabrilho (a 10 Km de Lapela), contrariando os que defenderam que Cabrilho não era sequer nome português. Temos ainda documentos (descobertos pelo Sr. Paleólogo Miranda Pereira) de uma família Rodrigues que vivia em Cabril, circa 1520. Da maior importância é ainda Alvar Nunes ser português e coproprietário do navio Alvar Núñez da frota de Pedro de Alvarado (o governador da Guatemala), construída por Cabrilho. Há também a possibilidade de António Fernandes, português, ser o dono do navio Anton Hernández da mesma frota. Por fim, há uma dezena de provas circunstanciais que permitem identificar "Juan Rodríguez portugués" com Cabrilho, cujo próprio filho afirmou que o pai foi dos primeiros povoadores da Nicarágua. Assim, o documento mais velho a atestar a nacionalidade portuguesa de Cabrilho data de outubro-novembro de 1529, estando simultaneamente em Léon da Nicarágua, "Juan Rodriguez portugués" e "Alvar Núñez português" na formação da guarnição de defesa das minas de ouro de Buena Esperança, que era o nome alternativo do navio de Alvar Nunes. Em 1536, está documentada a presença de "Johan Rodryguez portugues" (sic) e Cabrilho no mesmo contexto da revolta nas minas de Buena Esperança del Naco, desta vez nas Honduras, na continuidade das ligações entre muitos dos colonos da Nicarágua, Honduras e Guatemala. Cabrilho regressou de Espanha via Panamá, reaparecendo nos documentos da Guatemala em contacto com Pedro de Alvarado, perto da Nicarágua, em março de 1533. Ora "Juan Rodríguez português" - como Cabrilho era conhecido na Nicarágua, ressurge nos documentos da Nicarágua precisamente em março de 1533, vendendo uma arroba de vinho para as missas de Léon, Granada e das minas. Isso acontecia noutras ocasiões: mercadores vindos do Panamá traziam vinho espanhol, para venda na Nicarágua. Em julho de 1541, "Juan Rodríguez purtugués" (sic) viaja para a Colômbia com Pedro Rodríguez Picón. Em 1538, Cabrilho teve negócios no Perú com Pedro Fernández Picón. Juan Rodríguez portugués era uma sombra de Cabrilho, pois conhecia as mesmas pessoas que Cabrilho, estava nos mesmos sítios ao mesmo tempo e teria os mesmos parceiros de negócios. Se o Juan Rodriguez portugués não é o Cabrilho, só pode ser o irmão gémeo.

Muitos portugueses trabalharam para a Coroa espanhola no século XVI, o mais famoso deles Fernão de Magalhães. Além de Cabrilho, nas viagens de descoberta da costa do Pacífico e sobretudo da Califórnia, há mais portugueses?
Sim há, sendo um exemplo notório as desventuras cinematográficas do endiabrado piloto luso-africano Lope Martim de Lagos. Foi o primeiro a encontrar a rota de regresso das Filipinas à costa da Califórnia (subindo ao largo do Japão), em 1564-1565, meses antes de Urdaneta. Temos ainda Martim da Costa, que era do Porto, piloto de Hernando de Grijalva na expedição de 1533 que Cortés enviou à Baixa Califórnia/Revillagigedo. Martim morreu no Pacífico durante a expedição de Grijalva às Molucas (1536-1539). Não cabendo aqui todos os exemplos, menciono ainda o português Gaspar Rico, que era de Almada. Foi o piloto-mor da expedição de Ruy Villalobos (preparada por Cabrilho) no batismo das Filipinas, em 1542-1543. As obras da professora Maria da Graça Ventura, sobre a presença dos portugueses na América espanhola, revelam mais exemplos, entre os quais António Fernandes, de Lisboa, carpinteiro de fazer navios e caravelas. Chegou ao Darién em 1515, um ano depois de Cabrilho. Encontramos depois um António Fernandes português, à procura de ouro dentro do vulcão de Masaya (perto de Granada), na Nicarágua, em 1538. Muitos dos colonos do Panamá migraram anos depois para a Nicarágua, como fez Alvar Nunes, sendo possível que este António Fernandes fosse o dono do navio Anton Hernández. Categoricamente sabemos que Alvar Nunes não foi na viagem de Cabrilho, mas seria o dono do segundo maior navio da frota. Por fim, referir o mestre (ou capitão de navios), António Correia, de Viana do Castelo, que foi com Cabrilho.

