O procurador Rómulo Mateus questionou José Sócrates sobre se, no esforço de desenvolver políticas de internacionalização para o setor empresarial utilizou os contactos para promover grupos no estrangeiro.Depois de uma resposta que o representante do MP considerou "monocórdica", portanto, um "sim", José Sócrates esclareceu que procurou "pôr a diplomacia ao serviço das exportações portuguesas" e que "todas as embaixadas tinham orientações para dedicarem atenção" a este processo."Todas as relações internacionais que eu próprio desenvolvia tinham essa preocupação", completou, acabando por referir as relações com a América Latina, "com o Brasil e mais tarde, a partir de 2009, com a Venezuela".O antigo primeiro-ministro acabou por garantir que o Grupo Lena não foi prejudicado nem beneficiado neste processo, respondendo a uma pergunta lançada pelo procurador nesse sentido.Depois de Sócrates lembrar a crise financeira de 2008, motivada pela falência do Lehman Brothers, o arguido disse que a obrigação de uma Governo nestas circunstância era não "dormir".Depois de dizer que quando foi à Venezuela, em 2007, já havia empresas portuguesas a trabahar naquele território, como a Teixeira Duarte, Rómulo Mateus recordou "que José Sócrates apontou uma diminuição das adjudicações do grupo Lena [enquanto era primeiro-ministro] e isso, admito eu, tem a ver com uma crise gravíssima na construção civil", apontou.Mais tarde, um momento de exaltação, depois de Rómulo Mateus ter assinalado a disponibilidade demonstrada pelo arguido em mostrar uma lista de empresas que tinha ajudado já depois de ter deixado as funções de primeiro-ministro, levou a que José Sócrates tivesse acusado o MP de estar a fazer "pornografia", por querer ouvir escutas telefónicas, tal como tinha feito na sessão desta segunda-feira."Não prometi entregar lista nenhuma e não vou entregar lista nenhuma. Não vou andar a divulgar a vida das empresas junto do Ministério Público ou de estranhos. Isso não é matéria que se peça a ninguém. Fiz isso por muitas empresas, mas naturalmente as empresas não me autorizaram. Fiz isso no estreito cumprimento daquilo que considero serem os deveres de um antigo primeiro-ministro.""O que o senhor procurador quer é a pornografia, ao expor a conversa entre as duas pessoas", disse o arguido, depois de ter sido confrontado com a possibilidade de ser ouvida uma conversa com Manuel Vicente, o antigo presidente do conselho de administração da Sonangol.“O que o procurador deseja é exibir a pornografia da conversa de duas pessoas. O que já fez ontem com a escuta [da conversa] com Fernanda Câncio foi humilhar”, acusou..Os procuradores do Ministério Público apresentaram um registo da localização das chamadas de José Sócrates na noite em que acreditam que o arguido foi jantar a casa de Ricardo Salgado.O procurador Rui Leal não especifica o número de chamadas, mas José Sócrates tenta interpretar a informação sobre a localização e o número de chamadas dessa noite, em que alega ter ido a casa do antigo banqueiro só por meia hora e sem ter jantado."Saí para ir jantar, mas passei o tempo a fazer chamadas?", questiona, acrescentando ainda: "Passei entre as 20.50 e as 23 horas a fazer 20 chamadas?"Rui Leal esclarece o arguido referindo que o que está em causa tanto podem ser chamadas por outro tipo de contactos, entre SMS e chamadas não atendidas.Os presentes na audiência referem dificuldades em interpretar o texto relativo ao registo destas comunicações, pelo que o MP acaba por sugrir que seja um órgão de polícia criminal a traduzir o documento, para que possa ser entendido por "leigos"..A sessão desta quarta.feira do julgamento em torno da Operação Marquês já começou. José Sócrates, à entrada, disse que esperava "ir a Vale do Lobo, mas primeiro vamos ouvir o que diz o Ministério Público".Retomando as perguntas que os procuradores tinham apontado na sessão anterior como tendo ficado por esclarecer noutras sessões, o antigo primeiro-ministro começou a ser questionado sobre contactos telefónicos de Ricardo Salgado.De acordo com o procurador Rui Leal e com base no "auto de busca de apreensão do telemóvel", que permitiu ter acesso ao equipamento do ex-primeiro-ministro, a 24 de março de 2014 José Sócrates "tinha dois contactos de Ricardo Salgado", que o antigo governante não consegue explicar."A minha memória indica que não tinha contacto de Ricardo Salgado", garantiu José Sócrates, acrescentando que nunca lhe ligou nos anos em que esteve em Paris."Estive sob escuta desde 2013, um ano antes disto", lembrou."Só lhe liguei quando foi constituído arguido e para lhe expressar uma palavra de ânimo", assegurou, antes de dizer ao tribual que todos os contactos com o antigo presidente do Grupo Espírito Santo antes desse eram feitos por intermédio da sua secretária..O antigo primeiro-ministro, José Sócrates, volta esta quarta-feira, 3 de setembro, ao tribunal para prestar declarações no âmbito do processo da Operação Marquês. Na audição de terça-feira, 2, o antigo primeiro-ministro afirmou que o Governo de Passos Coelho ficou com um empréstimo destinado à linha de alta velocidade depois de o Tribunal de Contas ter chumbado o projeto..Da motivação política da acusação ao ano sabático em Paris, Sócrates ataca MP. Segundo a juíza Susana Seca será retomado o tema do grupo Lena, que durante a sessão José Sócrates disse querer esclarecer.José Sócrates, de 67 anos, está pronunciado (acusado após instrução) de 22 crimes, incluindo três de corrupção, por ter, alegadamente, recebido dinheiro para beneficiar em dossiês distintos o grupo Lena, o Grupo Espírito Santo (GES) - ligado ao BES, à data acionista da PT - e o empreendimento Vale do Lobo, no Algarve.