Com infeções a disparar, a aposta é vacinar e testar

A unidade do Parque das Nações administra 6500 vacinas por dia. Testes realizados por profissionais bateram recordes. Na farmácia Vitex é por ordem de chegada. Associação de Medicina Geral e Familiar alerta para a deterioração dos serviços devido à progressão da Ómicron.. No Centro de Saúde de Sete Rios a semana tem sido calma, não lidam diretamente com os doentes infetados.
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Casa aberta no reforço da vacinação para os que têm 60 anos ou mais e os de 40 e mais que levaram a Janssen. Também para quem apanha a primeira dose: quem teve covid-19, é estrangeiro ou só agora decidiu vacinar-se. Tudo calmo ontem, quarta-feira, no Centro de Vacinação do Parque das Nações, o maior do país e que administra 6500 vacinas por dia. Houve mais gente na segunda e terça-feira, diz o responsável, devido às pessoas que estavam agendadas para o período de Natal e que foram redistribuídas.

Utentes divididos à entrada do centro de vacinação entre os que tem a vacina agendada e os que não o fizeram. A prioridade é dada aos agendamentos, pelo meio vão atendendo os que não tem marcação, sempre em muito menor número. No caso da fila da "casa aberta" estar muito grande é que se é rigoroso no controle dos horários para poder incluir os não agendados, explica Hugo Figueira, da Proteção Civil de Lisboa. "Há quem tenha a vacina marcada para a tarde e apareça de manhã", exemplifica.

Na segunda-feira vacinaram 6533 pessoas e, terça-feira, 6644, números que esperavam manter na quarta-feira. Estão agendados uma média de 5800 pessoas diariamente (há sempre faltas), as restantes são para quem opta pelo regime de "casa aberta".

É o caso de Humberto de Almeida, 79 anos, economista e ex-funcionário bancário. Optou pelo regime de "casa aberta" para levar a 3.ª dose da vacina apesar de o poder fazer por agendamento. "Não sou muito perito nos agendamentos e a minha filha marcou para as 9:55. Era muito cedo e eu disse-lhe que preferia não marcar, não estou limitado a uma hora e a um dia. E acho que fiz muito bem", justifica.

Esta quarta-feira, depois das festas natalícias, o casal resolveu vacinar-se. "Estou encantado, tem um bom parque de estacionamento, está tudo muito bem organizado, não esperei tempo nenhum, nem parecei que estamos em Portugal".

Desde a inauguração do centro instalaram mais dez postos para secretariado, são, agora, 60. Há uma árvore de Natal e ecrãs com paisagens e imagens de Lisboa no meio das cadeiras onde se faz o recobro. "Todos os dias identificamos as situações que estão a correr menos bem e implementamos medidas", explica Hugo Figueira.

Hugo de Almeira passou o Natal só com a mulher e assim vai ser na passagem de Ano Novo. Interrompeu os encontros sociais, incluindo os almoços com os colegas de trabalho às sextas-feiras. Toma todos os cuidados para não se contagiado. "Vale a pena, ficaria com um peso na consciência se alguém ficasse doente".

Terça-feira mais 86 108 pessoas levaram o reforço da vacina, totalizando 2,7 milhões. E mais 5783 completaram a primeira fase de vacinação, 8,7 milhões no total.

Os testes de diagnóstico da covid-19 bateram recordes na quadra natalícia, esperando-se novos máximos hoje e sexta-feira. Vem aí a passagem de ano e, quem quiser sair de casa para um evento mais especial, tem de apresentar um resultado negativo. As farmácias em Lisboa há muito que esgotaram as marcações, a alternativa são os centros de testagem móveis ou os estabelecimento de saúde que não exigem marcação.


Não há agendamentos para realizar testes antigénio na farmácia Vitex, em São Domingos de Benfica, e tem havido sempre filas nesta quadra. Fazem uma média de 300 testes por dia, entre as 09:00 e as 13:00 e, depois do almoço, entre 15:00 e as 18:00.

O dia mais complicado foi 23, espera-se nova enchente para esta quinta-feira, até porque não realizaram testes no dia da consoada e não o irão fazer no último dia de 2021. Também aumenta a frequência de clientes quando há jogos de futebol, informa o funcionário mais antigo que não quer ser citado.

