Infeções mais do que duplicam este ano mas internamentos baixam 78%
Desde o início do ano, o número de pessoas infetadas com o novo coronavírus aumentou 107% em Portugal, mas a pressão sobre os serviços de saúde diminuiu em 84% nos internamentos por covid-19 e 78% nos cuidados intensivos.
Se Portugal começou 2021 com um total de 420.629 casos confirmados de infeção pelo novo coronavírus, esta sexta-feira o número de casos confirmados ascende a 871.483, o que representa um aumento de 107% no espaço de pouco menos de sete meses.
Apesar desse crescimento, que se deveu, sobretudo, à vaga registada nos primeiros dois meses do ano, os dados oficiais indicam que se regista uma redução substancial da pressão a que o Serviço Nacional de Saúde tem estado sujeito desde o início de janeiro.
O ano começou com 2.806 pessoas internadas e outras 483 a necessitarem de cuidados intensivos, mas esta sexta-feira, de acordo com os dados mais recentes da Direção-Geral da Saúde, os hospitais nacionais registam 431 internados em enfermaria, menos 84%, e outros 108 em unidades de cuidados intensivos, uma redução de cerca de 78%.
Quanto aos óbitos, Portugal registava 6.972 mortes no início de janeiro, tendo-se verificado um aumento de 145% desde então, para os atuais 17.081, mas este número tem-se mantido baixo no último mês -- o máximo diário foi seis mortes verificadas em 10, 16 e 22 de junho.
O decréscimo da pressão sobre os serviços de saúde é proporcional ao aumento da vacinação contra a covid-19, que arrancou a 27 de dezembro de 2020, o que se deve à inoculação em massa dos portugueses, devido ao maior número de vacinas que têm chegado ao país.
O país tinha recebido, a 14 de fevereiro, pouco mais de 650 mil doses, que foram destinadas a vacinar os grupos de risco mais vulneráveis e profissionais de saúde, mas as entregas foram aumentando ao longo dos meses seguintes, totalizando agora mais de 8,6 milhões de doses.
O ritmo de vacinação acompanhou, assim, a chegada das vacinas, passando de apenas 02% da população que tinha tomado as duas doses -- cerca de 200 mil pessoas -- a 14 de fevereiro, para perto de três milhões os portugueses (30%) com a sua vacinação completa.
Para analisar o risco da pandemia, as "linhas vermelhas" elaboradas por um grupo de especialista prevê que, com uma taxa de ocupação de 85% das camas de cuidados intensivos, o número total de doentes covid-19 críticos deve permanecer abaixo de 245.
O documento, que realça que em medicina intensiva as necessidades de uma região podem ser suprimidas por outras regiões, avança com seguinte distribuição regional de ocupação máxima em unidades de cuidados intensivos: Norte 85 camas, Centro 56, Lisboa e Vale do Tejo 84, Alentejo 10 e Algarve 10.
Neste momento, de acordo com os dados desta sexta-feira da Direção-Geral de Saúde, estão internados 108 doentes em cuidados intensivos em Portugal continental, o que representa 44% do valor crítico de 245 camas ocupadas nestas unidades, percentagem que tem vindo a aumentar nas últimas três semanas: 22%, 29% e 36%.
Para o agravamento da situação da pandemia em Portugal, segundo os especialistas, tem contribuído a variante Delta, associada à Índia e mais contagiosa do que as outras identificadas no país, como a Alpha, e com uma forte prevalência na região de Lisboa e Vale do Tejo.
Esta variante foi referenciada, pela primeira vez, na análise de risco das autoridades de saúde de 30 de abril, numa altura em que estavam identificados seis casos que sugeriam várias introduções em território nacional.
No relatório das "linhas vermelhas" de 29 de maio, as autoridades de saúde já admitiam transmissão comunitária desta variante, mas ainda como uma prevalência de apenas 4,6%, o que se veio a confirmar a 11 de junho, com maior presença em Lisboa e Vale do Tejo.
Os resultados preliminares das sequenciações obtidas em junho, pelo Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA), indicam uma prevalência da variante Delta já bastante superior a 60% nesta região.
O Norte é a região do país com mais casos de infeções com o novo coonavírus, seguido de perto de Lisboa e Vale do Tejo, mas todas as regiões apresentam crescimentos percentuais significativos desde o início do ano.
O aumento do número de infeções e de óbitos por covid-19 registado ao longo deste ano foi alavancado pela vaga que atingiu todo o território continental em janeiro, fevereiro e parte de março, voltando, nas últimas semanas, a verificar-se um crescimento, mais evidente em Lisboa e Vale do Tejo.
O número de casos positivos passou dos 135.870 a 01 de janeiro para os atuais 335.231, representando um crescimento de 146%.
No mesmo período, os óbitos aumentaram de 2.415 para 7.253 (200%), mas este crescimento tem estabilizado desde meio de março, tendo-se verificado cerca de 200 óbitos desde então.
Lisboa e Vale do Tejo é a região do país que apresenta o maior número de mortes por covid-19.
A 14 de fevereiro, apenas 02% da população desta região tinha tomado as duas doses da vacina, percentagem que sobe para os 24% nos últimos dados da DGS, ainda uma das mais baixas taxas entre as várias regiões do país.
Apesar de liderar no acumulado de casos positivos, o Norte é a região do país que, ao nível percentual, menos cresceu entre o início do ano e esta sexta-feira, com 62%, passando dos 212.709 casos para os 344.403 atuais.
Ao nível dos óbitos, o crescimento foi de 66%, passando dos 3.222 para os 5.362.
Desde 14 de fevereiro, o número de pessoas da região Norte com a vacinação completa passou dos 03% para mais de 30%.
Nesta região, aumentou 146% o número de casos de covid-19 entre 01 de janeiro e esta sexta-feira - de 49.195 para 121.453 -, um crescimento que se deu, sobretudo, entre janeiro e fevereiro, mas que, desde então, tem sido mais lento, em linha com a tendência do resto do país.
O número de óbitos cresceu 200%, passando de 1.006 para os atuais 3.027, tendo estabilizado em pouco mais de três mil desde abril.
Para isso terá contribuído a vacinação completa, que passou dos 03% em fevereiro para os 33%.
O Alentejo começou o ano com 11.431 casos positivos, mas subiu 169% para os 30.817 registados esta sexta-feira, muito devido à situação de janeiro e fevereiro, altura em que se verificou o maior número de infeções na região.
Percentualmente, nesta região, considerada com uma das populações mais idosas do país, os óbitos cresceram 339%, passando dos 221 a 01 de janeiro para os atuais 972, que se mantêm há várias semanas.
Tendo em conta que a vacinação arrancou pelas pessoas mais idosas, consideradas de maior risco, nesta região cerca de 34% da população já tem a vacinação completa, a percentagem mais elevada das várias regiões do país.
O Algarve começou 2021 em melhor situação do que as restantes regiões de Portugal continental, com apenas 7.897 casos confirmados de infeção pelo vírus SARS-CoV2, tendo aumentado até esta sexta-feira 199% para os 23.641.
Com 72 óbitos a 01 de janeiro, menos de que qualquer outra região do território continental, o Algarve conta agora com 365 mortes, o que representa um crescimento acumulado de 406%.
É uma das regiões do país com a percentagem mais baixa da população com a vacinação completa, 27%.