Desconfiar é a melhor maneira de se movimentar no mundo digital
Bruno Castro é especialista em cibersegurança e análise forense. Foto: André Rolo/Global Imagens

Desconfiar é a melhor maneira de se movimentar no mundo digital

Partilhar um simples vídeo pode abrir caminho a uma série de fraudes e burlas na internet. Desconfiar primeiro e clicar depois é a melhor opção. É também preciso ter cuidado com as compras online, a principal razão de queixa dos portugueses. Já agora, não acredite em tudo o que vê ou ouve.
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Hoje assinala-se o Dia Europeu da Internet Segura. Só que, ao utilizarmos a internet, sabemos que estamos expostos aos mais variados riscos. Bruno Castro, CEO da Visionware, empresa especializada em cibersegurança, deixa o alerta: “Primeiro vou dar um conselho que dou sempre, em todas as conferências que faço: Devemos aplicar exatamente as mesmas regras que utilizamos no nosso dia a dia. Não devemos andar à noite sozinhos, não devemos andar em bairros, em zonas perigosas, não falar com estranhos. Ou seja, o que fazemos na nossa vida normal devemos replicar na nossa vivência digital. Há uma analogia direta e é essa que faço, até com os meus filhos”.

As redes sociais, usadas em massa em todo o mundo, são outro dos perigos à espreita por detrás de um smartphone, tablet ou computador. “O LinkedIn, o Facebook, o Tinder... Eu falar com um estranho por via digital é exatamente a mesma coisa que estar a falar com um estranho na rua. Se as pessoas aplicarem esta regra, de desconfiarem de estranhos, creio que a maior parte dos esquemas fraudulentos vão passar-lhes ao lado”, afiança o especialista em cibersegurança e análise forense. “Ativar o sentimento de insegurança e perigosidade, que ativa quando vai a passar na rua, à noite, sozinha, ou num bairro complicado, aplica-se às redes”. O especialista acrescenta, ainda, que a internet dá uma falsa sensação de segurança que deve ser combatida. “A pessoa pensa que por estar em casa, sentada no seu sofá, tem uma segurança digital. Não têm”.

A utilização do wifi também deve ser controlada, sobretudo em locais públicos. “Quando estamos a utilizar uma rede pública, num hotel, numa estação de serviço, num aeroporto, recomendo logo que não utilize essas redes públicas, oferecidas, para aceder a serviços sensíveis. Não deve, por exemplo, aceder ao homebanking, ao site das finanças, ao email... E porquê? Porque é uma rede que não controlamos, pública, oferecida. Até pode servir para ouvir música, para ver o Youtube também serve, mas para ir ao site do banco não é seguro”. 

As compras online são outra dor de cabeça para muitos portugueses. Só no ano passado o Portal da Queixa recebeu quase 25 mil reclamações, relacionadas com fraudes associadas a compras. A maior parte dos consumidores pagou por produtos que nunca chegou a receber. Perante isto, ao pedir o reembolso do dinheiro este também nunca apareceu. Bruno Castro explica: “Se lhe aparecer uma oferta fantástica, do outro mundo, desconfie! Há ofertas que aparecem de repente só para aquela pessoa, quase como um Euromilhões por anúncio, isso é algo de falso, com certeza. Lá está, faça como faria na rua. Se um desconhecido lhe viesse vender um bilhete de lotaria, alegadamente premiado, certamente não o aceitaria”. Ainda assim, para o especialista em cibersegurança, é possível fazer compras na internet sem ser enganado. “Deve verificar-se se o site é credível, fazer uma pesquisa, ir ao site da oferta, procurar na net se é um site seguro  ou não”.

As formas de pagamento também devem ser cuidadas. “Não quer dizer que não faça compras na internet, mas é preciso cautela”, adenda Bruno Castro. “Recomendo sempre que as pessoas não disponibilizem os seus cartões de crédito, mas sim cartões virtuais. Estes têm a vantagem de conseguir, por exemplo, controlar o valor que utiliza”.  E dá um exemplo: “Eu crio um cartão MB Net, e, nesse caso, carrego-o com 100 euros para uma compra que custa 99. Se alguém me roubar aquele cartão, ou até se a plataforma onde fiz a compra o perder, eu só perco um euro”. De resto, quanto a compras, Bruno Castro acrescenta: “Nunca é demais ver se o site é fidedigno. É preciso fazer uma pesquisa online por aquele site. E, inclusive, já há serviços na net que verificam a credibilidade dos sites online de compras. Estabelecem níveis de credibilidade. Por exemplo, quero comprar uma televisão, umas peças para o carro ou uma roupa e aparece-me determinado site no Facebook. Eu posso ir à net procurar e validar a credibilidade daquele site, online. Não é mais do que ir validar, previamente à compra, se o site é, realmente, credível”. 

A usurpação de identidade é outra preocupação dos especialistas em cibersegurança. “Hoje em dia já acontece em redes  profissionais como o LindekIn, por exemplo. Surgem propostas de parcerias, o envio de documentos, contratos, o que seja, e na realidade o que lhe estão a enviar é um documento, ou um link, que ao ser aberto tem um vírus que lhe está a roubar a sua password”. E, muitas vezes, não são só links. “Pode ser, até, um documento word que, ao ser aberto, tem esse vírus por detrás”, alerta Bruno Castro.

Para aceder às suas próprias contas na internet, seja de redes sociais ou outros serviços, Bruno Castro avisa: “Devemos aplicar mais do que um fator de autenticação: ou seja, não utilizar apenas a password. Devemos usar dois fatores de autenticação. Por exemplo, uso a password, mas também utilizo um token que vai aparecer no meu telemóvel. Aliás, este sistema já é obrigatório na banca”. Os próprios utilizadores podem fazê-lo facilmente, pesquisando por MFA (Multi Factor Authentication) e seguir os passos”. 

Já agora, não caia na burla ‘Olá mãe!’ ‘Olá Pai!’. “Hoje em dia já aparece a foto do filho, que foi roubada das redes sociais. Mais uma vez, desconfie sempre”. Com a Inteligência Artificial (IA) até já é possível fazer vídeos falsos da pessoa. Bruno Castro finaliza: “Por 100 dólares, na internet, faz um vídeo de alguém. Por isso, nunca acreditem em tudo o que ouvem e vêem”. 

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