O abandono escolar após o 1.º ano de licenciatura voltou a aumentar nas instituições de Ensino Superior (ES), fixando-se nos 11,2% (em 2023/2024). Embora o aumento não seja significativo - no ano letivo anterior (2022/2023) fixou-se nos 11,1% - confirma a tendência de subida do abandono nos últimos anos.Os dados, divulgados esta sexta-feira, 27 de junho, no Portal Infocursos (com novas estatísticas referentes ao ano de 2023/ 2024), indicam também um crescimento de “desistentes” dos Cursos Técnicos Superiores Profissionais (CTeSP), com 28,1% dos alunos a abandonarem os cursos. No ano letivo anterior foram 26,9% os alunos que decidiram abandonar esta via de estudos.O aumento do número de estudantes que já não se encontravam no sistema de Ensino Superior nacional um ano após iniciarem o seu curso não surpreende Francisco Porto Fernandes, presidente da Federação Académica do Porto (FAP). Para o dirigente académico, “mais importante que esses números é verificar que não há uma diminuição e se trata de uma tendência nos últimos anos”. “Repetidamente não há diminuição destes números; é o que nos preocupa mais. São dados que refletem o que nós temos dito: muito desse abandono é reflexo das condições socioeconómicas dos alunos”, sublinha. O presidente da FAP afirma ser mais comum a desistência dos alunos carenciados e com abonos sociais. Esses, alerta, perdem as bolsas de estudo se não tiverem aproveitamento escolar no 1º ano (têm de fazer metade das cadeiras desse ano). “Um estudante que não faça metade das unidades de créditos (ECTS) num determinado ano perde o abono social. Não somos a favor do facilitismo, mas consideramos que é muito importante ter este humanismo e esta visão de que o 1º ano pode correr mal e o sistema deve estar preparado para dar uma segunda oportunidade”, explica. Francisco Porto Fernandes acrescenta que estes estudantes carenciados sofrem mais pressão pelos resultados,” pois “dependem dessas notas para continuar a estudar”. “São estudantes que fazem exames com mais stress e esse peso pode também levar à falta de resultados”, acrescenta. Por isso, o presidente da FAP considera ser necessário rever as regras da suspensão de bolsas de estudo. Segundo o responsável, os alunos perdem essa ajuda se, como referido, não tiverem concluído metade das ECTS num determinado ano letivo ou se ultrapassarem em mais de um ano o tempo previsto para a conclusão do curso. “Temos uma proposta muito concreta. Em vez de perder a bolsa na falta de cumprimento dos ECTS definidos, que apenas se perca se não conseguir terminar após um ano do previsto. Queremos apenas um critério e não dois, como está agora regulamentado. É preciso monitorizar os dados de cada um dos estudantes, haver mais ação social e mais oportunidades”, defende.Francisco Porto Fernandes quer também alterações no valor das bolsas, considerando que o valor de referência se encontra “abaixo do limiar de pobreza”. Além da revisão das ajudas sociais, o responsável indica os problemas de alojamento como um dos motivos para o abandono escolar. “O problema do alojamento é o principal desafio e é preciso apostar no aumento do número de camas. No Porto, um quarto custa 400 euros. Para a classe média é um luxo estudar no Ensino Superior”, afirma. O presidente da FAP considera ainda que “os 100 milhões de euros em sede de Orçamento de Estado não são suficientes”, sendo imperativo “mais e melhor ação social para que os alunos não desistam de estudar e não abandonem os seus sonhos”..Números72,9%A taxa de conclusão dos inscritos no 1.º ano, pela 1.ª vez, em 2017/2018, em cursos de licenciatura aumentou. Os da área da Educação, por exemplo, está nos 72,9%. Apenas os cursos de Saúde e Proteção Social conseguem um valor mais elevado, com 74,8% dos alunos a concluírem os cursos.20 anosA maioria dos jovens ingressam no Ensino Superior (ES) com 20 anos (20%). A percentagem de “caloiros” com 18 anos, idade com a qual os alunos terminam o Ensino Secundário, é de 15%. Já os estudantes com 40 anos ou mais representam 5% da totalidade dos alunos que frequentam o ES.53%A distribuição dos alunos inscritos por sexo indica que 53% são mulheres. A título de exemplo, o curso de Direito, da Universidade de Lisboa, tem 1794 mulheres e 926 estudantes do sexo masculino. .Percentagem de recém-diplomados desempregados baixouApenas 2,4% dos recém-diplomados estão inscritos no IEFP. Trata-se do número mais baixo desde 2017 (7,2%). Em 2024, o número fixou-se nos 3.1%. Embora considere ser uma “ótima notícia”, Francisco Porto Fernandes, presidente da FAP, não se mostra otimista e questiona: “Será que baixou porque os jovens encontram trabalho em Portugal ou porque são obrigados a emigrar?” “É bom interpretar estes dados como positivos, mas devemo-nos focar nos baixos salários e na precariedade laboral dos nossos jovens. Uma precariedade que os leva, por exemplo, a sair de casa dos pais aos 29 anos. É bom relembrar que Portugal pode perder mil milhões de euros por ano devido à emigração jovem qualificada. E temo que os problemas continuem pela falta de bons salários”, conclui.