Miguel Pinto Luz na conferência do DN.
Miguel Pinto Luz na conferência do DN.Leonardo Negrão

"Dizer que a Europa continua a liderar na tecnologia é falso". O que tem consequências para a soberania

O ministro das Infraestruturas e Habitação encerrou a conferência DN Defesa Nacional - Nova Ordem Mundial e apesar de se mostrar por um lado otimista, traçou também os desafios do país e da Europa.
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As áreas onde a Europa -- e, consequentemente, Portugal -- se deixou ultrapassar a nível tecnológico, as mesmas em que chegou a liderar, são um desafio premente para a região e têm enormes consequências para a soberania dos Estados que a compõem.

Esta é uma das ideias-chave do discurso de encerramento do ministro das Infraestruturas e Habitação, Miguel Pinto Luz, esta terça-feira, na conferência do DN Defesa Nacional - Nova Ordem Mundial, realizada na Academia Militar, na Amadora.

Apesar de fazer questão de dizer que "há coisas, objetivamente, onde a Europa lidera" - aliás, sublinha o governante, "é um orgulho enorme pertencer a esta sociedade, que eu diria que é o modelo mais inclusivo, mais justo" - Miguel Pinto Luz reconhece de seguida: "Dizer que a Europa continua a liderar em termos tecnológicos é falso."

"Nós liderámos a revolução do 4G, mas estamos claramente atrás da revolução do 5G e claramente atrás daquilo que seria saudável para a segunda economia do mundo e a região liderante em termos de modelo de desenvolvimento", afirma.

Pior! "Claramente estamos atrás quando nos preparamos com uma realidade das grandes Over the Top, que todos nós utilizamos nos nossos smartphones, as redes sociais da Meta, as redes sociais da Google, as redes sociais da Microsoft e de todas [essas] empresas de OTT, quase todas americanas, algumas também asiáticas", acrescenta. "Não se conta sequer pelo dedo de uma mão, aquelas que têm massa crítica e suficiente e que são de escala europeia".

Este aliás "é um desafio para a defesa nacional, um desafio para a defesa europeia e para a soberania, para a defesa daquele modelo civilizacional do qual eu me orgulho tanto", afirma.

Para Miguel Pinto Luz, num mundo onde "dominam as redes sociais", é aqui que se faz "a captação do petróleo dos dias de hoje".

"Há um petróleo ainda mais importante que os chips, que são dados, sejam eles relevantes do ponto de vista da defesa, sejam eles relevantes do ponto de vista da segurança, sejam eles relevantes do ponto de vista económico, sejam eles relevantes do ponto de vista sistematicamente do conhecimento", diz.

O governante lembra que "hoje a Defesa já tem a articulação estreita com as infraestruturas", dando o exemplo dos cabos de dados submarinos, com amarração nos Açores e em Sines, cuja infraestrutura foi planeada em conjunto com empresas privadas e Estado português, incluindo a Defesa

Mas a troca de dados não se fica pela fibra ótica dos cabos. "Hoje a Starlink tem mais de 7 mil satélites, mas tem um plano para colocar 14 mil, e pode chegar aos 32 mil satélites colocados fora da atmosfera, e portanto, esta é uma dimensão com a qual nós não estávamos preparados objetivamente", diz Miguel Pinto Luz. "E aqui não há dúvidas absolutamente nenhumas, quem está a dominar esta cadeia de valor, de A a Z, não são empresas europeias".

Mais um exemplo de algo que, diz, "é tão estritamente importante para a defesa e para a soberania de uma região e de um Estado [que] não está a ser devidamente contemplada".

"E é isso que nós hoje já estamos, na regulação portuguesa na Starlink, estamos a olhar para esse tema", assegura, "Temos uma palavra a dizer, em termos de segurança, em termos de defesa e de soberania nacional".

O ministro deixa assim uma "pequena provocação": "A defesa toca em tudo, e quando estamos a falar de defesa, estamos a falar da defesa dos nossos concidadãos, mas estamos a falar da defesa do nosso modelo de civilização. E ao acreditarmos no nosso modelo de civilização, temos que, concomitantemente e sem qualquer tipo de rodeios, investir na nossa defesa coletiva".

Miguel Pinto Luz garante que, pelo lado do Governo têm feito esforços para coordenar projetos com a "dimensão da defesa" e que esta "tem de extravasar, e muito, aquilo que é a sua componente estrita de aquisição de material para a persecução da atividade a que se propõe". Nomeadamente a nível de obras públicas e "investigação e desenvolvimento". "Esse é o empenho", garante.

"Este governo tem hoje esta visão, que deixou de ser uma visão de compartimentos não comunicantes, para uma visão holística, um jargão tão em moda e tão no vocabulário de todos, hoje em dia, mas que vemos pouco na prática", garante, dando exemplos, desde ramos ferroviários de transporte de mercadorias a obras nos maiores portos portugueses.

"É o que temos de fazer em Sines, o que é que temos de fazer em Leixões, o que é que temos de fazer em Lisboa, Setúbal, Aveiro, para integrá-los com uma rede ferroviária capaz, integrá-los com uma rede ferroviária capaz, com uma rede de telecomunicações capaz, integrá-la com uma visão de defesa nacional, na tal visão de duplo uso", afirma o ministro.

"É algo que nós temos de olhar de sobremaneira. É um desafio enorme", reconhece.

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