Novo instrumento de telescópio no Chile tem assinatura portuguesa

Construído por um consórcio de cientistas portugueses, espanhóis, suíços e italianos, o ESPRESSO, o novo espetrógrafo do telescópio VLT já está a funcionar
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Os astrónomos chamam-lhe "a primeira luz", e há na expressão essa carga simbólica de algo que está a nascer - e da antecipação dos novos conhecimentos e das descobertas que aí vêm. Como agora, com o ESPRESSO, o novo instrumento dos telescópios VLT ( Very Large Telescope) do ESO (European Southern Observatory), no Chile, que vai ajudar a descobrir e a estudar novas Terras, e que também tem assinatura portuguesa.

Construído e instalado nos VLT por um consórcio que integrou uma equipa de portugueses do Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço (IA), o ESPRESSO viu agora "a primeira luz", abrindo uma nova janela, mais precisa e de maior alcance, para o estudo de exoplanetas rochosos mais pequenos e mais parecidos com a Terra, que até agora escapavam ao olhar dos astrónomos, porque não havia como encontrá-los e analisá-los.

Com o ESPRESSO, um espetrógrafo de alta resolução que capta imagens do espetro de luz e que, de uma só vez, une os quatro telescópios VLT num só de maiores dimensões - tornando-o no maior telescópio do mundo -, e que atinge uma precisão de observação dez vezes superior à que existia até agora, a astronomia nesta área "dá um salto qualitativo muito importante". É o astrofísico Nuno Cardoso Santos, do IA e da Universidade do Porto, e o coordenador da equipa portuguesa que integrou o consórcio que assim fala. Por isso, esta "primeira luz foi um momento extraordinário", confessa, satisfeito, o investigador, que esteve lá no Chile, na sala de controlo do VLT, a viver em direto o acontecimento dos primeiros dados a surgirem nos écrans d os computadores.

Aquele "foi o culminar de mais de 10 anos de trabalho, de muito planeamento, de muitas dificuldades vencidas", recorda Nuno Santos. "Entrámos na fase da exploração científica, que era o objetivo final". E se agora se abre um novo capítulo no estudo dos exoplanetas, das suas atmosferas e massas, este é também um marco para a comunidade científica portuguesa nesta área. Este foi o primeiro instrumento para o VLT em que os cientistas portugueses participaram, enquanto líderes, desde a primeira hora, no seu desenho, conceção, construção e montagem, a par das outras três equipas do consórcio, de Espanha, Itália e Suíça.

Aos portugueses coube a conceção, desenvolvimento, construção e instalação de uma parte do ESPRESSO, um conjunto de elementos óticos chamado Coudé Train. Colocado no telescópio, este sistema ótico capta a luz que ele recebe e depois leva-a até um ponto, no laboratório, onde se junta a luz dos quatro telescópios VLT. E agora é que tudo vai começar.

"Integrar a equipa que construiu o ESPRESSO permite-nos agora estar na linha da frente, a definir a ciência que vai ser feita com ele, e já há bastante tempo que estamos a planear isso com os nossos parceiros do consórcio", explica Nuno Cardoso Santos.

As equipas do consórcio que desenvolveu o instrumento têm agora direito a 273 noites de observação nos próximos três a cinco anos. "O consórcio decidiu que vai fazer essa exploração científica em conjunto, como uma só equipa, o que nos permitirá ir mais além do ponto de vista científico", diz o astrofísico. No IA são para já oito os investigadores que vão trabalhar com os dados do ESPRESSO, mas a aventura está só a começar. No futuro, estima Nuno Santos, "haverá mais investigadores portugueses a usar esses dados".

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