Como as células de gordura podem ajudar a matar o cancro à fome
Natacha Cardoso/Arquivo Global Imagens

Como as células de gordura podem ajudar a matar o cancro à fome

Investigadores da Universidade da Califórnia modificaram geneticamente células adiposas, tornando-as mais “famintas”, e colocaram-nas perto de células cancerígenas para impedir estas de se alimentarem. Os resultados são promissores.
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Podemos matar o cancro “à fome”? Essa é a ideia desenvolvida por investigadores da Universidade da Califórnia, em São Francisco (UCSF), que resolveram utilizar células adiposas geneticamente modificadas para aumentar a sua capacidade de consumo de energia e colocá-las perto de células cancerígenas para as impedir de se abastecerem das quantidades de nutrientes de que precisam para crescer.

Uma abordagem inovadora que mostrou resultados promissores , segundo o estudo publicado na revista Nature Biotechnology.

A investigação utilizou a tecnologia de edição genética CRISPR para modificar geneticamente células adiposas e aumentar sua capacidade de consumo de energia, convertendo células de gordura branca normais em células de gordura bege, que consomem calorias de forma mais voraz para gerar calor. Os cientistas implantaram essas células modificadas perto de tumores em ratos, num processo semelhante ao usado em cirurgias plásticas para enxertos de gordura.

Os resultados mostraram que as células de gordura absorveram os nutrientes em redor e "mataram de fome" as células tumorais, reduzindo significativamente o crescimento dos tumores. O efeito foi observado até mesmo quando as células de gordura foram implantadas longe do tumor, realçam os investigadores da UCSF.

Os investigadores também testaram a abordagem em organoides adiposos, réplicas tridimensionais de órgãos humanos criadas a partir de células estaminais, e os resultados foram igualmente eficazes contra até cinco tipos de cancro, entre eles o da mama, o do pâncreas e o da próstata.

A equipa também validou a técnica em tecido humano, utilizando amostras de mastectomia em cancro da mama que continham células adiposas e cancerosas.

A investigação foi inspirada por estudos anteriores que indicavam que a exposição ao frio poderia suprimir tumores ao ativar a gordura bege, que queima calorias para gerar calor. Como essa exposição a baixas temperaturas não é viável para pacientes com saúde fragilizada, os cientistas decidiram experimentar modificar diretamente as células de gordura branca para que atuassem como a gordura bege, sem necessidade de baixas temperaturas.

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Além disso, os investigadores conseguiram também programar as células de gordura para consumir nutrientes específicos, adaptando a terapia às preferências metabólicas de diferentes tipos de cancro.

A facilidade com que as células adiposas podem ser retiradas, modificadas e reintroduzidas no organismo, como acontece já em cirurgias plásticas ou lipoaspiração, torna a técnica promissora não apenas para combater o cancro, mas também para tratar outras doenças, como diabetes e distúrbios metabólicos, segundo Nadav Ahituv, diretor do Instituto de Genética Humana da UCSF e professor do Departamento de Bioengenharia e Ciências Terapêuticas, um dos autores do estudo, que não esconde o entusiasmo: "O céu é o limite para estas células de gordura".

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