A comunidade académica americana entrou neste novo debate da nacionalidade de Cabrilho ou é um assunto dado por esclarecido em termos históricos?
O processo de revisão académica é lentíssimo. Assim que o meu trabalho estiver publicado passaremos a outro patamar, planeando-se organizar uma conferência internacional sobre Cabrilho. Em qualquer caso são raros os peritos no assunto, inclusivamente em Portugal. Nos EUA, o grande especialista acerca de Cabrilho, Harry Kelsey, morreu este janeiro. O falecido prof. Mathes, nos anos 70 era igualmente parcial (sem justificação documental alguma) para com o Cabrilho espanhol. O mesmo a dizer da prof. Iris Engstrand, reformada da Universidade de San Diego e "madrinha" das publicações de Kramer. Em setembro vou dar uma palestra no Centro de Estudos Portugueses da Universidade da Califórnia em Berkeley, para dar um pontapé de saída neste debate.

Sei que a sua formação é em astronomia. Como é que um astrónomo , professor na Califórnia, se interessa por história ao ponto de fazer investigação que pode ser decisiva sobre a nacionalidade de Cabrilho? Como começou?
Nasci na aldeia de Outeiro, em Bragança, onde as sondagens da equipa do arqueólogo José Sendas encontraram vestígios de castros celtas pré-romanos no castelo de Outeiro. Entre outros destaques, em 1408, o alcaide-mor de Outeiro ainda era o Martim Gonçalves de Macedo, que na Batalha de Aljubarrota, em 1385, salvou a vida do rei Dom João I, caído aos pés de um castelhano. Se Martim não tivesse matado o castelhano, o mundo seria completamente diferente, pois sem João I, não haveria Portugal - e sabemos lá se Brasil e EUA. É esse o poder da História, incontornável em Outeiro, pois "da minha aldeia vejo quanto da terra se pode ver do Universo", como escreveu Fernando Pessoa. Mais tarde, depois de estar na Antártida, ganhei uma bolsa para apresentar um poster sobre o mistério da "Terra dos Papagaios", na Conferência Internacional da História de Cartografia, em Moscovo, em 2011. Isto porque falo russo e provar que Mercator não estava errado, e que os portugueses avistaram não papagaios gigantes, mas quantidades copiosas de pinguins Rei (na ilha subantártica do Marion). Tive a honra de incluir contributos do professor Luís Filipe Thomaz (agora Frei Jerónimo), do professor Pinheiro Marques, e do falecido professor Contente Domingues, que na altura me convidou a fazer um mestrado em história. Ao ler o trabalho de Kramer, percebi logo que havia algo errado, pois para entrar no Novo Mundo a naturalização era frequente na Castela do séc. XVI. Na "bíblia" do Kelsey sobre Cabrilho, li que provavelmente o segundo maior navio na descoberta da Califórnia era do Alvar Nunes. Quando descobri que o Alvar Nunes era um piloto português, foi o primeiro momento "Eureka" - dei um salto de alegria! Isto foi a primeira reação. A segunda foi de alguma apreensão, pois apercebi-me das águas profundas em que me ia meter. Quis pôr tudo na gaveta e esperar por tempos menos ocupados na vida. Foi impossível, porém, deixar o génio dentro da lâmpada. O dever patriótico falou mais alto e descobrir o mapa de 1604 foi estupendo. Creio que a biografia de Cabrilho nunca mais será a mesma. O meu trabalho irá acrescentar várias páginas fundamentais acerca do descobridor da Califórnia.

