Formam-se cerca de 1500 novos professores por ano, um número inferior ao dos docentes aposentados nos últimos quatro anos. Rui Fonseca, diretor da Escola de Educação e Desenvolvimento Humano do ISEC Lisboa, diz não entender por que não se abrem mais vagas nos Cursos de Ensino..Nos últimos quatro anos aposentaram-se 9515 professores e formaram-se cerca de 6000. Este ano, já são mais de 3000 os docentes reformados pela Caixa Geral de Aposentações (ver caixa), aos quais se somam os da Segurança Social, cujos números não são públicos. O Sistema de Ensino encontra-se com “saldo negativo” e as previsões não são animadoras até porque, o corpo docente é dos mais envelhecidos da Europa. .Luísa Loura, diretora da Pordata avançava, em 2022, números relativos às previsões de aposentação alarmantes, com uma escalada a partir de 2026..No que se refere aos novos diplomados em Ensino, a título de exemplo, no caso da disciplina de Português para o 3.º Ciclo e Secundário, Luísa Loura afirmava existirem 10 vezes menos diplomados do que no início da década de 2000..Rui Fonseca, diretor da Escola de Educação e Desenvolvimento Humano do ISEC Lisboa, diz não entender o não-aumento do número de vagas em cursos de formação para professores. “Não faz sentido nenhum. Tem de se aumentar o número de vagas. Enquanto não conseguirmos formar pelo menos o dobro, dificilmente resolveremos a falta de professores”, explica ao DN..Segundo o responsável, formam-se “apenas 1500 novos docentes por ano” e é, por isso, necessário abrir mais vagas e “tomar mais medidas”. “O Governo decidiu avançar com bolsas para incentivar os estudantes para os Cursos de Eensino, mas não é suficiente. É preciso ir mais longe”, salienta. Rui Fonseca sublinha que abrir mais vagas não tem peso orçamental, ao contrário de outras medidas necessárias (valorização da carreira docente) e essa abertura de mais lugares teria feito “toda a diferença”..Contudo, a abertura de vagas não resolve, de forma isolada, o problema da escassez de docentes, prendendo-se com inúmeros fatores, sendo mais grave na Zona Sul do país. Rui Fonseca entende que a falta de professores “não se prende diretamente com a concentração numa zona geográfica e ausência de outras”..“O que se passa é que, no conjunto do país, formamos professores e educadores em número inferior àquelas que eram as necessidades previsíveis. Isso faz com que, naturalmente, onde existe menor atratividade e maior população os professores não são suficientes”, explica..Em Lisboa essa menor atratividade prende-se com o valor das despesas com a habitação, face ao rendimento dos professores. Ou seja, o aumento contínuo do valor das rendas em grandes centros urbanos localizados no Centro e no Norte do país poderá levar a uma situação idêntica à que se vive no Sul, com um agravamento do número de alunos sem aulas. “De facto, no Distrito de Lisboa existe um forte entrave com os preços incomportáveis para os salários médios dos professores e isso causa um afastamento e a procura de outras regiões do país mais a Norte, onde o arrendamento não é, ainda, tão caro”, sublinha Rui Fonseca, alertando para o alastrar do problema a nível nacional..O diretor da Escola de Educação e Desenvolvimento Humano (EEDH) do ISEC relembra que muitos estudos, de várias entidades, faziam prever este cenário, uma situação que “não foi acautelada pelos sucessivos Governos”. “Sabia-se que iria ocorrer uma grande falta de professores e devia ter-se começado, na década anterior, a aumentar o número de vagas. Além disso, deveria ter havido uma clara valorização da carreira docente, de modo a atrair jovens para a profissão. É necessário combinar estes dois fatores para não formar professores para uma profissão que não é atrativa”, refere..“O problema vai continuar a agravar-se”.Rui Fonseca não tem dúvidas: “O ano letivo vai abrir com milhares de alunos sem aulas” e “é preciso acautelar os próximos anos”. “Temos a previsão de 20 mil professores necessários até 2030 e, nesta contagem, não estão as reformas antecipadas. É necessário implementar medidas corajosas e dispendiosas. O problema é muito grave e está em causa o futuro dos nossos filhos”, afirma o diretor da EEDH..O responsável adianta ao DN que o ISEC recebe inúmeros pedidos de escolas que procuram contactos de professores daquela Instituição de Ensino Superior porque,“de facto, não existem alter- nativas”. “O que acontece é que os nossos alunos estão empregados e não temos meios para ajudar as escolas. A empregabilidade dos professores é total e não temos ninguém disponível para indicar.”.Ao elevado número de reformas de docentes somam-se os pedidos de reforma antecipada e o abandono da carreira por parte do muitos docentes, não existindo “um contingente de substituições, porque não foram formadas pessoas suficientes”. Por isso, “o problema vai continuar a agravar-se”, conclui o responsável. Rui Fonseca pede “coragem e vontade política” para resolver “um grave problema que coloca em causa o futuro do país”.