Esta quarta-feira, César Morais, 30 anos, construtor civil, e Sandra Quaresma, 36, lojista, voltaram à fila para realizar um teste antigénio de uso profissional e farão um autoteste dia 31. Vão reunir a família na passagem de ano, "se não surgirem complicações", adverte Sandra. Pagaram 4,60 euros por um autoteste e que no supermercado custa 2,50/2,80, mas estão esgotados. Até aqui, a estratégia de se testarem regularmente na farmácia tem corrido bem.

"Se não é de semana a semana, é de dois em dois dias que fazemos o teste. Preferimos esta farmácia porque tem um melhor serviço, é por ordem de chegada e está tudo muito bem organizado. As pessoas recebem um formulário para preencher e aguardam a sua vez, depois de fazer o teste, esperamos cinco a dez minutos", explica César Morais.

A frequência com que querem saber o diagnóstico da doença prende-se com o agravamento da situação. "Estamos a ver tantos casos que assusta um pouco e, para bem de todos, é bom que os testes se tornem uma rotina, para precaver as situações complicadas", diz César Morais.

No interior da farmácia o atendimento é rápido, apesar de não terem mãos a medir. "As pessoas ainda não perceberam que é para ficar em casa. Perceberam que fazendo os testes podem ir a qualquer lado e não é assim. Temos um horário para realizar os testes e se mais horário houvesse mais fazíamos", observa o funcionário.

Foram já realizados em Portugal mais de 25 milhões de testes de diagnóstico à covid-19, dos quais 16,2 milhões PCR e 8,9 milhões, antigénio de uso profissional. Só nos dias 23 e 24 de dezembro foram, 620 mil.

O Centro de Saúde de Sete Rios está a ter uma semana calma , contrastando com o movimento em outras unidades de saúde. Mas há muito que retomou a atividade normal, os doentes respiratórios estão direcionados para outras áreas, também não fazem a monitorização dos doentes covid-19.

São muito mais as cadeiras fazias que as ocupadas. E, quem chega, é atendido pouco tempo depois. "Isto está muito calmo, é verdade. Tinha algum receio que pudesse encontrar filas mas nada disso", comenta Fernanda Assis, que precisa da prescrição de medicamentos para o marido. "A minha filha é que costuma pedir as receitas pela Internet, eu prefiro vir ao centro de saúde, gosto de falar com a médica, é importante haver um contacto visual", justifica.


Fernanda Assis tem 75 anos, é artista plástica. "Fiz o cauteleiro que está no Largo da Misericórdia, em Lisboa, isto em 1987", orgulha-se. Aproveita a ida ao Centro de Saúde, também para tirar dúvidas sobre a situação do marido, acamado há sete anos. Dúvidas que vai escrevendo à medida que surgem, para que não fiquem sem resposta.

O marido tem 80 anos, tem demência e está imobilizado, é ele a sua grande preocupação. "Quis logo levar a vacina, nem imagino o que lhe poderia acontecer se apanhasse covid. E já levei o reforço, também a vacina da gripe. Temos muito cuidado com ele e felizmente está bem, dentro da sua situação, claro", explica Fernanda. Utiliza o plural referindo-se à médica de família, que considera uma companheira importante nesta luta.

O dia tranquilo do Centro de Saúde de Sete Rios contraste com outras unidades devido à subida das infeções com a variante Ómicron, que representa, agora, 75% dos casos na segunda-feira. "A situação vivida nos centros de saúde está a deteriorar-se, colocando em risco a qualidade dos cuidados prestados aos utentes e indo para além dos limites de resistência dos profissionais que ali desenvolvem a sua atividade", alertou esta terça-feira a direção da da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar.

Consideram "indispensável desenvolver uma campanha de informação junto da população", capaz de garantir que apenas os casos mais graves são canalizados para os centros de saúde e urgências hospitalares". Pedem a definição de diretrizes, "orientadas com clareza para as prioridades em saúde que importa salvaguardar". Exigem uma reflexão sobre os atos administrativos e burocráticos associados à covid-19 "que impõe aos profissionais e implementar estratégias alternativas que possam libertá-los para funções clínicas". Lembram a necessidade de reforçar com meios humanos os cuidados de saúde primários

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