A despesa do Serviço Nacional de Saúde com medicamentos ficou próxima dos 3.960 milhões de euros em 2024, um aumento de 11,5% que reflete pela primeira vez os fármacos administrados ou dispensados nos cuidados de saúde primários.Segundo o relatório de monitorização da despesa com medicamentos no âmbito hospitalar, divulgado pelo Infarmed, a integração do valor dos fármacos dispensados ou administrados (vacinas) nos centros de saúde deve-se à reforma das Unidades Locais de Saúde (ULS), que entrou em vigor no ano passado.Nos hospitais e centros de saúde, o aumento da despesa com medicamentos foi de 16,1% (mais 315,8 milhões de euros) face ao período homólogo, fixando-se em 2.274,8 milhões de euros. Os restantes 1.683,8 milhões são referentes às comparticipações dos medicamentos comprados nas farmácias pelos utentes.Os dados indicam que hospitais públicos gastaram em medicamentos 2.215,5 milhões de euros (+13,6%) e os cuidados de saúde primários foram responsáveis por uma despesa de 58,8 milhões em fármacos.O Infarmed salienta, contudo, que após deduzidas a totalidade das contribuições resultantes de devoluções ao Serviço Nacional de Saúde (SNS) por parte da indústria farmacêutica, quer no âmbito dos contratos de financiamento quer no âmbito do acordo com a indústria, o aumento da despesa com medicamentos em 2024 foi de 9% face a 2023, com um total de 3,5 mil milhões de euros.Por área terapêutica, a oncologia encabeça a lista das que mais custaram aos hospitais públicos no ano passado, com 747,6 milhões de euros (+ 19,7%), seguida do VIH, com uma despesa de 240,4 milhões (+11,4%).O principal aumento de despesa nas ULS continua a ser na área da oncologia, com mais 123,1 milhões de euros face ao período homólogo, com destaque para o aumento de despesa com a substância ativa Pembrolizumab (+27,3 milhões), que decorre não só dos custos elevados associados à imuno-oncologia, mas também por estar financiada para várias indicações terapêuticas.Depois da área da oncologia, as vacinas foram os medicamentos com maior aumento da despesa (+43,9 milhões), seguidas da área do VIH (+24,6 milhões) e a AR/Psoríase/DII (+20,1 milhões).A área das vacinas destaca-se por refletir a inclusão dos cuidados de saúde primários nas ULS, visto que até 2023 apenas estavam a ser considerados os consumos das oito ULS prévias à atual reforma do SNS.As vacinas com maior peso são a da gripe e a vacina contra o Meningococo.Nos cuidados hospitalares, o grupo dos imunomoduladores (para o sistema imunitário) foi o que apresentou um maior aumento da despesa (+115,9 milhões), seguido dos citotóxicos (+36,2 milhões).Numa nota divulgada esta quinta-feira, o Infarmed refere que os dados agora conhecidos confirmam uma tendência de crescimento na despesa com medicamentos, “impulsionada pela inovação terapêutica e pelo aumento de recursos a cuidados de saúde”, dizendo que “continuará a monitorizar de forma rigorosa a evolução do mercado, promovendo a sustentabilidade no acesso a medicamentos essenciais para os cidadãos”.Ainda no âmbito hospitalar, por área de prestação, a consulta externa e produtos cedidos ao exterior é a que continua a ter maior peso (42,6%), com uma despesa de 969,9 milhões, seguida do Hospital de Dia (38%), com 863,9 milhões, e do internamento (8%), com 199,9 milhões de euros.Na despesa com medicamentos no âmbito hospitalar, os cuidados de saúde primários tiveram um peso de 2,6%, com 58,8 milhões de euros, os meios complementares de diagnóstico (exames) pesaram 1,5% (mais de 34 milhões de euros) e em bloco operatório gastaram-se 33,5 milhões de euros.A unidade de saúde com maior valor de despesa em medicamentos em 2024 foi a ULS de Santa Maria (273,3 milhões de euros), seguida pela ULS de Coimbra (207,8 milhões) e a ULS de São José (201,7 milhões), a ULS de Santo António (157,6 milhões) e a ULS de São João (140,4 milhões). A que menor despesa com medicamentos teve foi a ULS da Póvoa de Varzim/Vila do Conde (dois milhões de euros).O Instituto Português de Oncologia (IPO) do Porto gastou em medicamentos 107,2 milhões de euros (+16,4%), o de Lisboa 93,3 milhões (+20%) e o de Coimbra 25,2 milhões (+11,3%)..“Houve ministros a pensar que conseguiam resposta adequada do SNS virando costas aos médicos. Foi um erro”