Costa: Porto de Sines pode ser estratégico para fornecer gás à Europa
Portugal, e mais precisamente Sines, tem um papel importante a desempenhar na eliminação da dependência energética da Europa face à Rússia. "Podemos ser um porto de acolhimento, de armazenamento e de trans shipment de gás natural liquefeito, que pode vir das múltiplas rotas atlânticas e de múltiplas origens para outras regiões europeias", afirmou ontem o primeiro-ministro, António Costa, na apresentação do MadoquaPower2X, o projeto de mil milhões de euros para produção de hidrogénio e amónia verdes na zona industrial daquele concelho do litoral alentejano.
O investimento, que junta num consórcio a portuguesa Madoqua Renewables, a Power2X, dos Países Baixos, e a gestora de fundos dinamarquesa Copenhagen Infrastructure Partners (CIP), deverá estar totalmente licenciado até ao final deste ano, com a construção a arrancar em 2024.
António Costa aproveitou a ocasião para dizer que "não podemos estar 40% dependentes de um único fornecedor [de energia]". O primeiro-ministro lembrou o anúncio "histórico" da Comissão Europeia, quando assumiu como opção estratégica da Europa o aumento das interconexões entre a Península Ibérica e o resto do mercado europeu. Interconexões que se encontravam bloqueadas há anos. "Quer as elétricas quer as por via de pipeline para o fornecimento de gás natural". Um pipeline que, segundo António Costa, pode ser hoje usado para o gás natural, mas amanhã para o hidrogénio verde. Trata-se "de uma infraestrutura da maior importância". Portugal e Espanha têm capacidade já instalada para satisfazer 30% das necessidades energéticas da Europa em gás natural, referiu. "Só não podemos disponibilizar essa capacidade porque não há interconexão que permita transportar esse gás natural que temos capacidade de acolher, armazenar e distribuir pelo resto da Europa".
Para o chefe de Estado "é mesmo prioritário investir na transição energética. É mesmo prioritário apostar na produção própria de energia, na Europa, através das energias renováveis", afirmou, acrescentando que é fundamental também diversificar as rotas de abastecimento. "E é por isso que temos de aumentar a nossa capacidade de armazenamento, de transshipping, de expedição, em pipeline, de exportação através das interconexões do gás natural que podemos também acolher, para além da produção da nossa própria energia renovável". O projeto de produção de hidrogénio e amónia verdes em Sines é, por isso, uma "ideia urgente" e um "excelente exemplo do que é a União Europeia", acrescentou.
Na mesma linha, Duarte Cordeiro, ministro do Ambiente e da Ação Climática, lembrou que a situação mudou. "Se há uns meses a produção de hidrogénio e amónia verdes eram relevantes, hoje são cruciais", afirmou. Sobre o MadoquaPower2X, Duarte Cordeiro sublinhou que, "em poucos locais como em Portugal temos condições para produzir hidrogénio sustentável, o chamado "hidrogénio verde". Com a vantagem de ser produzido com "os mais baixos preços de produção de eletricidade a partir da energia solar".
O projeto prevê a instalação de 500 megawatts de capacidade de produção de hidrogénio verde e 500 mil toneladas de amónia verde por ano, evitando a emissão de mais de 600 mil toneladas de dióxido de carbono e criando mais de 200 empregos. "O hidrogénio aqui produzido poderá ser usado pela indústria local ou processado para a criação de amónia verde exportada a partir do terminal do porto de Sines. A eletricidade será obtida sobretudo a partir de comunidades de energia renovável com parques eólicos e solares que serão desenvolvidas em paralelo", referiu Duarte Cordeiro, que acrescenta que é um projeto "alinhado com os nossos objetivos. Descarbonizado. Qualificado. Estratégico. De e com valor".
A valorização do projeto por parte das entidades governamentais foi reconhecida por Rogaciano Rebelo, CEO da empresa portuguesa Madoqua, que lidera o consórcio, e por Occo Roelofsen, founding partner da Power2X, empresa especializada na transição energética e consultoria de gestão. Ambos realçaram esse ponto como o que mais diferença fez na decisão de avançar para Sines. Embora não tenha sido o único. Na decisão entrou igualmente a elevada capacidade de produção de energia através de fontes renováveis, as outras empresas existentes na região e a sua capacidade técnica, de investigação e desenvolvimento, e ainda a localização geográfica do porto, excelente para a exportação.