Da Indonésia ao Reino Unido. Quem são alguns dos portugueses detidos lá fora?

De Lisboa a Bali, 2,5 quilos de cocaína e 6 mil euros

Dois frascos de champô e um de sabonete eram o meio de transporte para 2,5 quilos de cocaína de Lisboa para Bali, na Indonésia. O serviço valia 6 mil euros. O correio é português: Rui Viana, de 21 anos, que foi detido no aeroporto Soekarno-Hatta, o maior de Jacarta, capital da Indónesia. Para ali chegar, já tinha feito dois voos: Lisboa-Dubai e Dubai-Jacarta.

Indo para Bali, famoso destino turístico naquele país, a droga só foi detetada devido ao comportamento suspeito de Rui Viana. Citado pelo jornal IDN Times, o chefe de Execução e Investigação da alfândega do aeroporto explicou: “Os agentes aduaneiros que faziam a vigilância na zona de chegada dos passageiros internacionais desconfiaram do comportamento de Rui, que parecia hesitante e que, por várias vezes, parou de andar enquanto fazia chamadas telefónicas ao entrar na zona de inspeção.” Segundo Zaky Firmansyah, o corpo do português tremia antes da entrada dos objetos na máquina de raios-x. Foi então que os dois frascos de champô - embrulhados em plástico - e o frasco de sabonete levantaram suspeitas, por terem um “odor químico”. Foi então que a droga em estado líquido foi descoberta.

Foi também feito um exame corporal ao português. Em interrogatório, admitiu o esquema e disse que a droga lhe fora entregue ainda em Portugal, por uma pessoa que lhe fora apresentada por um amigo. No entanto, citado pelo jornal Tempo, o chefe alfandegário mencionou que, aquando da detenção, o português disse que nunca tinha estado no país, que não era o proprietário das drogas e que estas lhe tinham sido dadas três horas antes do voo “por alguém que não conhecia”.

Zaky Firmansyah disse também que Rui Viana “recebeu uma passagem para voar para Bali, com partida às 17.05 horas do dia 17 de março. Tinha também alojamento pago na área de Pecatu”.

As investigações levaram então a outro português: Fernando Sousa, cuja casa é alvo de uma rusga. Descobre-se então cocaína em pó, pronta a consumir, pesando menos de uma grama.

As informações iniciais apontavam para uma pena máxima de 20 anos de prisão, mas na Indonésia o crime é passível de dar pena de morte, esclareceu a polícia indonésia - que não disse, no entanto, o que o Estado pode fazer. Como é costume no país, os suspeitos já apareceram nas televisões, durante uma conferência de imprensa. Na ocasião, Fernando Sousa aproveitou para mostrar aparentes marcas de violência.

O caso é complexo, a extradição é difícil. Mas não impossível e os tribunais portugueses podem ter um papel importante, emitindo um mandado de detenção. A Polícia Judiciária já disse estar a tentar identificar todos os envolvidos no caso e a tentar perceber se a droga saiu de Portugal. A diplomacia já está em ação e a família de Rui Viana já pediu apoio à embaixada. Além disso, se forem condenados, Rui e Fernando podem pedir o cumprimento da pena em Portugal.

Hacker português arrisca 57 anos de prisão nos EUA

Diogo Santos Coelho tem 24 anos e arrisca passar mais 57 na prisão americana. Detido no Reino Unido, a extradição para os Estados Unidos não está assegurada, mas é um cenário que parece cada vez mais provável.

A semana passada, o ministro de Estado para a Segurança do Reino Unido, Tom Tugendhat, não quis ouvir os argumentos apresentados pela defesa do hacker português e optou por dar seguimento ao pedido de extradição emitido pelos Estados Unidos. Em fevereiro, um juiz decretou a transferência do jovem para Portugal, após consulta do pedido feito pelos advogados de Diogo. Mas como havia o pedido dos Estados Unidos, o Ministério Público inglês decidiu que o caso devia ser enviado para o ministro, que tem autoridade para tomar a decisão final. Tom Tugendhat não quis ouvir os argumentos da defesa e decidiu pelo pedido dos Estados Unidos, onde o hacker está acusado de vários crimes de conspiração, fraude no acesso a dispositivos e roubo de identidade agravado. A defesa tem três meses para recorrer.

Diogo Santos Coelho foi preso no Reino Unido em 2022. É suspeito de ter criado uma plataforma chamada RaidForums, usada para fazer transações de grandes quantidades de dados roubados online, desde números de cartões de crédito até passwords de acesso a contas bancárias. Os pagamentos feitos em troca destes dados eram feitos em criptomoedas. De acordo com o FBI, era o maior mercado e ponto de encontro virtual de vários piratas informáticos, tendo meio milhão de utilizadores.

Segundo a CNN Portugal, uma das vítimas de Diogo Santos Coelho foi a T-Mobile, gigante norte-americana do setor das telecomunicações. Foram roubados dados de 50 milhões de utilizadores e divulgados no RaidForums. Para tentar reverter o roubo, a empresa pagou 252 mil euros em bitcoin.

No passado, a justiça britânica já tinha aceitado um pedido de extradição dos Estados Unidos, mas a defesa recorreu, alegando que, sendo autista, Diogo Santos Coelho podia correr risco de vida numa prisão americana.

Detido no aeroporto de Gatwick, em Londres, a 31 de janeiro de 2022, Diogo Santos Coelho está em prisão domiciliária com pulseira eletrónica no seu apartamento, em Vauxhall, Reino Unido. Na altura, tentava entrar no país para visitar a mãe, que sofre de uma doença degenerativa que causa a morte de células cerebrais, estando internada num lar. Segundo a investigação, muitos dos crimes de que é suspeito terão ocorrido com recurso a servidores informáticos alojados em Portugal.

Filho de portugueses, Diogo Santos Coelho viveu alguns anos em Inglaterra, até os pais se separarem. Nessa altura, o jovem regressou com o pai a Portugal e a mãe ficou no Reino Unido. Com 14 anos, criou a Raid Forums. Usava, entre outras, as alcunhas “Kevin Maradona” e “Shiza”, tendo, alegadamente, pelo menos dois cúmplices.