Ficção científica? Não é para cientistas, está nas mãos da sociedade
Comida pronta, ar condicionado, telefones sem fios, exercício obrigatório na escola. À primeira vista, nada de estranho, faz parte do dia a dia de todos os nós. Mas há décadas, tudo isto fazia parte da lista de previsões para o futuro. Previsões que pareciam ficção cientifica. Quais serão as nossas para daqui a 100 anos?
"Temos ouvido em muitas apresentações que não é possível prever o futuro. Mas vemos que existiram previsões antigas que acertaram em cheio. Vou deixar as minhas: prever a aparência humana e carácter através da sequencia ADN, novas formas de vida. E seremos capazes de controlar o comportamento", diz Maria Leptin, diretora da Organização Europeia de Biologia Molecular e especialista na área de desenvolvimento biológico e imunológico.
O desafio foi lançado na Fundação Champalimaud, onde se debate o futuro, o que podemos esperar e o que saberemos daqui a 100 anos, na conferência 'O desconhecido, a 100 anos de hoje'. "Ainda há grandes perguntas: de onde viemos e como funcionamos. Parte disso é a fisiologia e já temos grande parte das respostas. A biologia está tão próxima de como o corpo funciona, que o grande desafio nos próximos 100 anos será como resolver os problemas quando o corpo não funciona. Percebemos o desenvolvimento, a imunidade, o cancro. Temos trabalho para fazer e respostas para desenvolver", diz, perante uma sala cheia.
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Para Maria Leptin, não precisaremos de tanto tampo para transformar o que agora nos parece ficção científica em realidade. "O órgão mais complicado de produzir é o cérebro que é muito complexo. Mas pode ser feito em laboratório. Já o conseguimos fazer com outros órgãos. Funciona e podemos reinseri-los no paciente. O que estamos a fazer é retirar as nossas células, curá-las e reintroduzi-las. Fizemo-lo com uma criança com HIV", exemplifica.
A ciência, aponta, é finita. Agora, é completar o desenho com os detalhes. Cada vez menos ficção e mais realidade. Mesmo que se fala de controlar o comportamento humano. "Podemos fazê-lo com a manipulação de neurónios. Existem testes em ratos que transformaram um rato macho em cuidador em vez de matar as crias. Uma mudança apenas porque o neurónio do comportamento foi estimulado. É apenas uma questão de tempo para perceber o que mais podemos manipular", exemplifica Maria Leptin.
O que sobra? "Não é para a ciência trabalhar, é para a sociedade e políticos. A ciência desenvolveu muito e agora é para a sociedade trabalhar", afirma.