De chamariz de estudantes à lista da UNESCO. O que é que a Covilhã tem?

Do recato interior da Beira a cidade criativa da agência das Nações Unidas, a Covilhã tornou-se uma das mais procuradas pelos universitários. São atualmente mais de 8 mil, que se misturam com os quase 47 mil habitantes.

Quando recebeu a notícia de que a Covilhã tinha sido escolhida para integrar a rede de cidades criativas da UNESCO, o presidente da Câmara sentiu "um enorme orgulho e satisfação". A distinção significa que, desde a semana passada, o design, aliado à cultura, à criatividade e ao desenvolvimento sustentável, passa a ser um dos principais motores das políticas públicas do município, compartilhando conhecimento e boas práticas a nível internacional ao abrigo do compromisso que ficou estabelecido com a candidatura da Covilhã junto da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura.

Vítor Pereira trilhou esse percurso ao lado da vereadora da Cultura, Regina Gouveia, e do diretor executivo da candidatura, Francisco Paiva, professor na Universidade da Beira Interior. No mesmo dia, também Santa Maria da Feira recebeu a distinção. Mas a Covilhã viu-se presenteada com uma avalanche de notícias que não pararam de a exteriorizar, pelo menos no papel, pelo menos online. Mesmo que, na realidade, continue a ser uma cidade do interior que ainda perde população, que ainda não consegue fixar os (muitos) que ali estudam, ainda que sejam cada vez mais.

"Isto vai propiciar o trilhar de novos caminhos, sem perder esta história e esta identidade, tirando partido da nossa experiência, dos nossos empresários, dos nossos operários, dos nossos académicos", diz Vítor Pereira, presidente da Câmara da Covilhã, ao DN, destacando uma transversalidade de vária ordem, sendo que da cultura se vai irradiar para outras áreas do conhecimento, e na economia se olha com especial enfoque para o turismo ou a regeneração urbana.

O autarca socialista aponta a regeneração urbana e a preservação do património arquitetónico como bandeiras, numa altura em que acaba de ser eleito para o terceiro e último mandato. De resto, quando é confrontado com estudos ou análises como a que o jornal Expresso publicou na semana passada (que apontava a Covilhã como a cidade mais barata para estudar, na universidade) Vítor Pereira não fica surpreendido. "Desde o berço ao doutoramento nós temos excecionais condições para receber as pessoas. Não apenas as que vêm para cá estudar, mas também as que vêm trabalhar. Depois temos uma oferta cultural muito vasta, também", enfatiza.

O presidente não se espantou com a análise do semanário, de resto similar a outras, que posicionam a cidade num patamar cimeiro de qualidade de vida: "A Covilhã tem uma vocação universitária por natureza. Os beirões são muito hospitaleiros. Receberam sempre de braços abertos esta nobre instituição que é a Universidade da Beira Interior".

Criada em 2004, a Rede das Cidades Criativas (Creative Cities Network, UCCN na sigla em inglês), engloba atualmente 295 cidades em 90 países que estão a investir na cultura e na criatividade - nas áreas de artesanato e arte popular, "design", cinema, gastronomia, literatura, artes de media e música - para ter impacto no desenvolvimento urbano sustentado.

Em Portugal, a Rede de Cidades Criativas incluía já Amarante, Idanha-a-Nova, Leiria (música), Óbidos (literatura), Barcelos, Caldas da Rainha (artesanato e artes populares) e Braga (artes digitais).

UBI mostra património do passado industrial

A Universidade da Beira Interior (UBI), com sede na Covilhã, tem grande responsabilidade nesta visibilidade da cidade como está bem de ver. Francisco Paiva, diretor executivo da candidatura e professor na instituição, acreditou sempre neste desfecho. "É o reconhecimento do potencial da cidade, mas também um compromisso de todos os envolvidos para ser posto em marcha um plano de ação que promova a cultura de projeto. Fazer parte da rede UNESCO é uma honra e um privilégio muito grande, mas carece de renovação periódica de quatro em quatro anos", explica.

Entretanto, a UBI criou um percurso pedestre para mostrar o património edificado da academia ligado à tradição industrial daquela cidade. Trata-se da Rota CampusLANA, desenvolvida pelo Museu de Lanifícios, que vai ser apresentada no dia 18 (quinta-feira), quando se assinala o Dia do Património Académico Europeu.

Segundo uma nota divulgada pela agência Lusa, o percurso vai dar a conhecer o património cultural incorporado naquela academia, permitindo um conhecimento que vá além da mera contemplação estética, em direção aos aspetos históricos, geográficos, económicos, sociais e arquitetónicos, entre outros. Numa cidade que sempre esteve ligada aos lanifícios, aos ofícios e aos produtos da lã, e cujo património da universidade está intimamente ligado a essa história, o percurso assume particular relevo.

A apresentação desta rota está marcada para o dia 18, às 09h30, com início na Parada, antiga Praça Central da Real Fábrica de Panos. A participação é livre, mas requer inscrição até ao dia 16, através de muslan@ubi.pt. O evento insere-se no Dia do Património Académico Europeu, que tem o objetivo de permitir às Universidades europeias lembrarem e celebrarem o seu património cultural comum, enquanto iniciativa da UNIVERSEUM (European University Heritage Network).

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