Dos EUA a Paris. Uma semana de corridas, promessas, exceções e brilharetes

Dos EUA a Paris. Uma semana de corridas, promessas, exceções e brilharetes

Publicado a
Atualizado a

Trump ao ataque antes da reviravolta democrata

Sábado, 20 de julho

Sábado, Trump, durante um discurso de hora e meia perante uma plateia de 12 mil pessoas no Michigan, mostrou o fulgor que Biden era acusado de não ter, tendo deixado de lado os apelos à união de todos os norte-americanos feitos nos dias que se seguiram ao atentado contra a sua vida. O homem que tentou reverter o resultado eleitoral de 2020, e que, através de palavras e atos concretos, instou uma multidão a invadir o Capitólio, acusou o Partido Democrata de ser “inimigo da democracia” e, sobre Biden, disse: “É alguém doente, débil e patético que não pode apresentar-se a umas eleições.” No dia seguinte, Biden resignaria à corrida para a reeleição presidencial, endossando apoio à sua vice-presidente, Kamala Harris. Trump disse que, com Kamala como adversária, será mais fácil ganhar. Mas nas horas seguintes ao anúncio de Biden, o que se viu foi uma escalada no valor das doações à campanha democrata e Harris a conseguir, em pouco mais de 24 horas, o número de delegados necessários para ser nomeada candidata. A disputa eleitoral está relançada.

Kamala Harris conseguiu rapidamente o número de delegados que precisava. -- Foto: EPA / JEFFREY PHELPS

Nuno Borges e João Almeida dão destaque a Portugal

Domingo, 21 de julho

Um excelente dia para o desporto português. Na Suécia, o tenista Nuno Borges obteve a primeira vitória da carreira numa final de um torneio do Circuito ATP (algo que na história do ténis nacional só João Sousa conseguira). O triunfo foi ainda mais especial porque o adversário foi o espanhol Rafael Nadal, um dos melhores jogadores da história deste desporto, vencedor de 22 torneios do Grand Slam. O antigo líder do Ranking Mundial está hoje afastado da sua melhor forma, mas o fair-play com que se dirigiu a Nuno Borges após perder foi de verdadeiro campeão: “Jogaste muito bem durante toda a semana, mereces isto, mais do que qualquer um.” Com a vitória, Nuno Borges subiu ao 42.º lugar do ranking ATP, a sua melhor classificação de sempre. Já no Tour de França, a maior prova internacional de ciclismo (ganha este ano pelo esloveno Tadej Pogacar), João Almeida terminou no 4.º lugar da geral. O corredor da UEA Emirates, que não foi convocado para os Jogos Olímpicos, conseguiu assim, aos 25 anos, a proeza de ficar classificado entre os cinco melhores das principais provas do Mundo, depois do 5.º lugar na Vuelta a Espanha (2022) e do 3.º no Giro de Itália (2023).

Nuno Borges festeja a sua primeira vitória numa final do ATP. Um feito em dose dupla, pois o adversário foi o astro espanhol Rafael Nadal. -- Foto: EPA/Bjorn Larsson Rosvall

UE tenta esvaziar como pode presidência húngara

Segunda-feira, 22 de julho

A Hungria está a exercer a presidência rotativa do Conselho da União Europeia (UE) desde 1 de julho – o mandato é semestral – e um dos primeiros atos do primeiro-ministro Viktor Orbán foi uma alegada “missão de paz” deslocando-se a Kiev, Moscovo e Pequim, participando ainda numa reunião da Organização dos Estados Turcos, o que mereceu repúdio das principais instâncias europeias e garantias públicas de que se trataram de visitas no quadro de relações bilaterais e não em representação da UE. “A Rússia está a contar que a Europa e o Ocidente se tornem brandos e alguns na Europa estão a alinhar”, considerou Ursula von der Leyen. Deixar claro que Orbán não fala em nome da Europa tornou-se uma prioridade e esta segunda-feira deu-se mais um passo nesse sentido. Após reunião dos ministros dos Negócios Estrangeiros da UE, Josep Borrell, chefe da diplomacia europeia, anunciou nova reunião informal para o final de agosto. Mas em Bruxelas e não em Budapeste, como estava inicialmente previsto. O boicote foi assumido como forma de protesto contra as políticas de Orbán, um dos principais líderes da extrema-direita europeia. “Tem de haver consequências simbólicas e formais”, disse Borrell.

Josep Borrell, chefe da diplomacia europeia, assumiu boicote a Budapeste. -- Foto: EPA / OLIVIER MATTHYS

Exceção no Desporto. Será só a primeira?

