Alerta. Sapo invasor ameaça fauna única de Madagáscar

Grupo internacional de cientistas que inclui biólogo português Gonçalo Rosa descobriu que aquele anfíbio veio do Camboja e Vietname
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Chegou provavelmente por mar, a bordo de algum navio, como muitas vezes acontece com as espécies exóticas, que acabam depois por se instalar e ganhar terreno, ameaçando a fauna e a flora do lugar. O certo é que o sapo-comum-asiático (Duttaphrynus melanostictus) já está em Madagáscar pelo menos desde 2014. Nesse ano, pela primeira vez, foi ali detetado, fazendo soar os alarmes. Então, um grupo internacional de investigadores, do qual faz parte o biólogo português Gonçalo Rosa, lançou mão da genética para traçar a origem do sapo invasor e avaliar a sua capacidade de dispersão naquela ilha do Índico. A possibilidade de aquele anfíbio causar ali um desastre ambiental é mesmo real, alertam os cientistas.

Graças ao estudo genético que fizeram no terreno, e que publicaram agora na revista científica Amphibia-Reptilia, os investigadores concluíram que o sapo-comum-asiático que aportou a Madagáscar tem origem no grupo populacional que existe no Camboja e Vietname. Somando dois e dois, como a cidade vietnamita de Ho Chi Min tem um grande porto marítimo, de onde saem regularmente cargueiros com destino a Madagáscar, tudo indica que foi como passageiro de um desses navios que o anfíbio invasor ali chegou.

Por causa disso, há agora um risco sério de ocorrer ali um desastre ambiental. Madagáscar é um dos locais do mundo com maior biodiversidade, com 90% espécies, entre animais e plantas, únicas no mundo. Se algumas delas se extinguirem, desaparecem pura e simplesmente do planeta, porque não existem em mais lado nenhum.

"Existe o receio de que a história australiana se repita", alerta Gonçalo Rosa, investigador do Centro de Ecologia, Evolução e Mudanças Ambientais (CE3C) do Reino Unido e da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (FCUL), e um dos cientistas do estudo. Na Austrália, sublinha o biólogo português, citado num comunicado da FCUL, "foi a introdução do sapo-da-cana (Rhinella marina), uma espécie próxima deste sapo asiático, [para ser] usado para controlo de pestes agrícolas, que se tornou uma ameaça séria à fauna nativa". As fêmeas daquela espécie, "tal como as do sapo-comum-asiático, podem por mais de 20 ou 30 mil ovos, acabando por encontrar poucas barreiras à sua dispersão pelo país", explica o biólogo.

Erradicar o anfíbio, agora que ele já se instalou, não é tarefa fácil, o acrescenta mais um fator de incerteza à equação, mas é a direção certa a tomar, para se evitarem situações ecológicas descontroladas. "Várias espécies de serpentes podem predar este animal [o sapo asiático]e morrer intoxicadas, sendo que elas têm um papel crucial no controle de ratos, que por si só são um enorme problema económico e de saúde pública em Madagáscar", esclarece Gonçalo Rosa.

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