Imigrantes têm pouca participação na vida política em Portugal. E isso favorece os discursos populistas
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Imigrantes têm pouca participação na vida política em Portugal. E isso favorece os discursos populistas

Dos mais de um milhão de estrangeiros residentes em Portugal em 2023, apenas 34.165 estavam recenseados (3,3%), revela estudo da Faculdade de Economia do Porto.
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Apesar de representarem 9,8% da população residente em 2023, os estrangeiros correspondiam apenas a 0,3% dos eleitores recenseados em Portugal no final de 2024. Os dados são apresentados por um estudo da Faculdade de Economia da Universidade do Porto (FEP) e revelam que os imigrantes em Portugal têm uma baixa participação política, o que está a comprometer a sua integração social e a favorecer discursos populistas anti-imigração.

Dos mais de um milhão de estrangeiros residentes em Portugal em 2023, apenas 34.165 estavam recenseados (3,3%). Entre eles, 16.985 tinham adquirido a nacionalidade portuguesa, o que lhes garante o recenseamento automático. Para os demais estrangeiros, a inscrição é voluntária.

A filiação dos imigrantes nos partidos políticos portugueses é marginal ou inexistente, à semelhança do que sucede no resto da Europa, aponta este estudo da FEP. Caso os partidos recrutassem ativamente imigrantes para representar os cerca de 10% de residentes estrangeiros, a análise estima que 23 dos deputados eleitos poderiam ser de origem estrangeira, refletindo melhor a diversidade populacional do país.

Recordando que todos os estrangeiros residentes podem naturalizar-se após cinco anos no país, adquirindo direitos políticos quase equivalentes aos dos cidadãos que nascem no país, a análise realizada pelo Gabinete de Estudos Económicos, Empresariais e de Políticas Públicas (G3E2P) da FEP destaca que o baixo nível de recenseamento e participação eleitoral impede que o potencial político dos imigrantes se traduza em representação efetiva.

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O diretor da FEP, Óscar Afonso, defende que “a participação dos imigrantes na vida política deve ser incentivada pelos partidos, tanto no recenseamento como no recrutamento para cargos políticos”.

Para o economista, a participação ativa dos imigrantes na democracia portuguesa contribuiria para uma sociedade mais coesa, reduzindo espaço para discursos populistas e estimulando um desenvolvimento económico sustentado.

Óscar Afonso sublinha ainda que políticos e deputados estrangeiros integrados na sociedade portuguesa podem desenhar políticas de integração de imigrantes mais efetivas, por conhecerem melhor os problemas reais dessas comunidades”.

Segundo o diretor da FEP, “a abertura dos partidos à diversidade social e à representação política de imigrantes pode impulsionar novas abordagens de políticas públicas, mais inclusivas e inovadoras”.

"Portugal tem uma oportunidade para liderar na integração política de imigrantes e mostrar à Europa como os países podem promover um desenvolvimento mais harmonioso", conclui.

O estudo também aponta que a maioria dos estrangeiros que adquirem nacionalidade portuguesa acaba por emigrar novamente: em 2023, 59% dos naturalizados já residiam no exterior. Segundo Óscar Afonso, essa tendência “evidencia dificuldades na retenção e integração dos imigrantes, comprometendo o potencial político e económico do país”.

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