Lisboa replica rede alternativa de rastreio que nasceu a Norte

Técnicos de autarquias, militares do exército e dentistas puseram em dia milhares de inquéritos epidemiológicos. Já há formação de operadores na região de Lisboa e Vale do Tejo.

O projeto nasceu no Porto em novembro e rapidamente contagiou toda a região Norte. E pela sua eficácia, vai agora também ser replicado em Lisboa e Vale do Tejo. Uma rede de rastreio de contactos alternativa à das autoridades de saúde colocou técnicos superiores de autarquias, militares do exército e médicos dentistas a realizar inquéritos epidemiológicos a doentes com covid-19.

A tarefa entregue aos novos operadores (202 no total, mais 35 pessoas em serviço de retaguarda) é contactar, num máximo de 24 horas, casos confirmados, identificar contactos de alto risco e apontar medidas adequadas como o isolamento. Objetivo: quebrar cadeias de transmissão.

200 mil inquiridos

Mais de 200 mil pessoas, entre casos positivos e contactos de alto risco, foram inquiridas até agora em vários territórios (Maia-Valongo, Gondomar, Alto Ave-Guimarães, Ave-Famalicão, Aveiro Norte, Feira-Arouca e Alto Minho).

"O Norte tem os inquéritos epidemiológicos em dia", garante Firmino Machado, coordenador do projeto na Administração Regional de Saúde do Norte (ARSN), adiantando que "há pedidos de Lisboa e Vale do Tejo, de territórios que estão mais afetados, para uma colaboração adicional".

"Já demonstramos a nossa disponibilidade para replicar este modelo organizativo e metodologia de trabalho noutras regiões", explicou Machado, médico de Saúde Pública que esteve na génese da primeira experiência no Agrupamento de Centros de Saúde do Porto Ocidental, para dar resposta "a 1200 casos em atraso". "Ao perceber a efetividade da metodologia a tutela teve vontade de expandir a iniciativa, criando uma estrutura regional na ARSN", afirmou.

O Alto Minho foi a região mais recente a aderir à rede, com "cerca de 2500 inquéritos epidemiológicos em atraso". Foram criadas três equipas com nove técnicos superiores das câmaras de Viana do Castelo (3) e Caminha (6), 45 militares e dois dentistas. "Neste momento já estamos a conseguir dar resposta atempada, dentro das 24 horas, e já foram entrevistados 4368 casos e cerca de três vezes mais contactos de alto risco", resume Machado.

"Não estamos apenas à procura das cadeias de contágio. Acabamos por prestar apoio social. Uma chamada que tem a duração prevista de 4 ou 5 minutos, dura às vezes 20. As pessoas têm necessidade de desabafar, queixam-se que estão sozinhas e com falta de orientações", conta uma técnica da Câmara de Caminha, que por obrigatoriedade de sigilo usa o nick name Sofia Cancela. "Temos que simplificar o "bicho" e explicar como é que ele se transmite. Muitas vezes são pessoas idosas, isoladas e de aldeias serranas", relatou Sofia, que não tinha noção de haver tantas famílias inteiras contaminadas.

Situações que "mexem" com a colega Cristina Cunha. "O vírus foi ter com dois idosos com mais de 90 anos, acamados, e toda a família ficou infetada. Começou na senhora que ia lá dar apoio, passou a filhos e noras, afetando 30 pessoas", conta.

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