Que linha de investigação está atualmente a seguir que possa reforçar a tese de Cabrilho como português?
O mapa de 1604 e as suas fontes são a pista mais importante a seguir. Infelizmente apenas dispomos da cópia de 1754, mandada fazer pelo cartógrafo Philippe Buache. O original de 1604 ainda existe, mas está em muito mau estado de preservação e precisa de ser restaurado, antes que se possam fazer cópias digitais. Existe um mapa ainda mais velho, de 1600, feito na Holanda pelo cartógrafo inglês Gabriel Tatton, mostrando a "B. de Cabrillo" (em castelhano). A fonte é claramente diferente daquela(s?) do mapa de 1604. Estou a tentar perceber se o piloto, pirata e cartógrafo português Simão Fernandes pode ter sido a fonte de Tatton, uma vez que Simão foi crucial para o estabelecimento da primeira colónia inglesa na América do Norte, na ilha de Roanoke (Virgínia), em 1585. Um outro dado interessantíssimo chega-nos através da História Geral das Índias de López de Gómara, publicada em 1552, apenas nove anos depois da morte de Cabrilho. Nessa obra listam-se muitos dos topónimos baptizados na viagem de Cabrilho, incluindo uma misteriosa "Baía dos Primeiros", que mais tarde surge como "Baía dos Pinos", que é a atual Monterey. Claramente a fonte original era portuguesa (Cabrilho, António Correia?) e referia-se a pinheiros (pinos em castelhano) e não Primeiros. Descobri ainda a única prova de que o testamento de Cabrilho existiu, tendo este, antes de morrer, instruído Ferrer como executor testamentário. Encontrar tal tesouro seria ideal. Igualmente sabe-se que Cabrilho fez uma prova de méritos (probanza) quando esteve em Espanha, mas desconhece-se o paradeiro do documento. Sei que existe nos arquivos do México um outro documento que poderá trazer alguma informação adicional sobre Alvar Nunes e Cabrilho. Ainda não consegui obter uma cópia do original, para o ler e perceber se será o caso. A história é muito difícil, poderemos não encontrar mais nada. Espero que o meu trabalho abra mais avenidas a outros historiadores e que possam surgir mais dados. Quando atravessei da Cidade do Cabo para a Antártida, para lá do Cabo da Boa Esperança, através dos famosos ruidosos 40 e furiosos 50 graus de latitude, o mar estava tão bravo que as ondas rebentavam com estrondo nas janelas da ponte de comando do quebra-gelos Polarstern, a 18 metros de altura. Tenho imenso respeito pela coragem dos nossos homens do período das Descobertas. Não os podemos deixar perdidos nas brumas da História.

Vive nos Estados Unidos, está a criar família na Califórnia, como é que a comunidade portuguesa vive esta questão Cabrilho?
O Festival Cabrilho começou a ser celebrado pela comunidade portuguesa no século XIX em San Diego. Mais recentemente, sobretudo em San Diego, há décadas que a comunidade portuguesa comemora a expedição de Cabrilho e a descoberta da Califórnia. O nosso Cônsul Honorário de Portugal em San Diego, o Sr. Idalmiro da Rosa, tem sido incansável ao longo dos anos na organização do Festival Cabrilho.

Tem tido apoio das autoridades portuguesas neste seu esforço para contribuir para a defesa da relação histórica entre Portugal e os Estados Unidos?
Quer o Cônsul-Geral de Portugal em São Francisco, o Sr. Pedro Pinto, quer o Sr. Idalmiro da Rosa, têm estado sempre muito atentos ao evoluir do meu trabalho. Houve um incidente sério e desagradável com o presidente da Casa de Espanha em San Diego, o Sr. Jesus Benayas, que, com o apoio da prof. I. Engstrand, fizeram o que puderam para retirar a estátua de Cabrilho de San Diego. Isto arrogando-se a que sabem tudo sobre Cabrilho, "inquestionavelmente espanhol"! Não conseguindo o que queriam com o Serviço Nacional de Parques dos EUA, que gere o Monumento a Cabrilho, apresentaram queixa à Secretária de Estado do Interior do governo dos EUA e depois ao gabinete do congressista Scott Peters, eleito por San Diego. Os nossos diplomatas coordenaram bem o incidente com o Sr. Benayas; contactei o gabinete de Scott Peters e expliquei que eles estão muito equivocados sobre a nacionalidade espanhola de Cabrilho. A Marinha de Guerra Portuguesa devia saber, porém, da tentativa dos espanhóis em retirar igualmente as placas comemorativas a Cabrilho. Sobre o Estado português per se, não tenho grandes expectativas. Basta ver que se demitiu completamente da questão de Olivença, desertando todos os nossos compatriotas que lá viviam e ainda vivem. Tenho mais esperança na sociedade portuguesa como um todo, do que no Estado em si, e assim tenho mantido informado nas universidades portuguesas, por exemplo, o professor João Paulo Oliveira e Costa e também a Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento (FLAD).

