Exército procura "modelo virtuoso" entre empresas nacionais e internacionais
O Chefe de Estado-Maior do Exército (CEME), general Eduardo Mendes Ferrão, escolheu a Sala da Grande Guerra, no Museu Militar, em Lisboa, para partilhar com o DN os seus objetivos e expetativas em relação a Conferência Land Defence Industry Day, que se realiza nesta segunda-feira, 31, no quartel da Serra do Pilar em Vila Nova de Gaia.
Num contexto geopolítico em que a indústria de Defesa europeia terá ao seu dispor 800 mil milhões de euros para aumentar as capacidades militares da Europa, o Exército promove um encontro entre empresas nacionais e internacionais, que conta com o DN como media partner e ambiciona um “modelo virtuoso”.
“Começámos a conceber há dois anos o projeto deste evento, quando nos confrontámos com a necessidade de saber com quem falar na indústria, saber que indústria tínhamos em Portugal e, sobretudo, o que é que indústria podia fazer para nós e como é que essa indústria podia articular com os grandes grupos industriais mundiais e, sobretudo, europeus, no campo da defesa”, explicou Mendes Ferrão.
Nesta conferência, que conta com o primeiro-ministro, Luís Montenegro, na abertura, e com intervenções dos ministros da Defesa, Nuno Melo, e da Economia, Pedro Reis, tem como oradores principais responsáveis de alto nível de várias empresas nacionais e europeias.
“Assumimos um papel de plataforma que facilita o contacto entre as empresas nacionais e os grandes players internacionais, entre as próprias empresas nacionais, e sobretudo, temos como objetivo de apresentar às empresas e aos grandes players internacionais aquilo que são os grandes projetos de reequipamento do Exército. Sobretudo, perceber as capacidades que existem Portugal para satisfazer as necessidades de reequipamento do Exército e, por outro lado, mostrar aos grandes players internacionais que no nosso país há vontade e intenção de fazer investimentos na força terrestre do Exército”, sublinha o oficial general.
Para o final da conferência, a expetativa do CEME foca-se em quatro metas principais: “que todos se conheçam melhor; que sejam identificadas as capacidades da indústria nacional para apoiar o exército na edificação das suas capacidades e na aquisição de equipamentos; que os grandes fabricantes multinacionais europeus vejam em Portugal as oportunidades que têm; que se melhore a atratividade do país para o estabelecimento de indústrias no domínio da defesa e, a partir daqui fabricarem para o Exército e que promoverem a exportação”.
“O modelo que o Exército defende é um projeto com uma grande empresa internacional a que as empresas portuguesas de pequena e média dimensão se consigam agregar, cada na sua especialidade. É esse o modelo virtuoso".
General Mendes Ferrão, Chefe de Estado-Maior do Exército
Neste quadro, Eduardo Mendes Ferrão, ambiciona que seja possível, num futuro próximo, cumprir “o modelo que o Exército defende, um grande projeto com uma grande empresa internacional a que as empresas portuguesas de pequena e média dimensão se consigam agregar, cada na sua especialidade, a esse grande projeto. Este, de facto, é modelo virtuoso que nós queremos trazer para cima da mesa, que é ter grande fabricante internacional - os sistemas são complexos - numa capacidade que não existe Portugal, mas mostrar aos industriais portugueses que se podem agregar cada com suas competências a este grande projeto de reequipamento do Exército”.
“Para modernizar o Exército vamos ter que enquadrar as forças naquilo que são os requisitos das congéneres”.
Coronel tirocinado António Oliveira, Chefe da Divisão de Planeamento Militar Terrestre do Estado-Maior do Exército
A modernização do Exército está no horizonte e, como explicou ao DN o coronel tirocinado António Oliveira, Chefe da Divisão de Planeamento Militar Terrestre do Estado-Maior do Exército, “para modernizar o Exército vamos ter que enquadrar as forças naquilo que são os requisitos das congéneres”.
Destaca alguns requisitos “críticos”. O primeiro “tem a ver com a proteção e a sobrevivência: temos de ter equipamentos robustos, adaptáveis porque vamos trabalhar em exércitos multinacionais e temos de permitir que se adaptem uns aos outros e que, se possível, até sejam intermutáveis, interoperáveis. Já ultrapassámos a interoperabilidade. Queremos avançar para um conceito de permutabilidade que é, por exemplo, se uma viatura avariar, posso tirar o cano de uma arma e colocá-lo numa outra, num outro sistema”.
Outro requisito que assinala é o da “integração e da conectividade, que tem a ver com toda a parte digital, fundamental. Não basta ter rádios, é necessário ter rádios que tenham largura de banda que permitam, não são funcionar a voz, mas também funcionar com transmissão de dados e imagens”.
Lembra que o Exército “tem compromissos internacionais” e que “tem de ter forças equipadas para os assumir”, bem como “compromissos nacionais, como forças de reação rápida para evacuar cidadãos nacionais, apoio militar de emergência”.
Entre os programas de modernização previstos na Lei de Programação Militar estão as viaturas Pandur, adquiridas há mais de 20 anos; os carros de combate Leopard; sistemas de defesa anti-aérea; e os helicópteros multiuso.