Farmácias com falta de vacinas para a hepatite A

Grossistas garantem não ter vacinas desde dezembro, mas Infarmed não tem indicação de ruturas de <em>stock</em>. Portugal tem 115 casos notificados, metade dos doentes foram internados
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Portugal tem 115 casos de hepatite A notificados, mas é esperado que possam surgir mais nos próximos dias. O surto afeta mais 12 países europeus e tal como em Portugal a maioria das infeções ocorreu em homens que fizeram sexo com homens. A transmissão também pode ocorrer com a ingestão de alimentos e água contaminada. A Direção-Geral da Saúde (DGS) recomenda a vacinação a quem esteve exposto ao vírus, no prazo máximo de duas semanas após a exposição, sobretudo nas idades entre os 12 e os 41 anos. O Grupo de Ativistas em Tratamentos (GAT) defende que esta é a melhor forma de prevenção. Mas há falta de vacinas nas farmácias. O Infarmed não tem identificada nenhuma rutura de stock.

"A forma de garantir a prevenção é com a vacinação, mas em Portugal as vacinas para a hepatite A estão esgotadas. Já nos tínhamos apercebido do surto na Europa e recomendamos no nosso site que as pessoas fizessem a vacinação. Há um problema de disponibilidade da vacina e informamos o Infarmed da situação. É preciso conter o surto e a melhor forma é a vacinação e dar informação às pessoas sobre os riscos e como se protegerem", disse ao DN Ricardo Fernandes, diretor executivo do GAT. Fonte do setor grossista adiantou ao DN que desde dezembro que não recebem uma das vacinas e a outra, entretanto, também esgotou.

Questionado pelo DN, o Infarmed referiu que "não há nenhuma rutura identificada", mas que tem "reunido com os vários laboratórios para identificar falhas de abastecimento e garantir que em caso de necessidade existem as vacinas necessárias".

Segundo a orientação emitida ontem pela DGS, 58 doentes foram internados. "Apesar de a doença ser por norma benigna e autolimitada, por vezes provoca alterações clínicas e nas análises que obrigam a internamento para vigilância diária, para que se tenha o doente controlado. A maioria das pessoas já teve alta", explicou ao DN Isabel Aldir, diretora do Programa Nacional de Hepatites Virais da DGS, acrescentando que em nenhum caso se registou risco de vida.

Até agora a maioria dos casos notificados de hepatite A - cujo principal modo de transmissão é por via fecal-oral através de alimentos e água contaminada ou relações sexuais que facilitem esta forma de transmissão - estão concentrados na área metropolitana de Lisboa, razão pela qual foi nesta zona onde se registaram mais internamentos. Mas há também casos e internamentos em Coimbra e nas zonas norte e sul do país, alguns ainda em investigação para perceber se estão ou não associados ao surto.

Segundo a DGS foram identificados 53 casos associados a uma estirpe "relacionada com viajantes que regressaram da América Central e do Sul, [e que] foi também identificada em Espanha, no Reino Unido, e em outros países europeus". Há um outro caso cuja estirpe está relacionada com um festival de Verão na Holanda e um surto em Taiwan.

Ontem, a DGS registou 10 novos casos em relação ao dia anterior. "É expectável que nos próximos dias possa haver um aumento das notificações, porque agora os colegas estão mais atentos", adianta Isabel Aldir, acrescentando que não se deve pensar que situação possa ficar circunscrita a uma zona. "Os primeiros casos foram importados, vieram de outro país, mas neste momento são fundamentalmente infeções transmitidas dentro do país. Estando um doente assintomático [sem sintomas visíveis] que vá para para Faro ou Beja pode contagiar outras pessoas".

Como conter o surto? "A higiene das mãos é fundamental. Se houver práticas de sexo a higiene da zona perianal e genital também uma forma eficaz. Só estas duas medidas muito simples podem conter e reduzir o risco de transmissão."

Dados

Medicação: A hepatite A não tem nenhum tratamento especifico. "É uma doença normalmente benigna e autolimitada. O organismo consegue combater o vírus e, por norma, ao final de um mês a situação está resolvida e há uma recuperação para o estado clínico anterior. Ao contrário das hepatites B e C, a A não evolui para uma situação de cronicidade, daí não haver medicação especifica", explica Isabel Aldir

Imunidade: A melhoria das condições sanitárias como a rede de esgotos e a água canalizada reduziu drasticamente o número de infeções em Portugal, o que fez com que a imunidade natural diminuísse. O nosso país é de baixo risco de endemicidade, não justificando a toma generalizada desta vacina

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