Há espaços públicos em que a máscara deve continuar obrigatória, defende especialista

Número de casos e de óbitos desce tão lentamente que não é possível baixar na próxima semana, como era previsto, para a fasquia dos 20 óbitos por milhão de habitantes a 14 dias. Carlos Antunes defende que se o uso de máscara passar de obrigatório a apenas recomendável, deve haver três exceções: unidades de saúde, lares e transportes públicos.

O governo prolongou por mais quatro dias o uso de máscara obrigatório, passando de 18 para 22 de abril. E a diretora-geral da Saúde, Graça Freitas, veio apelar aos portugueses para que mantenham as regras sanitárias de proteção durante o período da Páscoa, confirmando que o país mantém um índice de transmissibilidade elevado. A verdade é que, nesta semana, o número de casos de covid-19 registados superou os registados na semana anterior. Enquanto nesta semana, o país registou, nos últimos dias, 11 175, 11 373 e 10 459 casos, na semana anterior registava, nos mesmos dias, 10 026, 10 348 e 9186 casos.

Para o professor da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, Carlos Antunes, "este aumento pode querer significar algo a nível da incidência, mas são precisos mais uns dias para se perceber este impacto", considerando que o país atravessa uma "fase de impasse" em termos da evolução da pandemia.

Aliás, e ainda de acordo com as suas estimativas, há um outro indicador que está a subir, "o R (t) dos últimos dias passou de 0.96 ou 0.97 para 1.0", o que pode significar que poderemos "assistir ao ressurgimento de um aumento de casos, como aconteceu no período de Carnaval". Mas, e como destaca, "é preciso aguardar mais uns dias para se perceber o que vai acontecer no fim de semana da Páscoa e o impacto que tal vai ter na evolução da doença".

No entanto, e como tem vindo a comentar ao DN, não acredita que este aumento de casos possa vir a atingir a dimensão de "uma nova onda epidémica", porque a proteção vacinal e natural que a população portuguesa já tem "é muito elevada e isso dá-nos a segurança de que não viremos a ter uma nova situação epidémica, com um aumento exponencial de casos. Isso, provavelmente, já não irá acontecer".

10 459 Casos de Covid-19. Este foi o número de novos casos registados ontem, mais do que na quinta-feira anterior, que foi de 9186. Ontem foram registados 23 óbitos, mais do que no dia anterior (12) e na quinta da semana passada (21).

O professor, que integra a equipa da Faculdade de Ciências que faz a modelação da evolução da doença desde o início da pandemia, refere mesmo que "para que tal acontecesse teria de haver uma nova variante. Portanto, o que iremos assistir a partir daqui é a várias oscilações, ora subimos um pouco, ora descemos lentamente, porque estamos a abandonar progressivamente as medidas de controlo sanitário". Contudo, se este aumento de casos tiver repercussões a nível da incidência, "temos um problema adicional em relação à tomada de decisão sobre o uso obrigatório de máscara", explica.

"Se olharmos para a taxa de mortalidade por milhão de habitante a 14 dias, critério definido internacionalmente para o alívio das medidas sanitárias, "a situação não é muito favorável". Senão vejamos: "O número de óbitos por milhão de habitantes a 14 dias era de 31, nos dias 31 de março e 1 de abril. Logo a seguir diminuiu, depois voltou a subir. Na semana passada, era de 28,5, agora está nos 27,8. A descida está a ser muito lenta".

De tal forma que, na semana passada, a equipa do professor apontava para que a meta dos 20 óbitos por milhão de habitante fosse atingida entre os dias 20 e 24 de abril, mas "esse horizonte está agora mais longe. Só na primeira ou segunda semana de maio é que talvez seja possível atingir este objetivo".

Carlos Antunes defende que, a tomar-se uma decisão para aliviar as medidas de proteção que ainda estão em vigor - como o uso de máscara obrigatório em espaços públicos fechados e o isolamento para infetados -, esta deve ser bem analisada no sentido de proteger os mais vulneráveis e os mais idosos, porque é nesta última faixa etária que ocorrem 95% dos óbitos.

Na sua opinião, o governo deveria esperar mais tempo para passar o uso de máscara obrigatório a recomendável. E, mesmo assim, deveria manter a obrigatoriedade em três situações: unidades de saúde, lares e transportes públicos. "É uma forma de protegermos os mais idosos e as pessoas com mais comorbilidades", diz.

Pandemia não está mais instável, há é menos regras

Para o professor, neste momento, é essencial manter-se a vigilância nestas faixas etárias, o que do ponto de vista da análise de dados está a ser mais difícil esta semana, porque "não recebemos informação sobre o número de casos e de óbitos nas várias faixas etárias", portanto "não sabemos o que está a acontecer nas faixas etárias acima dos 70 anos, sendo que é o número de casos nestas faixas que controla o número de óbitos diários. E enquanto o número de casos não baixar de forma significativa na faixa acima dos 70 anos, não conseguiremos o alívio rápido do número de óbitos".

Na semana passada, a média de casos diários na faixa acima dos 70-80 anos estava entre os 600 e os 610 casos, e "para que o número de óbitos diminua é necessário que os casos desçam até aos 400", diz. Por outro lado, e quando questionado sobre se a pandemia está agora mais instável e se é isso que faz ser mais difícil fazer projeções, Carlos Antunes afirma: "Isto não quer dizer que a pandemia esteja mais instável. O que quer dizer é que há mais oscilações, porque também há menos medidas de controlo sanitário, havendo mais probabilidade de o vírus se propagar livremente".

Contudo, "isto não é necessariamente mau. De um ponto de vista não matemático, mas de imunidade natural, até pode ser bom", porque "quanto mais o vírus circular nas camadas mais jovens, mais rapidamente se infeta esta população e mais difícil será para o vírus encontrar meios de transmissão para os mais velhos".

Neste momento, o que é possível saber é que o ritmo de descida de casos e de óbitos está a ser tão lento que "se continuar assim levaremos seis meses para conseguir reduzir os casos a metade", sublinha Carlos Antunes. A média diária de casos está agora nos 8800, o que quer dizer que só conseguiríamos atingir os 4000 em outubro, mas, alerta, nada garante que "não haja ressurgimento de casos".

"Temos vindo a assistir a várias oscilações, porque deixámos de ter algumas medidas de controlo sanitário importantes, como a queda do isolamento para contactos de risco e a queda da testagem massiva, mas faz sentido que as medidas de restrição venham a ser aliviadas de forma progressiva e paulatina, porque estamos a entrar numa fase de endemia. Só temos de continuar a ser vigilantes", conclui.

Regras a não esquecer

Da máscara à distância
- O uso de máscara ainda é obrigatório em espaços públicos fechados, por esta ser considerada uma das medidas mais eficazes na transmissão da covid-19. Em tempo de Páscoa, esta deve ser usada não só em restaurantes como em espaços de convívio familiar, sempre que não se esteja a comer ou a beber. O ajuntamento de pessoas aumenta o risco de transmissão do vírus.
- O distanciamento físico, boa ventilação de espaços fechados e a higienização das mãos são regras que, embora não sendo obrigatórias, devem ser cumpridas, por ter sido já demonstrado que o seu cumprimento reduz o risco de transmissão da doença.

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