Lisboa e Vale do Tejo é a região com mais casos de tuberculose
A taxa de notificação de casos de tuberculose em Portugal manteve-se estável no ano de 2023 relativamente a 2022. Segundo o relatório de vigilância e de monitorização da doença, que é publicado esta segunda-feira pela Direção-Geral da Saúde, para assinalar o Dia Mundial da luta contra a doença, esta taxa continua a ser de 14,9 casos por 100 mil habitantes ao ano.
No entanto, e como refere o documento, esta estabilização na taxa de notificação não corresponde depois à realidade por regiões, já que em Lisboa e Vale do Tejo e no Norte, aquelas que estão, respetivamente, em primeiro e segundo lugar em número de casos, houve um aumento do número absoluto de casos (de 668 para 696 em Lisboa e Vale do Tejo e de 574 para 586 na região Norte).
No total, em 2023, foram notificados 1584 casos, sendo que 1461 foram novos casos e 123 retratamentos, conjunto que corresponde à taxa de notificação de 14,9 casos por 100 mil habitantes. Nesse ano, foram ainda registadas 76 mortes, das quais 48,7% se verificaram no grupo etário com idade superior a 75 anos, o que corresponde a uma letalidade de 4,8%, da totalidade dos casos notificados.
Lisboa e Vale do Tejo e o Norte mantiveram-se como as regiões com maior incidência, respetivamente com 18,2 por 100 mil habitantes (em consonância com a taxa de notificação de 2022, que foi de 18,3), e 16,0 casos por 100 mil habitantes, também em linha com 2022 (16,3).
A nível de concelhos, o relatório refere que a Amadora foi, na região de Lisboa, o que registou maior aumento no número de casos: 36,5 por 100 mil habitantes em 2023, face a 26,4 em 2022. Também no município de Lisboa houve um aumento, registando-se 26,1 casos por 100 mil habitantes em 2023, face aos 21,9 de 2022. No Norte, houve um aumento no número de casos e da taxa de notificação nos distritos de Viana do Castelo, Braga, Bragança e Vila Real. Mas a nível de concelhos, os três piores do país são Penafiel, com 51,25 casos por 100 mil habitantes, Marco de Canaveses, com 50,05, e Odemira, com 44,31.
É ainda de destacar que o Alentejo teve uma deterioração dos valores da taxa de notificação para níveis semelhantes aos de 2019, com 11,2 casos por 100 mil habitantes (embora o distrito de Beja tenha registado um aumento de casos notificados). Após uma descida consistente de 10,6 casos por 100 mil habitantes em 2020 para 8,7 em 2022, a taxa de notificação no Alentejo em 2023 voltou a ser de 11,2 casos por 100 mil habitantes.
Já o Algarve apresentou a segunda maior taxa de incidência entre as regiões, com 16,9 casos por 100 mil habitantes, “o que resulta de um ligeiro aumento do número de casos numa população residente relativamente pequena”, explica o documento.
Homens mais afetados que mulheres, crianças são 2,8% dos casos
Sobre a doença, o relatório destaca que os “homens continuam a ser mais afetados do que as mulheres (68,3% do total de casos notificados em 2023), especialmente na idade adulta, e que os casos nas crianças e adolescentes com idades inferior a 15 anos já representam 2,8% do total de casos. Por exemplo, “a taxa de incidência no grupo etário de crianças dos 0 aos 5 anos foi de 5,2 casos por 100 mil crianças”.
O documento revela que foram identificados 22 casos de tuberculose multirresistente - ou seja, casos que são resistentes, pelo menos, a dois medicamentos anti-tuberculosos nucleares para o tratamento. A maioria destes casos foram detetados na região de Lisboa e Vale do Tejo (63,6%).
Do total de casos, há ainda referir que 71,3% foram igualmente testados para VIH (em 2022, foram 85,3% dos casos).
Quanto à população migrante, o relatório menciona que se mantém em 2023 como “a população em situação de maior vulnerabilidade, com uma taxa de notificação 3,6 vezes superior à média nacional (54,3 casos por 100 mil migrantes em 2023), verificando-se também um aumento na proporção de casos, em comparação com 2022 (35,8% em 2023 e 30,0% em 2022)”.
Sobre a doença, é referido que a sua localização mais frequente “foi pulmonar (70,8% em 2023). Destes, 51,4% dos casos eram bacilíferos”. Neste capítulo há a salientar uma preocupação para os técnicos que tem a ver com aumento na demora até ao diagnóstico, “uma mediana de 78 dias, representando um aumento significativo face a 2022 (53 dias), embora inferior à mediana nacional (81 dias). A proporção de casos com confirmação por cultura ou por exame direto e teste de amplificação de ácidos nucleicos foi de 51,1%”.
As preocupações e os desafios para o futuro
Recorde-se que, e como refere a diretora do Programa Nacional para esta área, Isabel Carvalho, a nível mundial a tuberculose volta a ser a principal causa de morte por agente infeccioso, tendo substituído a Doença por Coronavírus, 2019 (COVID-19) que ocupou esta posição entre 2020 e 2022. E quer se queira, quer não, continua a ser uma questão de Saúde Pública, havendo caminho a fazer. No mundo, são identificados 10 milhões de casps por ano e, segundo o relatório da DGS, a doença ainda causa 1,3 milhões de óbitos anualmente.
Na sua mensagem neste Dia Mundial, Isabel Carvalho recorda que a tuberculose “afeta sobretudo populações com risco acrescido de infeção e de maior suscetibilidade à doença, nomeadamente pessoas que vivem com Vírus da Imunodeficiência Humana (VIH), migrantes, pessoas em situação de sem-abrigo (PSSA) ou reclusão, pessoas com dependências e pessoas com exposição ocupacional à sílica.
Para a diretora nacional, há quatro preocupações neste momento: a primeira, a manutenção da incidência ou redução face a 2019, o que poderá querer dizer que há casos que não estão a ser detetados; depois, a concentração de casos nos distritos do Porto e Lisboa, seguindo-se a vulnerabilidade a que está exposta a população migrante e o diagnóstico tardio da doença.
Tudo isto faz com que sublinhe que os desafios imediatos são “a redução do tempo para o diagnóstico, através da melhoria dos sistemas de informação, e uma resposta mais eficaz aos que estão em situação de maior vulnerabilidade”, reconhecendo que é fundamental o reforço das estratégias de procura ativa de casos e o acesso aos cuidados de saúde em tuberculose.