Cerca de 67% dos estudantes da Grande Lisboa e do Grande Porto dependem da ajuda familiar para frequentar o Ensino Superior (ES), e apenas 17,8% têm acesso a bolsas de estudo. Mesmo estes não conseguem, na sua maioria, fazer face às despesas de alojamento e alimentação. A conclusão é do estudo Cartografia e dinâmicas socioeconómicas dos estudantes do Ensino Superior do Grande Porto e da Grande Lisboa, do Edulog, think tank da Fundação Belmiro de Azevedo..Dados que Alberto Amaral, membro consultor do Edulog considera preocupantes, apesar de não se mostrar surpreendido, devido aos preços praticados no mercado de alojamento. Para o especialista, o valor das bolsas “deve acompanhar, pelo menos, a inflação dos últimos anos e ser consideravelmente superior”..E os critérios de elegibilidade também têm de ser revistos para que mais estudantes possam ser bolseiros. “Os alunos bolseiros a única coisa que recebem é o pagamento das propinas. Em relação ao apoio social, há dois problemas. Por um lado é muito reduzido e, por outro, o limiar de rendimento das famílias tem de ser muito baixo para que o aluno preencha os critérios para ser bolseiro. A família precisa quase de ser indigente. Qualquer família de classe média baixa já não tem direito a bolsa”, explica..Segundo o documento, alojamento, mobilidade e apoio financeiro são fatores críticos para o percurso académico dos estudantes. O estudo revela ainda uma dependência significativa do suporte familiar para cobrir as despesas dos alunos, principalmente dos deslocados..Entre estes, acresce outro problema. Sendo elegível para apoio no alojamento, é necessário apresentar um recibo de arrendamento. Contudo, “48% dos estudantes deslocados em Lisboa e no Porto não possuem contrato de arrendamento”..“Estes dados, bem como muitas das conclusões do estudo, não são surpreendentes e eram de prever, mas esta investigação permite que possamos sair do ‘achismo’ para termos, agora, dados concretos das reais dificuldades dos estudantes e das suas famílias”, sublinha Alberto Amaral. .A solução, diz, é aumentar a oferta de residências universitárias, pois “assumem um papel crucial para os estudantes deslocados, mas a oferta não é suficiente”. O estudo dá nota de que apenas 3% dos estudantes que concorrem a uma vaga numa resi- dência universitária obtêm lugar..Nem sempre foi assim, recorda Alberto Amaral, antigo reitor da Universidade do Porto. “Fui reitor 13 anos e, nesse período, construímos algumas. Não construí mais porque não havia clientes. Os alunos preferiam alugar quartos do que ir para uma residência onde tinham menos liberdade. Os bolseiros não preenchiam sequer as vagas. Entretanto, o panorama mudou drasticamente. O número de alunos deslocados aumentou e a oferta diminuiu”, refere..O especialista confessa não ser possível resolver o problema de alojamento no imediato, embora seja “urgente”. “Não se constrói um prédio de um dia para o outro. O Governo tem já um programa de construção de residências universitárias, mas vai demorar 4 ou 5 anos e estar completo”, alerta. Contudo, há soluções mais rápidas, defende, que devem passar por “rever o valor das bolsas e dos critérios de elegibilidade”. .“Um aluno com poucos recursos tem de escolher entre entrar no mercado de trabalho e receber um vencimento ou prosseguir estudos no ES, com dificuldades. Podem perder-se jovens de muito valor por falta de condições”, conclui..Alunos “muito insatisfeitos” com a rede de transportes.Os alunos da Grande Lisboa mostram-se muito insatisfeitos com a cobertura e a qualidade da rede de transportes, enquanto os do Grande Porto demonstram uma maior satisfação com os serviços prestados, nomeadamente com o metro e os autocarros urbanos. Alberto Amaral explica a insatisfação com o facto de os estudantes terem de procurar alojamento na periferia, onde os valores de arrendamento são inferiores. “Isto cria um problema de transportes públicos. Quando era fácil arranjar um quarto na cidade, esse problema não se punha”, adianta..O transporte público é o meio mais utilizado, com 75,4% dos estudantes, na Grande Lisboa, e 58,4%, no Grande Porto, a recorrerem a este tipo de solução para as deslocações diárias. No Grande Porto, os estudantes deslocam-se mais a pé (18,4%) do que na Grande Lisboa (10,5%) e, entre os meios de transporte, o metro e o autocarro urbano são os mais utilizados em ambas as regiões, sendo o metro particularmente importante na Grande Lisboa (48,1% dos estudantes utilizam-no) e no Grande Porto (39,5%).