Terça-feira, 23 de julho

As mudanças operadas pelo Governo nas leis da imigração, em junho, que ditaram o fim da Manifestação de Interesse (MI), apanharam muitos imigrantes de surpresa. Não só os que já estavam no país e tinham apresentado MI para obterem autorização de residência (o Governo garantiu que estes pedidos continuavam válidos e seriam devidamente avaliados), mas também de cidadãos extracomunitários que planeavam a mudança para Portugal e que deixaram de poder entrar no país com Visto de Turismo para, depois, apresentarem MI e regularizarem a sua situação (como era frequente). Mas a mudança também apanhou desprevenidos alguns setores de atividade. Um deles foi o do Desporto, que conseguiu ver aprovada, esta terça-feira, uma “via verde” para agilizar a chegada a Portugal de atletas extracomunitários a tempo de serem inscritos pelos clubes dentro dos prazos (janelas de transferências) que estão obrigados a respeitar. Perante a conhecida falta de funcionários consulares nos países de origem dos candidatos à imigração, que está a emperrar a emissão de vistos, o Desporto promete ser apenas a primeira de várias “exceções” que se vão abrir.

Luís Montenegro e o ministro da Presidência, Leitão Amaro, que tem a pasta das Migrações. O Governo anunciou o fim da Manifestação de Interesse no dia 3 de junho. -- Foto: GERARDO SANTOS / GLOBAL IMAGENS

Médicos em greve e a necessidade de reforços

Quarta-feira, 24 de julho

Chegaram ao fim os dois dias de greve nacional dos médicos e, como é habitual neste tipo de situações, os números da adesão são bastante divergentes: a Federação Nacional dos Médicos (Fnam), que mobilizou os protestos, falou em 75% de adesão, enquanto que o Ministério da Saúde falou em pouco mais de 31%. Certo é que houve vários serviços de Norte a Sul do país a sentir constrangimentos, principalmente no que diz respeito a consultas e cirurgias canceladas, quando muitos profissionais de saúde já se encontram em período de férias e quando o movimento Médicos em Luta mantém a intenção de recusar fazer mais horas extraordinárias do que aquelas a que estão obrigados por lei, se o Governo não avançar rapidamente com medidas concretas para melhorar as “condições de trabalho atuais, que têm impactado negativamente a saúde mental, física e a qualidade de vida de todos os profissionais de saúde”. Enquanto não chegarem mais médicos ao SNS, dificilmente algum destes problemas desaparecerá. Não basta subir salários, é preciso reforço de equipas. A eficácia do serviço depende disso. A saúde de muitos portugueses também.

Protesto de médicos junto ao hospital de São João, no Porto. -- Foto: JOSÉ CARMO / GLOBAL IMAGENS

Prometem-se polícias. Mas faltam candidatos

Quinta-feira, 25 de julho

Setúbal juntou-se a outras cidades, como Lisboa e Porto, que reclamam mais polícias. Em comunicado, a autarquia liderada por André Martins (CDU), citando dados do último Relatório Anual de Segurança Interna que mostram um aumento da criminalidade geral e participada em todo o distrito, fala numa necessidade “gritante” de policiamento, acrescentando que os cidadãos sentem a “falta de meios humanos das forças de segurança e percecionam que a ação de prevenção e vigilância está fortemente diminuída”. No dia anterior, a ministra da Administração Interna, Margarida Blasco, garantiu o reforço das ações policiais em Lisboa e no Porto e uma subida do número de operacionais já neste verão, isto depois de Carlos Moedas, o autarca da capital portuguesa, ter dito que houve “um aumento da criminalidade, que é claro, é visível, não é só uma perceção”.  Também esta semana foi anunciado que a nova unidade da PSP para controlo de fronteiras terá 1600 polícias até 2025. A questão é: onde vai o Estado conseguir todos os profissionais que promete ou que as autarquias lhe exigem? Mais do que um mistério, parece uma impossibilidade pois o número de candidatos, admite a PSP, tem vindo a baixar todos os anos.

O número de candidatos a polícia tem vindo a baixar. -- Foto: ANDRÉ ROLO / GLOBAL IMAGENS

Paris2024. Chegou a hora de todos os desafios

Sexta-feira, 26 de julho

Já está em marcha o maior evento desportivo do Mundo, os Jogos Olímpicos. Até dia 11 de agosto, dezenas de cidades de França, incluindo território ultramarino, acolhem mais de 10 mil atletas (73 deles portugueses), pela primeira vez em paridade de género, que vão competir em 32 modalidades, disputando uma das cinco mil medalhas que foram produzidas para o evento (além dos metais tracionais – ouro, prata e bronze – todas contêm pequenos fragmentos de ferro usado na construção da Torre Eiffel). No epicentro de toda a ação estará Paris (que recebe os Jogos pela terceira vez), onde ontem teve lugar uma cerimónia de abertura histórica, realizada ao ar livre, com um percurso pelo Rio Sena. A capital é também palco de uma gigantesca operação de segurança, que tem implicações na liberdade de movimentos dos cidadãos e tem merecido alguma contestação. Mas não há outra forma de agir. Afinal, como explicou o presidente Macron, França prepara-se para “receber o mundo”. E esse é, sem dúvida, um desafio de nível olímpico.

Chuva intensa na cerimónia de abertura de Paris2024. -- Foto: EPA/JOEL MARKLUND/POOL

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt