Girl Move Academy. Empoderar as líderes globais do futuro com irmandade

Num país em que a maternidade infantil e o casamento precoce tem taxas elevadas, esta ONG quer reverter estes dados ao criar novos modelos de referência. Isto vai permitir quebrar os ciclos de pobreza e lançar estas raparigas empoderadas para o mundo.
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A Girl Move Academy é uma academia de liderança que atualmente faz o seu trabalho a partir de Nampula, no norte de Moçambique. A mentoria e os sisterhood circles são os métodos ideias para promover uma nova geração de jovens mulheres líderes changemakers, pondo o seu talento ao serviço da transformação positiva do seu país.

Esta academia nasceu em 2012 e foi fundada por Alexandra Machado e Luís Amaral. Surgiu de "uma forte crença no enorme potencial de África e consciência de que para que este continente possa assumir a sua preponderância no mundo, a educação das raparigas e mulheres tem que se alterar substancialmente" diz Alexandra Machado, fundadora e CEO da Girl Move, em entrevista ao DN.

A academia tem três programas: programa CHANGE, para as Girl Movers, mulheres que já são licenciadas, o programa LEAD, para as estudantes universitárias e o programa BELIEVE, para meninas dos 12 aos 15 anos que ainda estão no ensino primário. As raparigas nestes programas são uma referência mútua entre si ao longo de um ano de desenvolvimento de competências e crescimento juntas. "Os três programas para as diferentes gerações funcionam através de uma metodologia intergeracional que alavanca estas jovens para os compromissos de serem as futuras líderes de que África e o Mundo tanto precisa", explica Alexandra Machado.

As jovens do programa CHANGE vão para Nampula durante um ano, onde se desenvolvem e são exemplo para as "manas" mais novas. Terminam com uma experiência de intercâmbio em Portugal durante cerca de dois meses, onde interagem com entidades de referência do setor de business, inovação e academia.

Alexandra Machado conta que escolheram começar em Moçambique por ser um país de língua oficial portuguesa e com o qual Portugal mantêm boas relações e uma ligação histórica. Sendo Moçambique um dos países mais pobres do mundo, em que mais de metade das raparigas até aos 18 anos já está à espera de um filho, e em que apenas 10% das raparigas terminam o ensino secundário, consideraram que em termos de impacto e dimensão seria o sítio indicado para começar. A possibilidade de acabar com os ciclos de pobreza move esta academia.

"A grande inspiração foi a mulher moçambicana, tipicamente habituada a lidar com sofrimento, com preconceito e com injustiça, mas sempre com um sorriso na cara, a cantar e a dançar, com uma força e garra gigantes para levar tudo para a frente", conta Alexandra Machado.

A Girl Move quer combater a maternidade infantil através da geração de novos modelos de referência. Raparigas de diferentes gerações são colocadas em contacto umas com as outras numa troca de experiências virtuosas nos dois sentidos. Segundo a fundadora, de cerca das 1500 raparigas por ano com que trabalham presencialmente em Nampula, ao final do ano, mais de 90% delas continua no ensino secundário e os indicadores de maternidade infantil e casamentos precoces diminuíram. "A nossa aposta é em capacitar líderes para que, daqui a alguns anos, elas possam estar em cargos de decisão - na gestão, na política, nas organizações sociais - e muni-las de um sentido de liderança humanizada. A ideia é liderar com um sentido de propósito: liderar servindo."

A academia apoia raparigas em diversas fases das suas vidas, em oposição a intervir em apenas uma. Alexandra Machado considera que isto faz diferença pela conexão de gerações e vivências. Ao funcionarem como um só, os três programas criam um espaço seguro para estas jovens, que vêm de contextos diferentes, e cria um modelo intergeracional que as inspira, desafia e conecta para a vida. "Corresponsabilizam-se pelos planos e compromissos que traçam em conjunto, em círculo. Aprendem com as suas histórias individuais e escrevem uma nova história e visão comum do futuro. Apoiam-se e celebram as suas conquistas. Tornam-se manas."

A autoestima destas jovens é um fator fundamental que se trabalha ao longo deste ano em Moçambique. O programa começa pela etapa Lead Self permitindo-lhes reconhecer as suas histórias, saber contá-las e tomar consciência da sua força e poder.

O objetivo é chegar ao maior número possível de raparigas que não têm acesso à educação "mas temos que fazê-lo de uma forma sensata, sem perder a qualidade", reflete a CEO. "Queremos criar mais impacto potenciando o talento e ideias da próxima geração de líderes junto dos grandes fóruns de decisão, ligando jovens mulheres changemakers de todo o mundo com líderes e fóruns mundiais".

Empoderar meninas e mulheres para que se possam tornar nas líderes que África e o mundo precisam é o que tem motivado a Girl Move Academy a continuar e a permitir que estas raparigas sonhem cada vez mais alto.

sara.a.santos@dn.pt

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