A população idosa tem crescido 2% ao ano em Portugal desde 2019. -- Foto: PEDRO CORREIA/GLOBAL IMAGENS
A população idosa tem crescido 2% ao ano em Portugal desde 2019. -- Foto: PEDRO CORREIA/GLOBAL IMAGENS

Envelhecimento: quase 15% dos idosos não compram todos os medicamentos necessários

Relatório da faculdade Nova SBE, de Lisboa, analisa o impacto do envelhecimento em Portugal e alerta para a necessidade de reforço das respostas sociais para combate à pobreza entre idosos.
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Portugal tem 2,5 milhões de pessoas com 65 ou mais anos, correspondendo a praticamente 25% da população portuguesa (dados da Pordata). Desses, 14,20% não conseguem adquirir todos os medicamentos necessários ao tratamento do episódio de doença. Esta é uma das conclusões do Relatório do Envelhecimento, da Nova SBE (Nova School of Business and Economics), elaborado pelos investigadores Pedro Pita Barros e Carolina Santos, no âmbito da Iniciativa para a Equidade Social, uma parceria entre a Fundação “la Caixa”, o BPI e a Nova SBE.

“A maior incidência de necessidades não satisfeitas de aquisição de medicamentos pelos idosos deve-se, em larga medida, à maior privação económica deste grupo etário”, explica, ao Diário de Notícias, Carolina Santos. A investigadora sublinha serem os gastos em saúde os mais expressivos na população idosa, cujas despesas diretas “vão sobretudo para medicamentos, colocando muitos idosos em situação de pobreza”.

Segundo o relatório, Portugal é dos países da OCDE em que as despesas diretas em saúde absorvem uma maior percentagem da despesa total dos agregados. São os idosos que apresentam uma maior desproteção financeira para despesas em saúde, com mulheres, idosos que vivem sozinhos, bem como idosos de menores rendimentos e nível de escolaridade concluído a serem relativamente mais afetadas pelas despesas diretas em saúde, já que alocam uma maior percentagem do seu rendimento líquido a estas despesas. “A desproteção financeira dos idosos implica que, perante despesas diretas em saúde, se regista um agravamento da situação de pobreza, bem como um aumento da pobreza e de risco de pobreza na população idosa”, pode ler-se.

Em 2023, 10,87% da população idosa pertencia ao escalão socioeconómico mais baixo. Esta percentagem era de 4,13% para a população com idades compreendidas entre os 15 e os 49 anos e de 7,27% em pessoas com idades entre os 50 e os 64 anos. “Por conseguinte, uma vez que nos idosos a situação de escassez financeira é mais expressiva do que nos outros dois grupos etários analisados, as dificuldades de acesso a cuidados de saúde tendem a ser superiores”, pode ler-se.

Para Carolina Santos, “a principal mensagem que se pode extrair do relatório é que há uma clara necessidade de reforço de respostas sociais para combate à pobreza nos idosos”. Também são precisas mais “iniciativas de vivência ativa”, variando em cada grupo etário. “Vimos, por exemplo, que a população com 60 ou mais anos precisa de mais exercício físico, para outros grupos, entre os 40 e os 49, é mais premente apostar em políticas que combatam a ansiedade e depressão”, adianta.

“Pandemia da solidão”

O documento, que analisa o impacto que o envelhecimento populacional tem sobre as despesas em saúde e o acesso da população idosa a estes cuidados, alerta, assim, para a necessidade de reforço das respostas sociais para combate à pobreza entre idosos, bem como para a concretização de iniciativas que promovam o envelhecimento ativo “fundamental para fazer face ao previsível aumento da população portuguesa com pelo menos 60 anos”. “Vai ser preciso um esforço conjunto da saúde e da proteção social com outros atores da sociedade, com políticas que permitam que população idosa possa contribuir para o mercado de trabalho, e criar mecanismos que combatam a solidão e o seu impacto na saúde, que se equipara quase a sofrer um cancro”, sublinha a investigadora. 

Carolina Santos alerta para aquilo a que chama “pandemia da solidão” e diz ser necessário “reforçar o que está a ser feito, que pode não passar apenas por uma resposta simples do Serviço Nacional de Saúde, porque a solidão confunde-se muito com a ansiedade”. “Diria que são precisas respostas também ao nível comunitário, e não tentar mitigar só quando repercute em outras condições”, sustenta. O caminho, diz, deve ser esse até porque “o envelhecimento saudável limita a necessidade de a população recorrer a medicamentos inovadores que, com os seus preços elevados, colocam uma substancial pressão sobre os sistemas de saúde”.

Contudo, refere o documento, “Portugal deve-se focar não apenas em promover o envelhecimento ativo e saudável das pessoas mais velhas, mas também implementar, entre adultos mais jovens (40-59 anos), estratégias indutoras de melhores níveis de saúde, segurança e participação na sociedade através de atividades não remuneradas”.

A investigadora acredita que para garantir que a população envelhece de forma ativa e saudável não se pode “depender unicamente do desenho de políticas de saúde”. “É necessário promover respostas sociais que combatam a pobreza, continuar a apostar em políticas que permitam à população idosa participar no mercado de trabalho de forma realizada, garantir que as cidades e habitações estão adaptadas à mobilidade de pessoas de mais idade e criar mecanismos que controlem o flagelo que é a solidão”, conclui Carolina Santos.

Apontamentos

- Quase 25 por cento da população portuguesa tem 65 ou mais anos.

- Desde 2019, a população idosa tem crescido 2% ao ano. Portugal, a par da Itália, é o país com maior índice de envelhecimento da União Europeia.

- Existem 3 mil pessoas centenárias.

- Há 186 idosos por cada 100 jovens.

- Portugal tem mais de 2,5 milhões de pessoas com 65 ou mais anos, praticamente 25% da população.

- Mais de 1 milhão de pessoas vivem sozinhas (10% da população). Desses, cerca de 50% são idosos.

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