Há congressistas de origem portuguesa eleitos pela Califórnia. Envolveram-se de alguma forma nesta questão da nacionalidade do descobridor da Califórnia?
Eu preferia que o assunto ficasse apenas na esfera da história, como devia. Se os espanhóis voltarem a ser tomba-ladeiras na esfera política, em vez da discussão científica, cá estaremos novamente para contar espingardas. Eles têm sido agressivos para com a comunidade portuguesa em San Diego, acusando-a de orquestrar o Cabrilho português, dizendo que o nome João Rodrigues Cabrilho nunca existiu, que é tudo uma falcatrua dos portugueses. Tentam também desacreditar o próprio Herrera, que é um pedregulho no sapato. Então a comunidade portuguesa de San Diego também inventou o mapa de 1604, a Baía de Cabrilho na Califórnia e o Monte Cabrilho em Portugal? Enfim... Dos congressistas esperamos apoio futuro, direta ou indiretamente, no restauro do mapa de 1604 e na organização da conferência histórica sobre Cabrilho, em conjunto com agentes culturais de Portugal. Creio que restaurar o mapa de 1604 devia ser um imperativo nacional e da Califórnia também, assim como vir a publicar uma monografia completíssima sobre Cabrilho e a descoberta marítima da Califórnia.

No meio desta disputa luso-espanhola pela nacionalidade de Cabrilho, não há o risco paralelo de os movimentos americanos que denunciam a chegada dos europeus tentarem até que a estátua seja retirada?
Obviamente nenhuma pessoa razoável quer discriminações raciais ou de outra natureza nos EUA. Penso, porém, que seria um disparate retirar a estátua de Cabrilho, pois celebra o espírito de descoberta e exploração do mundo e não a escravatura de ninguém. Aliás, foram muitos os índios e escravos negros que ajudaram a construir a frota que descobriu a Califórnia. Retirar a estátua a Cabrilho seria também esquecer o esforço de toda essa gente anónima e escravizada que contribuiu para essa mesma descoberta. Cabrilho era um homem do seu tempo e teve escravos, assim como George Washington teve escravos. Aliás os próprios índios não coexistiam num paraíso, vendendo escravos das tribos mais fracas aos espanhóis. Vamos agora então mudar o nome do estado de Washington e da capital dos EUA? Não estarei a citar um astrónomo, mas os heróis têm de ser estudados sempre com um telescópio, à distância da época em que viviam.

Esteve em Portugal e participou em ações relacionadas com Cabrilho. Tem previsto regressar em breve para mais eventos relacionados com o navegador?
Sim, estive em julho numa visita muito simpática e receção ao Cônsul Honorário de Portugal em San Diego, por parte da Câmara Municipal de Montalegre e da Junta de Freguesia de Cabril. Agora, dia 24 de setembro, em Alijó, a convite da Quinta da Boeira, Arte e Cultura, Lda., irei dar uma palestra acerca das minhas descobertas sobre Cabrilho. A Quinta da Boeira tem excelentes vinhos, entre os quais um Porto Cabrilho. Isto para além de se dedicarem às artes plásticas e à divulgação da história marítima portuguesa. É muito bom ver uma empresa privada combinar os negócios com o mecenato cultural.

leonidio.ferreira@dn.pt

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt