Inovação portuguesa no setor da energia sustentável vence prémio da Comissão Europeia

Andreia Carreiro, natural de São Miguel, tem procurado lutar pela igualdade de género numa área maioritariamente masculina. Nos Prémios Europeus de Energia Sustentável venceu a categoria <em>Woman in Energy</em>. "Sinto-me muito feliz", reconhece.
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O contributo para a transição energética através de projetos inovadores, tecnologia e políticas públicas dado por Andreia Carreiro, especialista em sustentabilidade no setor da energia, valeu-lhe um reconhecimento por parte da Comissão Europeia. De Bruxelas para São Miguel trouxe, recentemente, o troféu na categoria Woman in Energy dos Prémios Europeus de Energia Sustentável (EUSEW) 2022. "Sinto-me muito feliz e também muito motivada para continuar a trabalhar no que acredito", diz em declarações ao DN.

Apesar de se ter candidatado de forma espontânea, Andreia Carreiro admite que o fez sem "expectativa" de ser nomeada uma das três finalistas e, ainda menos, de sair vitoriosa. "A candidatura teve como objetivo fomentar a igualdade de género na energia e demonstrar que há mulheres neste setor a realizar trabalho meritório", afirma. Foi precisamente o seu percurso profissional, rico em diversidade de experiências e focado na inovação, que lhe valeu um lugar no pódio europeu. Em 2016, agarrou a oportunidade de se tornar Diretora Regional de Energia dos Açores, cargo que ocupou até 2020, através da qual pôde desenhar estratégias e contribuir para a criação de legislação que promovessem a transição energética nas ilhas.

Graças ao trabalho que desenvolveu, a região autónoma abraçou a mobilidade elétrica, tendo sido responsável por ajudar a criar "incentivos e a estrutura de pontos de carregamento" que serviram de base, a par da legislação, para incentivar a transição energética. "Os Açores têm as condições ideais para adotar este tipo de mobilidade porque os percursos diários são curtos, a autonomia dos veículos é mais do que suficiente para as distâncias que se percorrem", considera. "Na altura [em que comecei a trabalhar] não havia quase nada feito a este respeito", acrescenta.

Mais do que políticas públicas, Andreia Carreiro tem vindo a focar-se em ser uma agente de mudança a vários níveis no setor energético. Uma dessas camadas de atuação cívica prende-se, por exemplo, com a criação, em março, da iniciativa Women Energy Portugal (WEP) - uma plataforma integrada na Associação Portuguesa da Energia que agrega mulheres desta área para estimular a igualdade de género e "mostrar que é um setor que não tem de ser só de homens".

Embora tenha ambição para "outros voos" fora dos Açores, é na região que a viu crescer que encontra uma das principais motivações para continuar a ajudar na transição energética, que defende ter de ser acessível a todos os cidadãos. Uma das formas que encontrou para democratizar a energia verde foi o trabalho na CleanWatts, uma empresa de base tecnológica dedicada às comunidades de energia e à promoção do autoconsumo. "Tenho a responsabilidade de criar projetos que vão levar a novos produtos, novas soluções ou funcionalidades", partilha. O doutoramento em Sistemas de Energia Sustentável e os dez anos de experiência na área dão a Andreia as ferramentas de que precisa para se dedicar a atividades de investigação, mas também a coragem para se lançar em projetos próprios.

É o caso da Kinergy, uma aventura que começou em abril e cujo principal objetivo passa por apoiar a criação e gestão de comunidades de energia que permitam aumentar a eficiência energética e diminuir os custos para instituições e famílias. "Não temos ainda nenhum projeto implementado, mas temos diversas soluções que envolvem Instituições Particulares de Solidariedade Social (IPSS) e famílias economicamente vulneráveis", explica. Os primeiros passos estão a ser dados, em parceria com a empresa onde trabalha, e Andreia Carreiro confirma que irá iniciar "um projeto na Madeira" em breve.

Mais de seis meses após o início da guerra na Ucrânia, a União Europeia prepara-se para o primeiro grande embate das consequências da crise energética com a chegada do inverno. Andreia Carreiro diz não estar "muito otimista" no futuro próximo e lamenta que os "entraves administrativos", nomeadamente ao nível nacional, impeçam uma transição energética mais célere. "A Direção-Geral de Energia tem poucos recursos para dar resposta à quantidade de projetos que estão a surgir. É frustrante chegarmos a esta altura e perceber que vamos ser forçados à descarbonização devido à guerra", afirma. Acredita que este trabalho em direção a uma progressiva autonomia energética já devia ter começado mais cedo, em Portugal e na Europa, e tem confiança no papel que as regiões e comunidades locais podem ter. "As comunidades de energia podem desempenhar um papel fundamental para acelerar essa transição", reforça. Ao DN, garante que o prémio dos EUSEW 2022 servirá como impulsionador da sua dedicação e foco em contribuir, de São Miguel para a Europa, para um futuro mais verde.

dnot@dn.pt

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